Antropomorfismo nas ilustrações das atividades experimentais da revista Ciência Hoje das Crianças
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7941.2024.e95954Palavras-chave:
Divulgação científica, Obstáculos epistemológicos, Ensino de CiênciasResumo
A presente pesquisa mapeou e caracterizou aspectos antropomórficos de 434 ilustrações presentes em 196 atividades experimentais da revista CHC nas edições de 2009 a 2020. Como aporte teórico utilizamos o referencial bachelardiano por seu potencial para provocar reflexões críticas para a análise de materiais que publicam informações sobre Ciência. O percurso metodológico caracteriza-se como qualitativo e documental e a análise contou com processo de verificação triplo cego. Os resultados evidenciam que a revista não se apoia majoritariamente nesse recurso para atrair seus leitores, uma vez que em mais de dois terços das atividades experimentais não foram encontrados traços antropomórficos. Ainda são escassos os estudos sobre o uso de antropomorfismo no ensino de Física, o que consideramos ser uma lacuna na área, tampouco estudos com o público infantil. Mesmo não havendo consenso quanto ao impacto do uso dessas representações na construção de conceitos científicos, consideramos que seja importante evidenciar sua presença em materiais presentes nas escolas. Assim é crucial que a área de pesquisa em ensino de ciências, no Brasil, se debruce sobre materiais de divulgação para gerar resultados que auxiliem os professores a utilizá-los na construção de conceitos científicos com os estudantes. Como perspectiva de pesquisas futuras, acreditamos ser importante investigações sobre traços antropomórficos nas demais seções da revista e diretamente com estudantes propondo reflexões sobre os limites e possibilidades deste recurso visual para a construção de conceitos científicos.
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