“Desalentadas”: subjetivação em dizeres sobre as mulheres que desistiram de procurar trabalho

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/1982-02592020v23n3p707

Resumo

O presente trabalho tem por objetivo refletir sobre os processos de subjetivação que se materializam em dizeres sobre mulheres designadas como desalentadas. Sob a ancoragem na Análise do Discurso filiada a Michel Pêcheux, são recortados enunciados de reportagens que circularam na mídia em 2018/2019 tratando do desalento, nas expressões recentes do desemprego no país. As SDs analisadas permitiram investigar a posição-sujeito do discurso, bem como os processos de subjetivação do desalento. Identificou-se que a designação “desalentadas” é constitutiva no discurso sobre, comparecendo como efeito de conclusão, sendo a sua subjetivação constitutiva enquanto contra-identificação na formação discursiva do desemprego. Há um caráter momentâneo implícito no discurso sobre mulheres consideradas como desalentadas, com componente individual e influência do discurso do empreendedorismo e do discurso religioso, funcionando enquanto interdiscursos, que produzem efeito de esperança, embora com uma relação de dependência do processo histórico em curso.

Biografia do Autor

Sóstenes Ericson, Universidade Federal de Alagoas

Programa de Pós-Graduação em Linguística e Literatura - PPGLL; Faculdade de Letras - FALE

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Publicado

2020-10-05