O gênero AU
multimodalidade, literatura pós-autônoma, multidões queer
DOI:
https://doi.org/10.5007/1807-9288.2021.e81384Resumo
Os gêneros do discurso, assim como outros aspectos da experiência humana, se modificam e complexificam ao longo do tempo. As tecnologias digitais e a multimodalidade vêm transformando, por exemplo, a forma de produzir e consumir literatura na contemporaneidade. Neste contexto, a cultura de fã, que se configura como uma cultura de convergência, abarca produções estéticas de diversos grupos de fãs, realizadas a partir do diálogo com produtos já existentes na indústria cultural. Tais grupos, que se caracterizam como comunidades discursivas, criam novas textualidades multimodais de caráter ficcional, como as que se apresentam sob a rubrica de AU (Alternative Universe). Este artigo tem por objetivo discutir aspectos deste novo gênero da cultura de fã, que, a nosso ver, diferentemente do que se pensa, não está subordinado ao gênero fanfic. Para isto, analisa-se aqui uma AU Larry (shipp dos cantores Harry Styles e Louis Tomlinson) intitulada “Nº 309”, buscando-se refletir sobre questões ligadas à estrutura composicional, ao conteúdo temático e ao estilo do gênero, sob uma perspectiva bakhtiniana. Outros conceitos como os de multimodalidade, literatura pós-autônoma e multidões queer são também mobilizados a fim de apoiar a discussão em torno desse gênero inovador.
Referências
[@mybravelouist]. N° 309 - ¡au larry! Harry não suporta seu colega de quarto bagunceiro e barulhento e dá graças que com sua rotina corrida, não precisa conviver muito com ele. Quando um vírus causa um fechamento geral, eles são obrigados a cumprir a quarentena no dormitório. Juntos. 12 mai. 2020, 10:22 pm. Tweet. Disponível em: https://twitter.com/mybravelouist/status/1260379851426537472. Acesso em: 30 jan. 2021.
BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2011, p. 261-306.
BENTES, Carolina Abreu. Fanfiction: gênero literário híbrido e uma nova forma de escrita e leitura contemporânea. Anais do Congresso Nacional Universidade, EAD e Software Livre, v. 2, n. 11, 2020. Disponível em: http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/ueadsl/article/view/17562. Acesso em: 16 dez. 2020.
BIRELLO, Verônica. Práticas literárias no ciberespaço: a autoria discursiva discutida por meio de fan fictions. Linguagem - Estudos e Pesquisas, v. 17, n. 2, 2013. Disponível em: https://www.revistas.ufg.br/lep/article/view/32258. Acesso em: 16 dez. 2020.
BLOMMAERT, Jan; RAMPTON, Ben. Language and Superdiversity. Diversities, v.13, n.2, 2011, p. 1-22. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000214772.nameddest=214780. Acesso em: 10 mai. 2021.
CORREA, Manoel Luiz Gonçalves. Relações intergenéricas na análise indiciária de textos escritos. Trab. linguist. apl., Campinas, v. 45, n. 2, p. 205-224, dez. 2006. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/tla/v45n2/a04.pdf. Acesso em: 30 jan. 2021.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. Vol. 2. São Paulo: Editora 34, 1995.
DESCARDECI, Maria Alice A. S. Ler o mundo: um olhar através da semiótica social. Educação Temática Digital. Campinas, v. 3, n. 2, p.19-26, 2002. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/etd/article/view/604/619. Acesso em: 10 mai. 2021.
FANLORE. Social media AU. 2020. Disponível em: https://fanlore.org/wiki/Social_Media_AU. Acesso em: 16 dez. 2020.
DATA REPORTAL. Digital 2021: global overview report. 2021. Disponível em: https://datareportal.com/reports/digital-2021-global-overview-report. Acesso em: 02 de mar. 2021
GARCÍA, Ofelia.; FLORES, Nelson. Multilingualism and Common Core State Standards in the United States. In: MAY, Stephen. The multilingual turn: implications for SLA, TESOL and Bilingual education. London: Routledge, 2014. p. 147-166.
GUERRERO-PICO, Mar. Producción y lectura de fanfiction en la comunidad online de la serie Fringe: transmedialidad, competencia y alfabetización mediática. Palabra Clave, v. 18, n. 3, 2015, p. 722 - 745. Disponível em: http://www.scielo.org.co/scielo.php?frbrVersion=3&script=sci_arttext&pid=S0122-82852015000300005&lng=en&tlng=en. Acesso em: 16 dez. 2020.
Hilsdorf ROCHA, Cláudia. Educação linguística na liquidez da sociedade do cansaço: o potencial decolonial da perspectiva translíngue. D.E.L.T.A., v. 35, n. 4, p. 1-39, 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/j/delta/a/Jp88kqFTCLXH7j8XwQW88Gt/abstract/?lang=pt. Acesso em: 10 mai. 2021.
JENKINS, Henry. Cultura da convergência. Trad. Susana Alexandria. São Paulo: Aleph, 2006. Disponível em: https://www.nucleodepesquisadosex-votos.org/uploads/4/4/8/9/4489229/cultura_da_convergencia_-_henry_jenkins.pdf. Acesso em: 30 jan. 2021.
KRESS, Gunther; VAN LEEUWEN, Theo. Reading Images: the grammar of visual design. London/New York: Routledge, 1996.
KRESS, Gunther. Before Writing: rethinking the paths to literacy. London/New York: Routledge, 1997.
LEITE, Ligia Chiappini Moraes. A tipologia de Norman Friedman. In: O foco narrativo. São Paulo: Ática, 2007. p. 25-70.
LUDMER, Josefina. Literaturas pós-autônomas. Trad. Flávia Cera. Ciberletras - Revista da crítica literaria y de cultura, n. 17, jul. 2007. Disponível em: http://culturaebarbarie.org/sopro/n20.pdf. Acesso em: 30 jan. 2021.
MASHAZART. What's a social media AU?. Fanficed, 2019. Disponível em: https://www.fanficed.com/post/what-s-a-social-media-au. Acesso em: 16 dez. 2020.
McKINNEY, Carolyn. Language and Power in Post-Colonial Schooling: Ideologies in Practice. London/New York: Routledge, 2017.
PRECIADO, Paul B. Multidões queer: notas para uma política dos “anormais”. In: HOLLANDA, Heloisa Buarque de (org.). Pensamento feminista: conceitos fundamentais. Rio de Janeiro: Bazar do tempo, 2019. p. 421-430.
ROJO, Roxane. Pedagogia dos multiletramentos: diversidade cultural e de linguagens na escola. In: ROJO, Roxane & Moura, Eduardo (org.). Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola, 2012. p. 11-32.
SAINT-GEORGES, Ingrid. Multilingualism, multimodality and the future of education research. In: SAINT-GEORGES, Ingrid; WEBER, Jean Jacques (eds.). Multilingualism and multimodality: current challenges for educational studies. The Netherlands: Sense Publishers, 2013. p. 1-8.
SESSAREGO, Jéssica. ¿Qué pasa cuando la pornografía la escriben las mujeres? Fanfiction, deseo femenino y ética. Revista Transas: Letras y Artes en América Latina. San Martín, Argentina, p. 1-13, 2021. Disponível em: http://www.revistatransas.com/2021/07/23/que-pasa-cuando-la-pornografia-la-escriben-las-mujeres-fanfiction-deseo-femenino-y-etica/. Acesso em: 10 mai. 2021.
SOUZA, Ana Lúcia Silva. Letramentos de reexistência. Poesia, grafite, música, dança: Hip Hop. São Paulo: Parábola, 2011.
SWALES, John M. The concept of discourse community: some recent personal history. Composition Forum 37, 2017. Disponível em: https://compositionforum.com/issue/37/swales-retrospective.php. Acesso em: 16 dez. 2020.
VARGAS, Maria Lucia Bandeira. Slash: a fan fiction homoerótica no fandom potteriano brasileiro. 2011. 182 f. Tese (Doutorado em Letras) - Faculdade de Letras, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011. Disponível em: https://repositorio.pucrs.br/dspace/handle/10923/4045#preview. Acesso em: 16 dez. 2020.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 Brenda Grandini Caetano, Antonio Andrade
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- A licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional permite a cópia e a redistribuição do material em qualquer suporte ou formato, assim como adaptações, para quaisquer fins, inclusive comerciais.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.