A grande fronteira: Amazônia e a formação do sistema agroextrativista global

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Resumo

Este artigo situa a Amazônia no processo histórico de formação da fronteira extrativa agrária, a partir da dinâmica de apropriação da terra e do território, extração de recursos e exploração do trabalho, que se inicia no período colonial, moldando o desenvolvimento do capitalismo no Brasil. A análise foi realizada tendo três eixos principais: i) a formação da
fronteira extrativa agrária e a inserção da Amazônia nesse processo histórico; ii) a natureza extrativa da economia neoliberal, a partir do conceito de acumulação por espoliação; iii) a compreensão do subdesenvolvimento da Amazônia, a partir da ruptura dos sistemas ecológicos, sociais e produtivos, provocada pelos sucessivos ciclos extrativos que marcaram a inserção da região na economia global. Tais processos abriram caminho para a apropriação generalizada dos recursos e espoliação das comunidades amazônicas, atendendo às demandas de acumulação do capital extrativo agrário, em um contexto histórico de radicalização do neoliberalismo.

Biografia do Autor

Gabriel Domingues, Universidade de Brasília

Mestre em Ecologia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável (PPGCDS), da Universidade de Brasília (UnB)

Sérgio Sauer, Universidade de Brasília

Doutor em Sociologia (PPG-SOL) pela Universidade de Brasília (UnB)
Professor da Universidade de Brasília (UnB), Faculdade UnB Planaltina, Programa de Pós-Graduação em
Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural (PPG-Mader) e PPGCDS

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Publicado

2021-09-28