Negociando normalidade(s): construções da identidade de gênero entre meninas

Autores

  • Jamile Guimarães Universidade de São Paulo
  • Cristiane da Silva Cabral Universidade de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.1590/1806-9584-2020v28n60678

Resumo

Neste artigo analisamos a construção da identidade de gênero entre meninas adolescentes, a partir da sua dimensão performativa. A pesquisa etnográfica foi realizada em uma escola pública de Ensino Fundamental II, em Salvador. A produção discursiva de diferenças, semelhanças e desigualdades entre categorias de menina é um dos modos pelos quais o gênero vai sendo (re)construído e negociado nas interações cotidianas. Tendo como pano de fundo a regulação moral exercida pelos pares, expõe-se como cada posição de sujeito assimila, contesta e ressignifica comportamentos e características socialmente convencionados como femininos e masculinos. Em um continuum de conformidades e subversões, “normais”, “atiradas” e “evoluídas” exibem traços de permanências e mudanças culturais, evidenciando a heterogeneidade marcadamente contraditória da constituição de identidades generificadas.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Jamile Guimarães, Universidade de São Paulo

Pós-doutoranda na Faculdade de São Pública da Universidade de São Paulo, na área de Saúde reprodutiva, Gênero, Sexualidade e Sociedade. É bacharel em Sociologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), mestre em Saúde Comunitária pelo Instituto de Saúde Coletiva da UFBA e doutora em Saúde Pública pela Faculdade de São Pública da Universidade de São Paulo. Realizou estágio de pesquisa no Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa (CIES-IUL), em Portugal. Desenvolve investigações interdisciplinares sobre juventude, gênero, sexualidade e promoção da saúde com enfoque nos processos de construção identitária em ambientes de participação social, comunidades empobrecidas e escolares.

Cristiane da Silva Cabral, Universidade de São Paulo

Professora do Departamento Saúde, Ciclos de Vida e Sociedade da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Tem bacharelado em Psicologia, formação de Psicólogo e residência em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. É doutora em Saúde Coletiva pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e pós-doutora pelo Núcleo de Estudos de População da Universidade Estadual de Campinas. Tem dedicado seus estudos a temáticas relativas a juventude, relações de gênero, família, contracepção, sexualidade e reprodução sob a perspectiva que integra as metodologias qualitativa e quantitativa de pesquisa.

Referências

BARTKY, Sandra. Femininity and domination: studies in the phenomenology of oppression. New York: Routledge, 1991.

BAY-CHENG, Laina. “The agency line: a neoliberal metric for appraising young women’s sexuality”. Sex Roles, v. 73, n. 7-8, p. 279-291, 2015.

BHANA, Deevia. “Virginity and virtue: african masculinities and femininities in the making of teenage sexual cultures”. Sexualities, v. 19, n. 4, p. 465-481, 2016.

BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012.

BUDGEON, Shelley. “The dynamics of gender hegemony: femininities, masculinities and social change”. Sociology, v. 48, n. 2, p. 317-334, 2014.

BUDGEON, Shelley. “Emergent feminist(?) identities: young women and the practice of micropolitics”. European Journal of Women’s Studies, v. 8, n. 1, p. 7-28, 2001.

BUTLER, Judith. “Contingent foundations: feminism and the question of ‘postmodernism’”. In: BENHABIB, Sheila; BUTLER, Judith; CORNELL, Drucilla; FRASER, Nancy (Eds.). Feminist contentions: a philosophical exchange. New York: Routledge, 1995. p. 35-57.

BUTLER, Judith. Bodies that matter: on the discursive limits of “sex”. New York: Routledge, 1993.

BUTLER, Judith. Gender trouble: feminism and the subversion of identity. New York: Routledge, 1990.

CONNELL, Robert. Gender. Cambridge: Polity Press, 2002.

CORDEIRO, Rosineide et al. “Meninas de moral: experiências socioeducativas em um bairro popular do Recife”. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 30, n. 1, p. 188-199, 2010.

DAMATTA, Roberto. A casa e a rua: espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.

DAVIES, Bronwyn. “The discursive production of the male/female dualism in school settings”. Oxford Review of Education, v. 15, n. 3, p. 229-241, 1989.

DE LAURETIS, Teresa. Technologies of gender: essays on theory, film and fiction. Basingstoke: Macmillan Press, 1989.

DUARTE, Luiz Fernando. “Pouca vergonha, muita vergonha: sexo e moralidade entre as classes trabalhadoras”. In: LOPES, José Sérgio (Coord.). Cultura e identidade operária: aspectos da cultura de classe trabalhadora. Rio de Janeiro: EDUFRJ; Marco Zero, 1987. p. 203-226.

FERREIRA, Vitor Sérgio. “Artes e manhas da entrevista compreensiva”. Saúde e Sociedade, v. 23, n. 3, p. 979-992, jul./set. 2014.

FJAER, Eivind; PEDERSEN, Willy; SANDBERG, Sveinung. “‘I’m not one of those girls’: boundary-work and the sexual double standard in a liberal hookup context”. Gender & Society, v. 29, n. 6, p. 960-981, 2015.

FOOTE WHYTE, William. Sociedade de esquina: a estrutura social de uma área urbana pobre e degradada. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 2003.

FRANCIS, Becky. “Re/theorizing gender: female masculinity and male femininity in the classroom?”. Gender and Education, v. 22, n. 5, p. 477-490, 2010.

FRASER, Nancy. “Mapeando a imaginação feminista: da redistribuição ao reconhecimento e à representação”. Revista Estudos Feministas, v. 15, n. 2, maio/ago. 2007.

GARCIA, Cláudia; SILVA, Rosimeri da. “A escola e as relações de gênero e de sexualidade da atualidade”. In: SILVA, Fabiane; MELLO, Elena Maria (Orgs.). Corpos, gêneros, sexualidades e relações étnico-raciais na Educação. Uruguaiana: EDUNIPAMPA, 2011. p. 93-102.

GIDDENS, Anthony. A transformação da intimidade: sexualidade, amor e erotismo nas sociedades modernas. São Paulo: EDUNESP, 2003.

GOFFMAN, Erving. A representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis: Vozes, 2008.

GOLDENBERG, Mirian. Coroas: corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade. Rio de Janeiro: Record, 2015.

GREGORI, Maria Filomena. Cenas e queixas: um estudo sobre mulheres, relações violentas e a prática feminista. São Paulo: Paz e Terra/ANPOCS, 1993.

HARRIS, Anita (Ed.). All about the girl: culture, power and identity. New York: Routledge, 2004.

HELLER, Agnes. Além da justiça. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.

JONES, Daniel. “La primera relación sexual: papeles, escenas y secuencias”. Cadernos Pagu, n. 35, p. 211-239, dez. 2010.

KEHILY, Mary Jane. Sexuality, gender and schooling: shifting agendas in social learning. London: Routledge, 2004.

LIZARDO, Omar; COLLETT, Jessica. “Embarrassment and social organization: a multiple identities model”. Social Forces, v. 92, n. 1, p. 353-375, 2013.

LOURO, Guacira. “Currículo, género y sexualidad: lo ‘normal’, lo ‘diferente’ y lo ‘excéntrico’”. Descentrada, v. 3, n. 1, e065, mar. 2019.

LURIE, Susan. “Performativity in disguise: ideology and the denaturalization of identity in theory and The Crying Game”. The Velvet Light Trap, v. 99, n. 43, p. 51-62, Spring 1999.

McROBBIE, Angela. The aftermath of feminism: gender, culture and social change. London: Sage, 2009.

MEENAGH, Joni. “Breaking up and hooking up: a young woman’s experience of ‘sexual empowerment’’’. Feminism & Psychology, v. 27, n. 4, p. 447-464, 2017.

MILLER, Sarah. “How you bully a girl: sexual drama and the negotiation of gendered sexuality in high school”. Gender & Society, v. 30, n. 5, p. 721-744, 2016.

NAYAK, Anoop; KEHILY, Mary Jane. Gender, youth and culture: young masculinities and femininities. Basingstoke: Palgrave, 2013.

NEVES, Paulo Rogério. As meninas de agora estão piores do que os meninos: gênero, conflito e violência na escola. 2008. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.

PEREIRA, Maria do Mar. Fazendo género no recreio: a negociação do género em espaço escolar. Lisboa: ICS, 2012.

PINTO, Pedro; NOGUEIRA, Conceição; OLIVEIRA, João. “Minding the body, sexing the brain: hormonal truth and the post-feminist hermeneutics of adolescence”. Feminist Theory, v. 13, n. 3, p. 305-323, 2012.

PISCITELLI, Adriana. “Apresentação: gênero no mercado do sexo”. Cadernos Pagu, n. 25, p. 7-23, jul./dez. 2005.

REAY, Diane. “‘Spice girls’, ‘nice girls’, ‘girlies’, and ‘tomboys’: gender discourses, girls’ culture and femininities in the primary classroom”. Gender and Education, v. 13, n. 2, p. 153-166, 2001.

SALEM, Tania. “Tensões entre gêneros na classe popular: uma discussão com o paradigma holista”. Mana, v. 12, n. 2, p. 419-447, out. 2006.

SALVA, Sueli. Narrativas da vivência juvenil feminina: histórias e poéticas produzidas por jovens de periferia urbana de Porto Alegre. 2008. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil.

SALES, Shirlei; PARAISO, Marlucy. “O jovem macho e a jovem difícil: governo da sexualidade no currículo”. Educação & Realidade, v. 38, n. 2, p. 603-625, abr./jun. 2013.

SCHALET, Amy. Not under my roof: Parents, teens, and the culture of sex. Chicago: University of Chicago Press, 2011.

SOUZA, Bruna M. Mulheres de fibra: narrativas e o ato de narrar entre usuárias e trabalhadoras de um serviço de atenção a vítimas de violência na periferia de São Paulo. 2015. Tese (Doutorado) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil.

THORNE, Barrie. Gender play: girls and boys in school. New Jersey: Rutgers University Press, 1997.

TOLMAN, Deborah. Dilemmas of desire: teenage girls talk about sexuality. Cambridge: Harvard University Press, 2005.

VARGAS, Juliana R. Meninas (mal)comportadas: posturas e estranhamentos em uma escola pública de periferia. 2008. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil.

VARGAS, Juliana R. O que ouço me conduz e me produz? A constituição de feminilidades de jovens contemporâneas no espaço escolar da periferia. 2015. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil.

VELDING, Victoria. “Depicting femininity: conflicting messages in a ‘tween’ magazine”. Youth & Society, v. 49, n. 4, p. 505-527, 2017.

WEEKES, Debbie. “Where my girls at? black girls and the construction of the sexual”. In: HARRIS, Anita (Ed.). All about the girl: culture, power, and identity. New York: Routledge, 2004. p. 141-154.

WILLIAMS, Susan. “Trying on gender, gender regimes, and the process of becoming women”. Gender and Society, v. 16, n. 1, p. 29-52, 2002.

YOUDELL, Deborah. Impossible bodies, impossible selves. Dordrecht: Springer, 2006.

Publicado

2020-12-18

Como Citar

Guimarães, J., & Cabral, C. da S. (2020). Negociando normalidade(s): construções da identidade de gênero entre meninas. Revista Estudos Feministas, 28(3). https://doi.org/10.1590/1806-9584-2020v28n60678

Edição

Seção

Artigos