A bactéria da desconfiança: da inépcia à perplexidade

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-7984.2020v19n44p117

Resumo

O surto de legionella ocorrido no município de Vila Franca de Xira caracterizou-se por controvérsias públicas e científicas, pela desconfiança nos sistemas de monitorização e por um processo judicial moroso que adicionar ainda mais desconfiança na comunidade. Neste artigo avança-se com alguns resultados de um workshop participativo que juntou cerca de três dezenas de pessoas para refletir sobre as suas consequências. Do processo deliberativo pode concluir-se que as vulnerabilidades ambientais se juntam a vulnerabilidades sociais pré-existentes, num intrincado social difícil de destrinçar, mas que parece ter sido delimitado por meios de definição de risco pouco adaptados à realidade. Concluiu-se que as “relações de definição do risco” presentes testemunham um divórcio claro entre conhecimento técnico e leigo e subverteram a lógica sistémica da sustentabilidade e da convenção de Aahrus.

Biografia do Autor

João Guerra, Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa)

João Guerra é doutorado em Ciências Sociais (2011) pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa). Entre 2012 e 2018, desenvolveu um projeto de pós-doutoramento (SFRH / BPD / 78885 / 2011) com foco na prossecução da sustentabilidade: i) em comunidades marginalizadas (Bela Vista, Setúbal, 2012-2014) e ii) em comunidades afetadas por eventos traumáticos (Vila Franca de Xira, 2015-2017). Entre 2018 e 2019 foi Professor Visitante Estrangeiro na Universidade Federal de Santa Catarina/ Brasil e a partir de 2019 regressou ao ICS-ULisboa como investigador auxiliar e coordenador do Seminário de Alterações Climáticas e Ciências da Sustentabilidade no Programa de Doutoramento em Alterações Climáticas aí em curso. É membro do Grupo de Investigação em Ambiente, Território e Sociedade do ICS-ULisboa, do OBSERVA – Observatório de Ambiente, Sociedade e Território e, ainda da equipa coordenadora da Secção Ambiente & Sociedade da Associação Portuguesa de Sociologia.

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Publicado

2020-04-30

Edição

Seção

Dossiê Temático