“Todas as vezes que você se omite, você acaba condenando Cristo”: analisando os poderes causais da religião na construção do ativismo.
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7984.2024.e96353Palavras-chave:
Religião, Poderes causais, Ativismo, Participação políticaResumo
Apesar da recorrente identificação e análise da presença e atuação de agentes e elementos religiosos na conformação da participação política no Brasil, observa-se uma tendência na literatura que tende a dificultar e, no limite, obstaculizar uma compreensão mais aprofundada dessa presença e atuação: a apreensão da religião como um “recurso” que é utilizado de forma instrumental nos processos de organização e mobilização social, especialmente entre os segmentos subalternizados da sociedade. O objetivo do presente artigo é problematizar essa tendência, que tende a desconsiderar a especificidade da religião e, dessa forma, limitar a compreensão da forma como operam os agenciamentos religiosos nos processos de construção da participação política. Assim, as perguntas que orientam a argumentação desenvolvida no artigo são: Quais os poderes causais específicos da religião na construção da participação política? Mais especificamente, como ela atua nos processos de construção do ativismo? Para responder a esses questionamentos, o artigo apresenta argumentos sobre os poderes causais específicos da religião nos processos de construção do ativismo e exemplifica a operação desses poderes causais por meio da análise de pregações mobilizadoras de dois representantes do conservadorismo religioso brasileiro.
Referências
BAIERLE, S. G. Um novo princípio ético-político: prática social e sujeito nos movimentos populares urbanos em Porto Alegre nos anos 80. 1992. 397f. Dissertação (Mestrado em Ciência Política) – Programa de Pós-Graduação em Ciência Política, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1992.
BARROS, S. Messianismo e violência de massas no Brasil. São Paulo: Civilização Brasileira, 1986.
BECKFORD, J. A. Social Movements as Free-floating Religious Phenomena. In: FENN, R. K. (ed.). The Blackwell Companion to Sociology of Religion. Malden: Blackwell Publishing, 2001. p. 229-248.
BERGER, P. L. O dossel sagrado: elementos para uma teoria sociológica da religião. São Paulo: Ed. Paulinas, 1985.
BORBA, J; RIBEIRO, E. Participação convencional e não convencional na América Latina. Revista Latinoamericana de Opinión Pública, Buenos Aires, v. 1, p. 1-24, 2010.
BOSCHI, R.R. (org.) Movimentos Coletivos no Brasil Urbano. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.
BROWN, R. K; BROWN, R. E. Faith and Works: Church-Based Social Capital Resources and African American Political Activism. Social Forces, v. 82, n. 2, p. 617-641, dez. 2003.
BURITY, J. A. Redes Sociais e o Lugar da Religião no Enfrentamento de Situações de Pobreza: um acercamento preliminar. Cadernos de Estudos Sociais, Recife, v. 16, n. 1, p. 29-53, 2000.
BURITY, J. A. Religião e lutas identitárias por cidadania e justiça: Brasil e Argentina. Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, v. 45, n. 3, p. 183-195, 2009.
CONRADO, F. Mudanças no campo religioso... Mudanças na “sociedade civil”: religião, assistência e cidadania. Pos-Escrito, ano I, n. 3, p. 1-13, 2009.
DELEHANTY, J. D. Prophets of Resistance: Social Justice Activists Contesting Comfortable Church Culture. Sociology of Religion, v. 77, n. 1, p. 37-58, 2016.
DILLON, M. (ed.). Handbook of the Sociology of Religion. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.
DOIMO, A. M. Movimento social urbano, igreja e participação popular. Petrópolis: Vozes, 1984.
DOIMO, A. M. A vez e a voz do popular: movimentos sociais e participação política no Brasil pós-70. Rio de Janeiro: Relume-Dumará; ANPOCS, 1995.
FARRELL, J. Environmental Activism and Moral Schemas: Cultural Components of Differential Participation. Environment and Behavior, v. XX, n. X, p. 1-25, 2011.
FAVER, C A. To Run and Not Be Weary: Spirituality and Women’s Activism. Review of Religious Research, v. 42, n. 1, p. 61-78, 2000.
FLEETWOOD, S. The ontology of organisation and management studies: A critical realist approach. Organization, v. 12, n. 2, p. 197-222, 2005.
GAIGER, L. I. G. Agentes religiosos e camponeses sem terra no sul do Brasil. Petrópolis: Vozes, 1987.
GAMSON, W. B.; FIREMAN, B.; RYTINA, S. Encounters with unjust authorities. Illinois: The Dorsey Press, 1982.
HOOGHE, M. Defining political participation: How to pinpoint an elusive target?. Acta Politica, v. 49, n. 3, p. 338-341, 2014.
HOSCH-DAYICAN, B. Online political activities as emerging forms of political participation: How do they fit in the conceptual map?. Acta Politica, v. 49, n. 3, p. 342-346, 2014.
KOWARICK, L. (org.). As lutas sociais e a cidade: São Paulo passado e presente. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
KRISCHKE, P.; MAINWARING, S. (org.). A igreja nas bases em tempo de transição (1974-1985). Porto Alegre: L&PM/CEDEC, 1986.
IE Nova Aliança. YouTube, 2023. Disponível em: https://www.youtube.com/@IENovaAlianca. Acesso em: 14 ago. 2023.
LÜCHMANN, L. H. H.; ALMEIDA, C.; TABORDA, L. do R. Associativismo no Brasil contemporâneo: dimensões institucionais e individuais. Política & Sociedade, Florianópolis, v. 17, n. 40, p. 307-341, 2018.
LÜCHMANN, L. H. H.; SCHAEFER, M. I.; NICOLETTI, A. S. Associativismo e repertórios de ação político-institucional. Opinião Pública, v. 23, n. 2, p. 361-396, 2017.
MARIZ, C. L. A Teologia da Batalha Espiritual: Uma Revisão da Bibliografia. BIB, Rio de Janeiro, n. 47, p. 33-48, 1999.
McCARTHY, J. D.; ZALD, M N. Resource Mobilization and Social Movements: A Partial Theory. The American Journal of Sociology, v. 82, n. 6, p. 1212-1241, 1977.
MEDEIROS, L. S. de. História dos movimentos sociais no campo. Rio de Janeiro: FASE, 1989.
MOORE JR., B. Injustiça: as bases sociais da obediência e da revolta. São Paulo: Brasiliense, 1987.
NAVARRO, Z. (org.). Política, protesto e cidadania no campo: as lutas sociais dos colonos e dos trabalhadores rurais no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 1996.
NEGRÃO, L. N. Revisitando o messianismo no Brasil e profetizando seu futuro. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 16, n. 46, p. 119-129, 2001.
Nova Aliança Ágape. O Cristão e a Política. Nikolas Ferreira. YouTube, 2023. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=S8guN4ZC1rU. Acesso em: 14 ago. 2023.
PEREIRA, J. B. B.; QUEIROZ, R. da S. (org.). Messianismo e milenarismo no Brasil. São Paulo: EDUSP, 2015.
PLEYERS, G. A “Guerra dos Deuses” no Brasil: da Teologia da Libertação à eleição de Bolsonaro. Educação & Sociedade, v. 41, p 1-17, 2020.
QUEIROZ, M. I. P. de. Aspectos gerais do messianismo. Revista de Antropologia, v. 8, n. 1, p. 63-76, 1960.
QUEIROZ, M. V. de. Messianismo e conflito social: a Guerra Sertaneja do Contestado – 1912- 1916. 3. ed. São Paulo: Ática, 1981.
SADER, E. Quando Novos Personagens Entraram em Cena. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
SAWICKI, F.; SIMÉANT, J. Inventário da sociologia do engajamento militante: nota crítica sobre algumas tendências recentes dos trabalhos franceses. Sociologias, Porto Alegre, v. 13, p. 200-255, 2011.
SCHELIGA, E. L. Educando sentidos, orientando uma práxis etnografia das práticas assistenciais de evangélicos brasileiros. 2013. 278 f. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013.
SCOTT, J. C. The Moral Economy of the Peasant: rebellion and subsistence in Southeast Asia. New Haven and London: Yale University Press, 2006.
SEIDL, E. Disposições a militar e lógica de investimentos militantes. Pro-Posições, v. 20, n. 2, p. 21-39, 2009a.
SEIDL, E. Escolarização e Recursos Culturais na Composição de Carreiras Militantes. Cadernos CERU, São Paulo, série 2, v. 20, n. 1, p.155-169, 2009b.
Silas Malafaia Oficial. O Cristão e a Política. Pr. Silas Malafaia. 25/09/22. 2022. YouTube, 2022. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-GSYOp3U1AI&t=1135s. Acesso em: 10 out. 2023.
Silas Malafaia Oficial. YouTube, 2023. SilasMalafaiaOficial. Acesso em: 10 out. 2023. Disponível
SINGER, P; BRANT, V. C. (org.). São Paulo: o povo em movimento. 2. ed. Petrópolis: Vozes/CEBRAP, 1981.
SMITH, C. (ed.). Disruptive Religion: The force of faith in social movement activism. New York and London: Routledge, 1996.
SMITH, C. Religion: what it is, how it works, and why it matters. Princeton: Princeton University Press, 2017.
SOUTO, A. L. S. Movimentos populares urbanos e suas formas de organização ligadas à Igreja. In: SILVA, C. R. et al. (ed.). Movimentos Sociais Urbanos, minorias étnicas e outros estudos. Brasília: ANPOCS, 1983. p. 63-95.
SOUZA, N. R. de. A Produção Político-Religiosa do Militante Católico Progressista. Sociologia & Política, n. 3, p. 103-119, 1994.
THOMPSON, E. P. A economia moral da multidão inglesa no século XVIII. In: THOMPSON, E. P. Costumes em comum. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 150-202.
TILLY, C.; TARROW, S. Contentious politics. Boulder: Paradigm Publishers, 2007.
VAN DETH, J. W. A conceptual map of political participation. Acta Politica, v. 49, n. 3, p. 349- 367, 2014a.
VAN DETH, J. W. Rejoinder. Acta Politica, v. 49, n. 3, p. 347-348, 2014b.
WALTER, A. V. N. P.; RIBEIRO, E. A. Ativismo Religioso e Ativismo Político: O Papel das Instituições Religiosas no Comportamento Político dos Brasileiros e Latino-Americanos. In: Seminário Internacional de Ciência Política, 1., set. 2015. Anais... Porto Alegre: UFRGS, 2015. p. 1-20.
WILLIAMS, R. H. Religious Social Movements in the Public Sphere: Organization, Ideology, and Activism. In: DILLON, M. (ed.). Handbook of the Sociology of Religion. Cambridge: Cambridge University Press, 2003. p. 315-330.
WOOD, R. L. Religion, Faith-Based Community Organizing, and the Struggle for Justice. In: DILLON, M. (ed.). Handbook of the Sociology of Religion. Cambridge: Cambridge University Press, 2003. p. 385-399.
ZALD, M. N. Theological Crucibles: social movements in and of religion. Review of Religious Research, v. 23, n. 4, p. 317-336 jun. 1983.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Os artigos e demais trabalhos publicados em Política & Sociedade, periódico vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFSC, passam a ser propriedade da revista. Uma nova publicação do mesmo texto, de iniciativa de seu autor ou de terceiros, fica sujeita à expressa menção da precedência de sua publicação neste periódico, citando-se a edição e data dessa publicação.
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.