As mulheres muçulmanas precisam realmente de salvação? Reflexões antropológicas sobre o relativismo cultural e seus Outros
DOI:
https://doi.org/10.1590/S0104-026X2012000200006Resumo
Este artigo explora a ética da atual “Guerra ao Terrorismo”, perguntando se aantropologia, disciplina dedicada a entender a diferença cultural e a lidar com ela, pode nosfornecer apoio crítico para as justificações feitas sobre a intervenção no Afeganistão em termosde liberar ou salvar mulheres afegãs. Eu observo primeiramente os perigos da cultura dereificação, aparente nas tendências de afixar ícones culturais claros como as mulheresmuçulmanas sobre confusas dinâmicas históricas e políticas. Posteriormente, chamando atençãopara as ressonâncias entre discursos contemporâneos sobre igualdade, liberdade e direitoscom antigos discursos coloniais e retórica missionária sobre mulheres muçulmanas, euargumento que, em vez disso, nós precisamos desenvolver uma séria avaliação das diferençasentre as mulheres no mundo – como produtos de histórias diferentes, expressões de diferentescircunstâncias e manifestações de desejos distintamente estruturados. Além disso, eu argumentoque, em vez de buscar “salvar” outros (com a superioridade que isso implica e as violências queacarretaria), talvez fosse melhor pensarmos em termos de (1) trabalhar com elas nas situaçõesque reconhecemos como sempre sujeitas a transformações históricas e (2) considerar nossaspróprias e maiores responsabilidades para indicar as formas de injustiça global que sãopoderosas formadoras dos mundos nas quais elas se encontram. Eu desenvolvo muito dessesargumentos a respeito dos limites do “relativismo cultural” através de uma consideração daburca e dos vários significados dos véus no mundo muçulmano.
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