A literatura para além/aquém da linguagem: algumas questões em torno da literatura brasileira de autoria de mulheres negras
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7917.2024.e98299Palavras-chave:
história da literatura, literatura brasileira, literatura de autoria feminina negraResumo
As contribuições de Teresa de Lauretis (2019) no que diz respeito às concepções culturais de masculino e feminino, que formam um sistema de gênero, produzem um sistema simbólico ou de significações responsável por organizar valores e hierarquias culturais sobre os conteúdos culturais. Dessa maneira, o “sistema sexo-gênero” (Lauretis, 2019) relaciona-se tanto a fatores políticos quanto econômicos nas sociedades, motivo pelo qual, na senda das reflexões de Norma Telles (1992), gênero importa sempre, assim como raça, classe, sexualidade etc. Ao passo que tanto o sistema sexo-gênero quanto o colonial, interferem nos modelos de conhecimento e de relacionamento, os quais estão estruturados de maneira a produzirem vantagens para algumas pessoas e (muitas) desvantagens para outras, este trabalho pretende tomar a literatura brasileira produzida, sobretudo, nos últimos séculos por mulheres – com ênfase à de autoria negra – como campo profícuo para tensionar esses sistemas. Se figuras como Maria Firmina dos Reis e Carolina Maria de Jesus – entre tantas outras escritoras negras obliteradas pela crítica e pelo tempo – são exemplares para o debate ensejado, Conceição Evaristo e, mais recentemente, Marilene Felinto, Cristiane Sobral, Jarid Arraes – para citar alguns nomes – contribuíram e têm contribuído na produção de rupturas, de contranarrativas para uma prática disruptiva do cânone.
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