Dos Museus dos Descobrimentos às Exposições do Império: o corpo colonial em Portugal
DOI:
https://doi.org/10.1590/1806-9584-2019v27n357903Resumo
O artigo se insere nos debates sobre a memória do colonialismo português, analisando-a a
partir da Interseccionalidade entre Gênero, Raça e Sexualidade. São investigadas as narrativas em torno do Corpo Colonial dos Museus dos Descobrimentos Portugueses, a fim de perceber em que (des)(re)constroem discursos das Exposições do Império Português. A metodologia segue uma inspiração na analítica foucaultiana dos discursos: a arque-genealogia. Como técnicas de pesquisa, são utilizadas: observação direta e entrevistas, no caso dos Museus; e a análise documental histórica em fontes secundárias, no caso das Exposições. As conclusões apontam que há uma tentativa de deslocamento discursivo por parte dos Museus, os quais buscam dissociar Descobrimentos e Colonização. No entanto, há elementos discursivos que se repetem, como a nudez e o exotismo, reconstruindo a Colonialidade dos Corpos de origem não europeia.
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