Intertextualidade e estranhamento em "Amor de Clarice", de Rui Torres
DOI:
https://doi.org/10.5007/1807-9288.2018v14n1p126Resumo
No âmbito da literatura de vanguarda, o lugar-comum “toda obra enseja múltiplas leituras” corre um duplo risco: o de implodir, sob o peso de textos que não permitem leitura alguma (ou que a tanto se propõem), dado o hermetismo formal; e o de explodir, mediante a pressão centrífuga de obras que não são as mesmas a cada leitura sequer na materialidade textual. É dessa categoria de obras movediças que se fala aqui, na condição de aporias da leitura literária no século XXI, em que inovações estruturais do texto vão com frequência a reboque de inovações tecnológicas, as quais permitem transformações materiais na obra. No caso da cyberliteratura, tal afirmação torna-se ainda mais pertinente, uma vez que os recursos computacionais, cada vez mais sofisticados, vêm ensejando uma poética antes inimaginável, sobretudo em sua multiplicidade de figurações e leituras, dada a condição subversiva de devir em que habita sua substância. Nesse contexto, optou-se neste artigo pela análise da obra Amor de Clarice, do poeta português Rui Torres; esta, valendo-se de distintos recursos tecnoestéticos digitais, subverte a máxima “Toda obra enseja múltiplas leituras”, uma vez que relê o já subversivo conto “Amor”, de Clarice Lispector, por meio de uma materialidade textual informática que se dissolve e transforma a cada clique no mouse. O adágio perde, assim, ares de lugar-comum desgastado pelo uso na academia e retoma, por vias algorítmicas subversivas, uma potência que só a arte enquanto estranhamento estético – proposta, em última medida, de toda releitura – pode deter.
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