“Todas as vezes que você se omite, você acaba condenando Cristo”: analisando os poderes causais da religião na construção do ativismo.

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-7984.2024.e96353

Palavras-chave:

Religião, Poderes causais, Ativismo, Participação política

Resumo

Apesar da recorrente identificação e análise da presença e atuação de agentes e elementos religiosos na conformação da participação política no Brasil, observa-se uma tendência na literatura que tende a dificultar e, no limite, obstaculizar uma compreensão mais aprofundada dessa presença e atuação: a apreensão da religião como um “recurso” que é utilizado de forma instrumental nos processos de organização e mobilização social, especialmente entre os segmentos subalternizados da sociedade.  O objetivo do presente artigo é problematizar essa tendência, que tende a desconsiderar a especificidade da religião e, dessa forma, limitar a compreensão da forma como operam os agenciamentos religiosos nos processos de construção da participação política. Assim, as perguntas que orientam a argumentação desenvolvida no artigo são: Quais os poderes causais específicos da religião na construção da participação política? Mais especificamente, como ela atua nos processos de construção do ativismo? Para responder a esses questionamentos, o artigo apresenta argumentos sobre os poderes causais específicos da religião nos processos de construção do ativismo e exemplifica a operação desses poderes causais por meio da análise de pregações mobilizadoras de dois representantes do conservadorismo religioso brasileiro.

Biografia do Autor

Marcelo Kunrath Silva, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Dados do autor: Doutor em Sociologia (UFRGS), Professor titular do Departamento de Sociologia/UFRGS; Professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Sociologia/UFRGS; Coordenador do Grupo de Pesquisa Associativismo, Contestação e Engajamento (GPACE). Orcid: 0000-0003-2817-0856. Email: mksilva@ufrgs.br.

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Publicado

2024-09-13

Edição

Seção

Dossiê Temático