Sobre o Eu Hermeneuticus como pressuposto da hermenêutica ética

Resumo

O objetivo deste artigo é fundamentar o conceito de Eu Hermeneuticus  com base na filosofia de Hans-Georg Gadamer. Assim como podemos falar de um Eu cartesiano ou humeano, pretendo justificar a existência de um Eu hermeneuticus destacando a postura de cada um (Tugend) em relação ao mundo. Embora nem Gadamer nem seus intérpretes tenham cunhado ou discutido esse conceito do ponto de vista da ética, penso que é possível fazê-lo de acordo com a suposição de Heidegger de que nosso modo peculiar de ser é compreender, assim como a visão de Aristóteles de que somos seres linguísticos. Desta forma, pretendo começar a pavimentar o caminho para a construção de uma Ética Hermenêutica. Proponho fazê-lo a partir da conhecida relação triádica Eu-Tu desenvolvida por Gadamer em Verdade e Método I. Inicialmente, descrevo a postura dos dois Eus e mostro que sua forma de se relacionar com o Tu não é hermenêutica. Em seguida, apresento e elaboro o terceiro tipo de relação Eu-Tu sistematizando sete posturas éticas próprias desse eu que constituem o Eu hermeneuticus, que se fundamentam no exercício do eu de se colocar no lugar do outro, sem a intenção de instrumentalizá-la. Por fim, desenvolvo conclusões e implicações éticas e sociopolíticas decorrentes da ação (práxis) do Eu hermeneuticus.