A flânerie de uma andarilha urbana

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https://doi.org/10.1590/1806-9584-2020v28n157230

Resumo

Neste artigo analisa-se a relação entre a personagem Alice, de Quarenta dias – romance de Maria Valéria Rezende (2014b) –, e a cidade de Porto Alegre, pela qual ela deambula como uma flâneuse contemporânea. A personagem, na realidade, se autodenomina andarilha urbana, já que ela passa a ser uma habitante das ruas. A possibilidade da existência de uma flâneuse mulher é debatida com base nos escritos de Janet Wolff (1985), Griselda Pollock (1988) e Lauren Elkin (2016). Segundo Elkin (2016), a invisibilidade é uma característica fundamental para que alguém desempenhe a flânerie, o que seria inviável para uma mulher, que é sempre objeto do olhar masculino nas ruas. A personagem Alice, no entanto, percebe-se invisibilizada em função de sua idade, de sua origem nordestina e por se tornar uma pessoa em situação de rua ao longo desses quarenta dias. A narrativa também possibilita uma série de reflexões sobre as cidades contemporâneas e as formas de apropriação dos espaços urbanos pelas minorias.

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Biografia do Autor

Daniela Schrickte Stoll, Universidade Federal de Santa Catarina

Doutoranda em Literatura na Universidase Federal de Santa Catarina, na linha de pesquisa Crítica Literária Feminista e Estudos de Gênero

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Publicado

2020-06-05

Como Citar

Stoll, D. S. (2020). A flânerie de uma andarilha urbana. Revista Estudos Feministas, 28(1). https://doi.org/10.1590/1806-9584-2020v28n157230

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Artigos