Letramento racial e técnicas de si
DOI:
https://doi.org/10.5007/1984-8412.2021.e82010Resumo
No dispositivo da racialidade, encena-se a agonística entre o poder racista e a resistência a ele. Este artigo retoma o Movimento da Negritude e suas repercussões para traçar as transformações pelas quais o dispositivo tem passado até chegar às práticas de letramento racial que produzem sujeitos críticos à naturalização da racialização. Nesse percurso, aborda de forma introdutória o conceito de branquitude e os Estudos Críticos da Branquitude. Além disso, relaciona o letramento racial ao conceito foucaultiano de técnicas de si a fim de evidenciar tanto as características de prática e exercício compartilhadas por ambos quanto os efeitos de subjetivação produzidos. Ao longo do artigo, conceitos de Émile Benveniste são empregados para ilustrar a maneira como a intersubjetividade tem papel fundamental na produção da subjetividade.
Referências
BENTO, M. A. S. Branqueamento e branquitude no Brasil. In: CARONE, I.; BENTO, M. A. S. (org.). Psicologia social do racismo. 6. ed. Petropólis: Vozes, 2014. p. 25-58.
BENVENISTE, É. A natureza dos pronomes. [1956]. In: BENVENISTE, É. Problemas de lingüística geral I. Campinas: Pontes, 2005a. p. 277-283.
BENVENISTE, É. Da subjetividade na linguagem. [1958]. In: BENVENISTE, É. Problemas de lingüística geral I. Campinas: Pontes, 2005b. p. 284-293.
BENVENISTE, É. Estruturalismo e linguística. [1968]. In: BENVENISTE, É. Problemas de lingüística geral II. Campinas: Pontes, 2006. p.11-28.
BUTLER, J. Relatar a si mesmo: crítica da violência ética. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.
CARNEIRO, A. S. A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. 2005. 339 f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005. Disponível em: https://negrasoulblog.files.wordpress.com/2016/04/a-construc3a7c3a3o-do-outro-como-nc3a3o-ser-como-fundamento-do-ser-sueli-carneiro-tese1.pdf . Acesso em: 19 mar. 2021.
CARONE, I. Breve histórico de uma pesquisa psicossocial sobre a questão racial brasileira”. In: CARONE, I.; BENTO, M. A. S. (org.). Psicologia social do racismo. 6. ed. Petropólis: Vozes, 2014. p. 13-24.
CARVALHO, E.; SCHWARCZ, L.. PodEntrar: entrevista de Lilia Schwarcz a Eduardo Carvalho. Instagram @educarvalhol, 3 ago. 2020. Disponível em: .https://www.instagram.com/p/CDcXH61pgVZ. Acesso em: 24 abr. 2021.
CARDOSO, C. P. Amefricanizando o feminismo: o pensamento de Lélia Gonzalez. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 22, n. 3, p. 965-986, set./dez. 2014. Quadrimestral. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/36757. Acesso em: 12 jul. 2021.
CARDOSO, L. Branquitude acrítica e crítica: A supremacia racial e o branco anti-racista. Revista Latinoamericana de Ciencias Sociales, Niñez y Juventud. jan. 2010, v.8, n.1, p. 607-630. Disponível em: http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1692-715X2010000100028&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 3 maio 2021.
CÉSAIRE, A. Discurso sobre a Negritude. Belo Horizonte: Nandyala, 2010.
CÉSAIRE, A. Discurso sobre o colonialismo. São Paulo: Veneta, 2020.
DA MATTA, R. Notas sobre o racismo à brasileira. In: SOUZA, J. (org.) Multiculturalismo e racismo. Brasília: Paralelo 15, 1997. p.13-21.
DOMINGUES, P. Movimento da Negritude: uma breve reconstrução histórica. Mediações: Revista de Ciências Sociais, Londrina, v. 10, n. 1, p. 25-40, jan./jun. 2005.
DUBOIS, W. E. B. As almas do povo negro. São Paulo: Veneta, 2021 [1903].
DUBOIS, W. E. B. Black reconstruction in America. [1935] London: Transaction Publishers, 2013.
FANON, F. Peles negras, máscaras brancas. São Paulo: Ubu, 2020.
FOUCAULT, M. As técnicas de si. In: FOUCAULT, M. Ditos e escritos: IX. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2014. p. 264-296.
FOUCAULT, M. A história da sexualidade 1: a vontade de saber. São Paulo: Graal, 2006.
FOUCAULT, M. Nietzsche, a genealogia e a história. In: FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1998. p.15-37.
FOUCAULT, M. O sujeito e o poder. In: DREYFUS, D.; RABINOW, P. Michel Foucault: uma trajetória filosófica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995. p.231-249.
FOUCAULT, M. Genealogia del racismo. Buenos Aires: Allamira, 1993.
FOUCAULT, M. Le jeu de Foucault. [Entrevista concedida a COLAS, D.; GROSRICHARD, A.; LE GAUFEY,G. ; LIVI, J.; MILLER, G.; MILLER, J.; MILLER, J.-A.; MILLOT, A.; WAJEMAN, G. Bulletin Périodique du champ freudien, n. 10, p. 62-93, jul. 1977.
FRANKENBERG, R. A miragem de uma branquidade não-marcada. In: WARE, V. (org.). Branquidade: identidade branca e multiculturalismo. Rio de Janeiro: Garamond Universitária; Centro de Estudos Afro-Brasileiros, 2004. p. 307-338.
FRY, P. O que a cinderela negra tem a dizer sobre a “política racial” no Brasil. Revista USP, n. 28, p. 122-135, 1995-1996.
GONZALEZ, L. Cultura, etnicidade e trabalho. In: GONZALEZ, L. Primavera para as rosas negras. São Paulo: União dos Coletivos Pan-Africanistas , 2018 [1979]. p. 54-76.
GONZALEZ, L. Racismo e sexismo na cultura brasileira. In: GONZALEZ, L. Primavera para as rosas negras. São Paulo: União dos Coletivos Pan-Africanistas, 2018 [1980]. p. 103-108.
GONZALEZ, L. A mulher negra na sociedade brasileira. In: GONZALEZ, L. Primavera para as rosas negras. São Paulo: União dos Coletivos Pan-Africanistas, 2018 [1981a]. p. 34-53.
GONZALEZ, L. Mulher negra. In: GONZALEZ, L. Primavera para as rosas negras. São Paulo: União dos Coletivos Pan-Africanistas, 2018 [1981b]. p.103-108.
GONZALEZ, L. Democracia racial? Nada disso! In: GONZALEZ, L. Primavera para as rosas ne.gras. São Paulo: União dos Coletivos Pan-Africanistas, 2018 [1981c]. p. 109-111.
GONZALEZ, L. A democracia racial: uma militância. In: GONZALEZ, L. Primavera para as rosas negras. São Paulo: União dos Coletivos Pan-Africanistas, 2018 [1985]. p. 255-257.
GROSFOGUEL, R. A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/epistemicídios do longo século XVI. Sociedade e Estado, Brasília, v. 31, n. 1, p. 25-49, jan. 2016.
HAMILTON Mourão diz que não existe racismo no Brasil. Deutsche Welle. [on-line]. nov. 2020. Disponível em: https://p.dw.com/p/3ldRN. Acesso em: 4 maio 2021.
HOFBAUER, A. Branqueamento e democracia racial – sobre as entranhas do racismo no Brasil. In: ZANINI, M. C. C. (org.). Por que “raça”?: breves reflexões sobre a questão racial, no cinema e na antropologia. Santa Maria: Ed. UFSM, 2007. p.151-188.
GUERREIRO RAMOS, A. Patologia social do ‘branco’ brasileiro”. In: GUERREIRO RAMOS, A. Introdução crítica à sociologia brasileira. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1957.
KILOMBA, G. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.
LUCCHESI, D. Ciência ou dogma? O caso do livro do MEC e o ensino de língua portuguesa no Brasil. Revista Letras, Curitiba, v. 83, p. 163-187, jun. 2011. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/letras/article/view/24713. Acesso em: 19 maio 2021.
MAIO, M. C. O Projeto Unesco e a agenda das ciências sociais no Brasil dos anos 40 e 50. Rev. bras. Ci. Soc., São Paulo , v. 14, n. 41, p. 141-158, out. 1999. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-69091999000300009&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 4 maio 2021.
MBEMBE, A. Crítica da razão negra. Trad. Sebastião Nascimento. São Paulo: n-1 Edições, 2018.
MOORE, C. Racismo e sociedade. Belo Horizonte: Nandyala, 2012.
MOORE, C. Prefácio. In: CÉSAIRE, A. Discurso sobre a Negritude. Belo Horizonte: Nandyala, 2010. p.7-38.
MUNANGA, K. Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, identidade e etnia. Palestra proferida no 3o Seminário Nacional Relações Raciais e Educação - PENESB-RJ, Rio de Janeiro, 2004. Disponível em: https://www.ufmg.br/inclusaosocial/?p=59. Acesso em: 20 fev. 2019.
RATTS, A.; RIOS, F. Lélia Gonzalez. São Paulo: Selo Negro, 2010. (Retratos do Brasil Negro).
SCHUCMAN, L. Entre o "encardido", o "branco" e o "branquíssimo": raça, hierarquia e poder na construção da branquitude paulistana. 2012. 100 f. Tese (Doutorado) –Curso de Psicologia Social, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.
SCHUCMAN, L. Aula: Branquitude e Estudos Críticos da Branquitude – Disciplina do Curso de Psicologia Social, Instituto de Psicologia, Universidade Federal de Santa Catarina, 2020.
SCHWARCZ, L. Nem preto nem branco muito pelo contrário: cor e raça na intimidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
SILVA, C. L. da C. A instauração da criança na linguagem: princípios para uma teoria enunciativa em aquisição da linguagem. 2007. 293 f. Tese (Doutorado) – PPG em Estudos da Linguagem, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007. Disponível em: http://hdl.handle.net/10183/10407. Acesso em: 20 mar. 2021.
SOVIK, L. Por que tenho razão: branquitude, estudos culturais e a vontade de verdade acadêmica. Contemporânea: Revista de Comunicação e Cultura, [s. l], v. 3, n. 2, p. 159-180, 2005. Disponível em: https://www.academia.edu/1208769/Por_que_tenho_raz%C3%A3o_branquitude_Estudos_Culturais_e_a_vontade_de_verdade_acad%C3%AAmica. Acesso em: 18 maio 2021.
TWINE, F. W.; STEINBUGLER, A. The gap between whites and whiteness: interracial intimacy and racial literacy. Du Bois Review: Social Science Research on Race, New York, v. 2, n. 3, p. 341-363, ago. 2006. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/231775543_The_gap_between_whites_and_whiteness_Interracial_Intimacy_and_Racial_Literacy. Acesso em: 26 mar. 2021.
VEYNE, P. Foucault: seu pensamento, sua pessoa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Os trabalhos publicados passam a ser de direito da Revista Fórum Linguístico, ficando sua reimpressão, total ou parcial, sujeita à autorização expressa da Comissão Editorial da revista. Deve ser consignada a fonte de publicação original.
Esta publicação está regida por uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
