Do pertencimento ao zoneamento compulsório: (o) caso do Parque Nacional Superagui
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-8034.2025.e101227Palavras-chave:
Povos e Comunidades Tradicionais, Parque Nacional de Superagui, Unidades de Conservação, Desenvolvimento sustentávelResumo
As áreas de proteção ambiental frequentemente abrigam povos e comunidades tradicionais com ocupação anterior às legislações que as instituíram. Este artigo teve o objetivo de analisar como o plano de manejo do Parque Nacional do Superagui, ao implementar um modelo de conservação com lacunas na consideração das práticas e direitos locais, desconsiderando o impacto positivo que povos e as comunidades tradicionais podem trazer à preservação da área, intensificou conflitos socioambientais e a vulnerabilidade da população humana que nele habita. A pesquisa, estudo de caso, utilizou de revisão bibliográfica complementada por entrevistas e observação direta e análise integrada dos dados, com princípios recomendados pela etnografia. Os resultados evidenciam que a gestão do parque gerou desvalorização cultural, insegurança territorial, restrições à subsistência e culpabilização dos moradores por problemas ambientais. Conclui-se pela urgência de estratégias de gestão que sejam dialógicas, respeitem os modos de vida tradicionais e integrem os saberes locais para uma conservação efetivamente justa e sustentável.
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