Reprimarização, política pública do trabalho e superexploração no Brasil: revisitando Ruy Mauro Marini

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/1982-0259.2023.e92724

Palavras-chave:

Reprimarização, Dependência, Superexploração

Resumo

O objetivo deste artigo é caracterizar o processo de reprimarização da pauta exportadora brasileira, sua repercussão sobre a política pública trabalhista e o aprofundamento da exploração da força de trabalho no Brasil. Quando “Dialética da Dependência”, de Ruy Mauro Marini, completa 50 anos, observa-se sua atualidade para apreender o processo pelo qual o Brasil vem passando a partir de sua reinserção na economia mundial. A pesquisa documental trabalha com dados do comércio exterior e com os novos marcos legais do trabalho. Na pesquisa bibliográfica, recorre-se à teoria da dependência, com ênfase na obra de Marini. Como resultado, identificam-se o processo de reprimarização da pauta exportadora e a nova ordem legal das relações trabalho/capital, configurando-se no Brasil o ambiente propício a níveis especialmente elevados de intensidade e extensão da jornada de trabalho, dois mecanismos frequentes de superexploração.

Biografia do Autor

Agatha Justen, Universidade Federal Fluminense

Agatha Justen é professora adjunta do Departamento de Administração da Universidade Federal Fluminense (área: Administração Pública). Atualmente é coordenadora do curso de graduação em Administração Pública (Niterói) da mesma instituição. É docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Administração da mesma instituição - PPGAd/UFF - na linha "Estado, Organizações e Sociedade". É pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Administração Pública (CNPq) e também do GT "Geopolítica, Integración Regional y Sistema Mundial" do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais - CLACSO. É doutora e mestre em Administração (concentração em Administração Pública) pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas, da Fundação Getúlio Vargas. É também Mestre pelo Programa de Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento, com concentração em Governança e Políticas Públicas, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e graduada em Ciências Sociais pela mesma instituição. Desenvolve pesquisas sobre Estado, democracia participativa, controle social, crises do capitalismo e ideologia.

Claudio Gurgel, Universidade Federal Fluminense

É economista, com Especialização em Administração, pela PUC/RJ, mestrado em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas - RJ (1993), mestrado em Ciência Política pela Universidade Federal Fluminense (1998) e doutorado em Educação pela UFF (2002). Professor Titular da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis, da Universidade Federal Fluminense, atuando na pós-graduação stricto sensu. Tem experiência na área de Administração, com ênfase em Administração Pública, especialmente em teorias e estudos organizacionais e políticas públicas econômicas e sociais. É coordenador do Grupo de Pesquisa em Administração Pública da UFF/CNPq. Publicou 7 livros: Estrelas e borboletas - origens e questões de um partido a caminho do poder; Evolução do Pensamento Administrativo, A Gerência do Pensamento - gestão contemporânea e consciência neoliberal, Administração - Elementos essenciais para a gestão das organizações, com Martius Rodriguez, Estado, organização e pensamento social brasileiro, com Paulo Emílio Martins; Gestão democrática e Serviço Social, com Rodrigo Souza Filho e Política de cotas e inclusão social na universidade brasileira: a experiência da Universidade Federal Fluminense, com Teresa Bezerra, Daniela Alcântara e Juliana Santiago.

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Publicado

2023-10-20