(In)segurança alimentar e agricultura familiar: políticas públicas como estratégia de superação da fome

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/1982-0259.2022.e86341

Palavras-chave:

Segurança alimentar, Agricultura familiar, Políticas públicas, Pandemia, Fome

Resumo

32 milhões de brasileiros sofriam com a fome na década de 1990. Para dirimir este problema a implantação de políticas públicas de fomento à agricultura familiar no país foi uma das ações mais eficazes. Desde 2015, os recursos destinados a tais políticas reduziram drasticamente, gerando descontinuidade no fornecimento de alimentos a entidades e usuárias(os) dos programas, perdas na renda de agricultoras(es) e insegurança alimentar, situações agravadas com a pandemia de Covid-19. Partindo dos conceitos de segurança alimentar, agricultura familiar e políticas públicas este artigo objetiva compreender os rebatimentos do desinvestimento das políticas públicas e da pandemia no cotidiano de agricultoras(es) familiares de Barbalha-CE. Prosseguiu-se com o exame de documentos públicos, entrevistas, observações e conversas no cotidiano com agricultoras(es), cujos dados foram compreendidos a partir da análise de práticas discursivas. Os resultados assinalam dificuldades das(os) trabalhadoras(es) em acessar serviços públicos, produzir, comercializar e garantir a segurança alimentar de suas famílias.

Biografia do Autor

Maria Laís dos Santos Leite, Universidade Federal do Cariri – UFCA; Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

Doutoranda em Psicologia (2018-em andamento) pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN. Mestra em Desenvolvimento Regional Sustentável (2014-2016) pela Universidade Federal do Cariri - UFCA. Graduada em Psicologia com ênfase em Psicologia e Processos de Gestão pelo Centro Universitário Leão Sampaio - UniLeão (2008-2012) com bolsa pelo ProUni - Programa Universidade para Todos. Servidora técnico-administrativa da Universidade Federal do Cariri - UFCA, onde exerceu de fevereiro de 2016 a junho de 2017 a função de Coordenadora de integração e articulação com a comunidade da Pró-Reitoria de Extensão. Ocupa, desde 2019, a função de Coordenadora adjunta do Grupo Impulsor da Rede Latino-americana de Psicologia Rural. Propôs e coordena, desde 2017, o Laboratório de Estudos em Políticas Públicas do Cariri - LEPP Cariri. Propôs e coordenou de 2015 a 2018 o Programa de Extensão Paidéia Cidade Educadora e de 2017 a 2018 o Projeto de extensão Fomento ao desenvolvimento rural sustentável. Tem atuado principalmente na pesquisa e extensão universitária na área de Psicologia Social e Comunitária e suas articulações com políticas públicas, gênero, agricultura familiar, economia solidária e contextos rurais.

Jáder Ferreira Leite, Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Graduado em Psicologia pela Universidade Estadual da Paraíba (1998); mestrado em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2003), doutorado em Psicologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2008) e estágio pós-doutoral junto ao Núcleo de Psicologia Comunitária (NUCOM) da Universidade Federal do Ceará (2014) e ao Grupo de Estudos Gênero e Masculinidades (GEMA) da Universidade Federal de Pernambuco (2020). É professor associado II, vinculado ao Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, com atuação na graduação e pós-graduação (orientações de mestrado e doutorado). Presidente da Associação Brasileira de Psicologia Política (Gestão 2017 - 2018), coordenador e membro do GT Saúde Comunitária da ANPEPP (2017-2018). Membro da diretoria da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP) para o biênio 2021/2022 (tesoureiro). Atua no campo da Psicologia social e política a partir dos temas: movimentos sociais e contextos rurais, produções de sentidos e ruralidades.

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Publicado

2022-08-30