Silenciamento de mulheres jornalistas: gênero, violência e autointerdição

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-6924.2024.100831

Palavras-chave:

mulheres jornalistas, violência de gênero, autointerdição

Resumo

A violência contra mulheres jornalistas constitui um fenômeno global e multifacetado presente em diferentes países e que vem acendendo um alerta sobre os riscos ao exercício do jornalismo e à liberdade de expressão. Este artigo buscou analisar como o gênero e as relações de poder que estruturam as agressões contra mulheres jornalistas desempenham um papel central no silenciamento das profissionais. A partir da análise dos relatos de quatro mulheres jornalistas em entrevistas concedidas à imprensa, observamos o deslocamento do ethos jornalístico após a experiência de se tornarem vítimas de agressões, passando a restringir ou até mesmo interditar seus discursos. Em diálogo com os conceitos de pós-censura (Costa; Souza Júnior, 2018), autocensura (Fígaro; Nonato, 2016) e censura de multidões (Waisbord, 2020), denominamos este processo autointerdição.

Biografia do Autor

Giovana Kebian, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura na Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGCOM/UFRJ). Bolsista no programa FAPERJ - Mestrado Nota 10. Jornalista formada pela ECO/UFRJ. Integrante do Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura (Obcom/USP) e do Núcleo de Estudos em Comunicação, História e Saúde (Nechs/Fiocruz). 

Igor Sacramento, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Doutor (2012) e mestre (2008) em Comunicação e Cultura pela Escola
de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ), pesquisador do
Laboratório de Pesquisa em Comunicação e Saúde do Instituto de Comunicação e Informação
Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Laces/Icict/Fiocruz) e
professor do quadro permanente dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGCOM/UFRJ) e em Informação e Comunicação
em Saúde (PPGICS). Na UFRJ, atua como pesquisador do Núcleo de Estudos e Projetos em
Comunicação (NEPCOM/ECO/UFRJ). Na Fiocruz, é coordenador do PPGICS e trabalha como
editor científico da Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde
(RECIIS).

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Publicado

2024-12-30