“Palhaçada essa questão de linguagem neutra”: apontamentos e reverberações que implicam no discurso de ódio sobre a linguagem neutra

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-8412.2024.e102436

Palavras-chave:

Discurso de ódio, Linguagem neutra, Fenômeno social, Instagram, Discurso

Resumo

Imersas nas problematizações que empreendem a área da Linguística Aplicada em relação às práticas sociais de linguagem, as discussões neste texto objetivam apontar comentários de uma publicação, em uma rede social, sobre linguagem neutra e possíveis reverberações. Para tanto, mobilizamos noções da ordem do “discurso de ódio” (Butler, 2021), “construção de sentidos sobre linguagem não-binária” (Paraíso e Melo, 2024), “linguagem como fenômeno social” (Rajagopalan, 2023), “experiências online e offline (Signorini e Biondo, 2023)” e linguagem neutra em debate (Barbosa Filho; Othero [et al], 2022). Entendendo a pesquisa qualitativa como princípio relevante para as discussões elencadas neste momento, servimo-nos da netnografia associada à uma página do Instagram, no contexto do nordeste brasileiro, que aborda questões sociais, políticas e culturais. Nesse sentido, compreendemos que há discursos que reproduzem construções ideológico-partidárias hegemônicas que polarizam e evidenciam, consequentemente, um conjunto de atitudes intolerantes às diversidades e que amalgamados em configurações extremistas se associam ao discurso de ódio, alicerçados muitas vezes ao entendimento da gramática tradicional da língua portuguesa como agenda política.

Biografia do Autor

Humberto Soares da Silva Lima, Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e Instituto Federal de Alagoas (IFAL)

Doutorando e Mestre em Linguística, na linha da Linguística Aplicada, pelo Programa de Pós-graduação em Linguística e Literatura (PPGLL), da UFAL e professor do Instituto Federal de Alagoas (IFAL) – campus Piranhas

Referências

BAGNO, M. Objeto língua. 1 ed. São Paulo: Parábola, 2019.

BARBOSA FILHO, F. R.; OTHERO, G. A. (org.). Linguagem “neutra”: língua e gênero em debate. São Paulo: Parábola, 2022.

BERGVALL, V. L. Toward a Comprehensive Theory of Language and Gender. Language in Society, v.28, n. 2, p. 273-293, 1999.

BERTUCCI, P.; ZANELLA, A. Manifesto Ile Para Uma Comunicação Radicalmente Inclusiva. In: SSex BBox. Diversity BBox, 2014. Disponível em: https://diversitybbox.com/manifesto-ile-para-uma-comunicacao-radicalmente-inclusiva/. Acesso em 30 mar. 2024.

BORBA, R. Linguística queer: uma perspectiva pós-identitária para os estudos da linguagem. Revista Entrelinhas. São Leopoldo (RS), v. 9, n. 1, p. 91-107, 2015.

BUTLER, J. Discurso de ódio: uma política do performativo. Tradução: Roberta Fabbri Viscardi. São Paulo: Editora Unesp, 2021.

BUTLER, J. Problemas de gênero - feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

BUTLER, J. Gender Trouble: Feminism and the Subversion of Identity. New York: Routledge, 1990.

HALL, D. E. Queer Theories. Londres: Palgrave, 2003.

KROSKRITY, P. V. Language ideologies. In: DURANTI, A. (ed.). A Companion to Linguistic Anthropology. Blackwell Publishing, 2004. p. 496-517.

LAKOFF, R. Language and Woman’s Place. New York: Harper & Row, 1975.

LAURETIS, T. A tecnologia de gênero. In: HOLLANDA, H. B. (org.). Pensamento feminista: conceitos fundamentais. Rio de Janeiro: Bazar do tempo, 2019, p. 206-242

LEFFA, V. Redes sociais: ensinando línguas como antigamente. In: ARAÚJO, J.; LEFFA, V. (org.). Redes sociais e ensino de línguas: o que temos de aprender? 1. ed. São Paulo: Parábola, p. 137-153, 2016.

LIVIA, A.; HALL, K. (org.). Queerly Phrased: Language, Gender and Sexuality. New York: Oxford University Press, 1997.

LOPES, A. C.; SILVA, D. N. Todos nós semos de frontera: ideologias linguísticas e a construção de uma pedagogia translíngue. Linguagem em (Dis)curso, v. 18, n. 3, p. 695-713, 2018.

MELO, I.; PARAÍSO, G. J. B. Projetos de lei brasileiros sobre linguagem não-binária. Periódicus, Salvador, n. 20, v. 1, p. 255-272, 2024.

MILROY, J. Ideologias linguísticas e as consequências das padronizações. In: LAGARES, X. C.; BAGNO, M. (ed.). Políticas da norma e conflitos linguísticos. São Paulo: Parábola Editorial, 2011.

MOITA LOPES, L. P. (org.). Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola Editorial, 2006.

MOLLICA, M. C.; BATISTA, H. R. Efeitos da web nos estilos monitorados. In: MOLLICA, M. C.; PATUSCO, C.; BATISTA, H. R. (org.). Sujeitos em ambientes virtuais: festschriften para Stella Maris Bortoni-Ricardo. São Paulo: Parábola, 2015. p. 67-85.

OSTERMANN, A. C.; FONTANA, B. (org.). Linguagem. Gênero. Sexualidade: clássicos traduzidos. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.

PAIVA, V. L. M. de O. Manual de pesquisa em estudos linguísticos.. São Paulo: Parábola, 2019.

PENNYCOOK, A. Performativity, and Language Studies. Critical Inquiry in Language Studies: An International Journal, 1/1, p. 1-19, 2004.

RAJAGOPALAN, K. A disciplina chamada linguística aplicada e as contribuições de Luiz Paulo da Moita Lopes. In: FABRÍCIO, B. F.; BORBA, R. (org.). Oficina de Linguística Aplicada INdisciplinar: homenagem a Luiz Paulo da Moita Lopes. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2023. p. 193-212.

SANTOS FILHO, I. I. dos. Afrontas queer/cu-ir: linguagem não binária na escrita acadêmica (implicações políticas e possibilidades). Revista da ABRALIN, v. 20, n. 3, p. 1256-1275, 2021.

SIGNORINI, I.; BIONDO, F. (Des)construções das categorias identitárias mulher “de verdade” e mulher feminista em página do Instagram. In: FABRÍCIO, B. F.; BORBA, R. (org.). Oficina de Linguística Aplicada indisciplinar: homenagem a Luiz Paulo da Moita Lopes. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2023. p. 139-171.

SILVA LIMA, H. S. da. BNCC e diversidade/estudos de gênero: proposta para o ensino de Língua Portuguesa. In: STURM, L.; SOUTO MAIOR, R. C. (org.). A Linguística Aplicada no ensino e aprendizagem e nos estudos discursivos. Tutoia, MA: Diálogos, 2022. p. 212-247.

SILVERSTEIN, M. Monoglot ‘standard’ in America: Standardization and metaphors of linguistic hegemony. In: BRENNEIS, D.; MACAULAY, R. K. S. (ed.). The matrix of language: contemporary linguistic anthropology. Westview, 1996.

SOUTO MAIOR, R. C. A Linguística Aplicada e a implicação na pesquisa: uma leitura bakhtiniana. In: OLIVEIRA JR, M.; MEDEIROS, A. C. M. de (org.). 30 anos do PPGLL/UFAL. Campinas, SP: Pontes Editores, p. 52-77, 2023.

STOKOE, E. H. Talking About Gender: The Conversational Construction of Gender Categories in Academic Discourse. Discourse & Society, v. 9, n. 2, p. 217-240, 1998.

Publicado

2025-03-07

Edição

Seção

Dossiê | Inclusive: Estudos sobre a Linguagem Não-Binária