"Coletamos dados para o seu bem" O truque retórico do imaginário sobre o dado digital promovido nos termos de uso, documentos de privacidade e relatórios de investidores da plataforma Fitbit

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1807-9288.2020v16n1p157

Resumo

O artigo mapeia o significado e as qualidades atribuídas ao “dado” nos documentos destinados aos usuários e investidores da Fitbit, terceira maior plataforma no setor global de vestíveis. Foram analisados o relatório financeiro (IPO) do primeiro ano da marca no mercado de ações, os termos de uso e privacidade. Os documentos foram explorados no softwareAtlas.ti. Os resultados indicam que, embora os discursos endereçados ao cliente coloquem o dado como um benefício para o usuário, as narrativas dirigidas aos investidores destacam como riscos para o negócio: a garantia de segurança e privacidade dos usuários, os interesses governamentais no acesso aos dados e as políticas de regulação. O nosso argumento central é de que as narrativas oficiais constroem um imaginário do dado enquanto truque retórico, ocultando a rede político-econômica da marca, os riscos e as agendas de interesse ao passo que enaltecem as práticas de dataficação necessárias ao modelo de negócio da plataforma

Biografia do Autor

Elias Cunha Bitencourt, Universidade do Estado da Bahia UNEB Universidade Federal da Bahia UFBA

Doutor em comunicação pela Faculdade de Comunicação FACOM/UFBA, com estágio sanduíche no Milieux Center/Concordia University, Canadá (CAPES/PDSE 88881.135543/2016-1); professor permanente no Programa de Pós-graduação em comunicação (POSCOM/UFBA); professor Assistente em regime de dedicação exclusiva na Universidade do Estado da Bahia - UNEB (2009 -presente momento). Mestre em cultura e sociedade pelo Instituto de Artes e Humanidades IHAC/UFBA (2014), especialista em design de interfaces pela Unifacs (2004), graduado em Desenho industrial com habilitação em programação visual pela Universidade do Estado da Bahia (2003). Atua como pesquisador nos grupos Comunidades Virtuais/UNEB e Lab404/UFBA. Atualmente, dedica-se às investigações nos campos: sociologia digital, métodos digitais, cultura digital, Teoria Ator-Rede e New Materialism. Os principais objetos de interesse e pesquisa são: a mediação algorítmica e a dataficação do cotidiano mobilizadas pelas redes de Internet das Coisas (IoT) e plataformas digitais.

Referências

BIGGS, P. et al. Harnessing the Internet of Things for Global Development. The Huffingtonpost, p. 61, 22 out. 2016.

BITENCOURT, E. C. SMARTBODIES CORPO, TECNOLOGIAS VESTÍVEIS E PERFORMATIVIDADE ALGORÍTMICA Um estudo exploratório dos modos heurísticos de corporar na plataforma Fitbit. [s.l.] Universidade Federal da Bahia (UFBA), 2019.

BUCHER, T. If...Then Algorithimic Power and Politics. New York: Oxford University Press, 2018.

CAMPBELL, D. Reward healthy people with tax rebates to save the NHS , urges thinktank Source. The Guardian, p. 13–14, 6 out. 2014.

CHENEY-LIPPOLD, J. A New Algorithmic Identity: Soft Biopolitics and the Modulation of Control. Theory, Culture & Society, v. 28, n. 6, p. 164–181, 2011.

CHENEY-LIPPOLD, J. We are data. Algorithms and the making of our digital selves. New York: New York University Press, 2017.

CHUNG, A. E. et al. Tweeting to Health: A Novel mHealth Intervention Using Fitbits and Twitter to Foster Healthy Lifestyles . Clinical Pediatrics , 16 jun. 2016.

COULDRY, N.; MEJIAS, U. A. Data Colonialism: Rethinking Big Data’s Relation to the Contemporary Subject. Television and New Media, v. 20, n. 4, p. 336–349, 2019.

CRAWFORD, K.; LINGEL, J.; KARPPI, T. Our metrics, ourselves: A hundred years of self-tracking from the weight scale to the wrist wearable device. European Journal of Cultural Studies, v. 18, n. 4–5, p. 479–496, 2015.

EL CLARÍN. Para cuidarles la salud, exigen a estudiantes que usen pulsera inteligente. El Clarín, p. 1–3, 2016.

FITBIT. Fitbit Reports $ 574M Q416 and $ 2 . 17B FY16 Revenue. [s.l: s.n.]. Disponível em: https://www.businesswire.com/news/home/20170222006497/en/.

FITBIT. Fitbit Reports $571M Q4’17 and $1.616B FY’17 Revenue. n. 25, p. 13, 2018.

FITBIT INC. FITBIT Terms of Service. Disponível em: https://www.fitbit.com/legal/terms-of-service. Acesso em: 10 out. 2016a.

FITBIT INC. ANNUAL REPORT PURSUANT TO SECTION 13 OR 15(d) OF THE SECURITIES EXCHANGE ACT OF 1934 For the fiscal year ended December 31, 2015. Whahington D.C.: [s.n.]. Disponível em: https://www.sec.gov/Archives/edgar/data/1447599/000144759916000018/fitbit1231201510k.htm.

FITBIT INC. Fitbit Privacy Policy. Disponível em: https://www.fitbit.com/legal/privacy. Acesso em: 10 out. 2016a.

FITBIT INC. Full Fitbit Privacy PolicySan Francisco, CA, 2016b. Disponível em: https://www.fitbit.com/legal/privacy-policy. Acesso em: 20 out. 2016

FOTOPOULOU, A.; O’RIORDAN, K. Training to self-care: fitness tracking, biopedagogy and the healthy consumer. Health Sociology Review, p. 1–15, 2 jun. 2016.

FOUCAULT, M. Nascimento da biopolítica. Curso dado no Collège de France (1978-1979). Traducao Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

FRAMINGHAM, M.; BUSINESS WIRE. Apple Debuts at the Number Two Spot as the Worldwide Wearables Market Grows 223.2% in 2Q15, Says IDC | Business Wire. Disponível em: https://www.businesswire.com/news/home/20150827005136/en/Apple-Debuts-Number-Spot-Worldwide-Wearables-Market. Acesso em: 20 mar. 2019.

FRANKEL, T. C. Fitbits now mandatory for students at this Oklahoma university. The Whahington Post, p. 2–5, 7 out. 2016.

FRITZ, T. et al. Persuasive technology in the real world: a study of long-term use of activity sensing devices for fitness. Proceedings of the SIGCHI Conference on Human Factors in Computing Systems, p. 487–496, 2014.

GEORGE, S. Better data means better health for the world ’ s disease-troubled areas. The Guardian, p. 16–18, 28 out. 2016.

GILLESPIE, T. Algorithm. In: PETERS, B. (Ed.). . Digital Keywords. A Vocabulary of Information Society and Culture. Nova Jers: Princeton University Press Princeton and Oxford, 2015. p. 297.

GOULD, H. From app doctors to big data : five ways tech will shape healthcare. The Guardian, p. 17–19, 10 out. 2016.

IDC. Worldwide Quarterly Wearable Device Tracker Report. Framingham, MA: [s.n.]. Disponível em: http://www.idc.com/getdoc.jsp?containerId=prUS41996116. Acesso em: 14 jan. 2017.

IDC. Worldwide Wearables Market Grows 7.3% in Q3 2017 as Smart Wearables Rise and Basic Wearables Decline, Says IDCWorldwide Quarterly Wearable Device Tracker Report. [s.l: s.n.]. Disponível em: https://www.idc.com/getdoc.jsp?containerId=prUS43260217.

IDC. Worldwide Quarterly Wearable Device Tracker. [s.l: s.n.]. Disponível em: https://www.idc.com/tracker/showproductinfo.jsp?prod_id=962. Acesso em: 20 mar. 2019.

JETHANI, S.; RAYDAN, N. Forming Persona through Metrics: Can we Think Freely in the Shadow of our Data? Persona Studies, v. 1, n. 1, p. 76–93, 2015.

KARAPANOS, E. et al. Wellbeing in the making: Peoples’ experiences with wearable activity trackers. Psychology of Well-Being: Theory, Research and Practice, v. 2013, 2016.

KAU, A. Bring Your Own Wearable and Its Enterprise Implications. [s.l: s.n.]. Disponível em: https://www.tractica.com/wearable-devices/bring-your-own-wearable-and-its-enterprise-implications/. Acesso em: 7 jul. 2016.

LATOUR, B. Reagregando o social: uma introdução à teoria do ator-rede. Salvador: Edufba, 2012.

LEMOS, A. Sensibilités Performatives. Les nouvelles sensibilités des objets dans les métropoles contemporaines. In Revue Sociétés, v. in press, n. in press, 2016.

LEMOS, A.; BITENCOURT, E. “I feel my wrist buzz ". SmartBody and Performative Sensibility in FitBit Devices. Galaxia (Online), p. 1–17, 2017.

LEMOS, A.; BITENCOURT, E. Performative sensibility and the communication of things. Matrizes USP, v. 12, n. 3, p. 165–188, 2018.

LEMOS, A.; BITENCOURT, E. “Move and Be Healthy!”: Performative Sensibility and Body Experiences Mediated by Wearable Devices in Brazil. In: PEREIRA NETO, A.; FLYNN, M. B. (eds.). The Internet and Health in Brazil: Challenges and Trends. Cham: Springer International Publishing, 2019. p. 415–434.

LEVY, K. E.; JOHNS, D. M. When open data is a Trojan Horse: The weaponization of transparency in science and governance. Big Data & Society, v. 3, n. 1, p. 2053951715621568, 2016.

LUPTON, D. Personal data practices in the age of lively data. Available at SSRN 2636709, 2015a.

LUPTON, D. Health promotion in the digital era: A critical commentary. Health Promotion International, v. 30, n. 1, p. 174–183, 2015b.

LUPTON, D. The Quantified Self. Malden: Polity Press, 2016.

LUPTON, D. Wearable Devices: Sociotechnical Imaginaries and Agential Capacities Deborah. In: PEDERSEN, I.; ILIADIS, A. (Eds.). . Embodied Technology: Wearables, Implantables, Embeddables, Ingestibles. Cambridge; Massachusetts: MIT Press, 2017. p. 1–12.

MARRES, N.; GERLITZ, C. Interface Methods. Media Studies, n. 2011, p. 1–32, 2015.

MAYER-SCHÖNBERGER, V.; CUKIER, K. Big data: A revolution that will transform how we live, work, and think. Kindle ed. [s.l.] Houghton Mifflin Harcourt, 2013.

METCALF, J.; CRAWFORD, K. Where are human subjects in big data research? The emerging ethics divide. Big Data & Society, n. June, p. 1–34, 2016.

MOROZOV, E. To save everything, click here: The folly of technological solutionism. [s.l.] PublicAffairs, 2014. v. 1

NAFUS, D.; SHERMAN, J. Big data, big questions| this one does not go up to 11: the quantified self movement as an alternative big data practice. International journal of communication, v. 8, p. 11, 2014.

NIELD, D. Employee wellness programs now one of Fitbit’s fastest growing areas. Disponível em: http://www.digitaltrends.com/mobile/employee-wellness-programs-now-one-fitbits-fastest-growing-areas/. Acesso em: 11 jul. 2016.

OLSON, P.; TILLEY, A. The quantified other: Nest and Fitbit chase a lucrative side business. Disponível em: http://www.forbes.com/sites/parmyolson/2014/04/17/the-quantified-other-nest-and-fitbit-chase-a-lucrative-side-business/#1024a8905403. Acesso em: 5 abr. 2015.

PANTZAR, M.; RUCKENSTEIN, M. The heart of everyday analytics: emotional, material and practical extensions in self-tracking market. Consumption Markets & Culture, v. 18, n. 1, p. 92–109, 2015.

PANTZAR, M.; RUCKENSTEIN, M.; MUSTONEN, V. Social rhythms of the heart. Health Sociology Review, n. July, p. 1–16, 2016.

PINK, S.; FORS, V. Being in a mediated world: self-tracking and the mind–body–environment. Cultural Geographies, v. 24, n. 3, p. 375–388, 2017.

RALLS, J. Fitbit’s 100+ Billion Hours of Resting Heart Rate User Data Reveals Resting Heart Rate Decreases After Age 40. Fitbit Press Releases, p. 1–5, 2018.

RUCKENSTEIN, M.; PANTZAR, M. Beyond the Quantified Self: Thematic exploration of a dataistic paradigm. New Media & Society, n. October, 2015.

RUCKENSTEIN, M.; SCHÜLL, N. D. The Datafication of Health. Ssrn, 2017.

SMITH, G. J. D.; VONTHETHOFF, B. Health by numbers? Exploring the practice and experience of datafied health. Health Sociology Review, v. 26, n. 1, p. 6–21, 2017.

STRAUSS, A.; CORBIN, J. Pesquisa Qualitativa: Técnicas e Procedimentos para o Desenvolvimento de Teoria Fundamentada. Traducao Luciane de Oliveira Rocha. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.

TILL, C. Exercise as Labour: Quantified Self and the Transformation of Exercise into Labour. Societies, v. 4, n. SEPTEMBER 2014, p. 446–462, 2014.

TRIPATHI, S. et al. Socio-economic impact of mHealth: An assessment report for Brazil and Mexico. n. June 2013, 2013.

VAN DIJCK, J. et al. Understanding the promises and premises of online health platforms. Big Data & Society, v. 3, n. June, p. 1–11, 2016.

VESNIC-ALUJEVIC, L.; BREITEGGER, M.; GUIMARÃES PEREIRA, Â. Do-It-Yourself? Healthcare? Quality of Health and Healthcare Through Wearable Sensors. Science and Engineering Ethics, p. 1–18, 2016.

WHITSON, J. R. Foucault’s Fitbit: Governance and Gamification. In: WALZ, STEFFEN, P.; DETERDING, S. (Eds.). . The Gameful World. Approaches, Issues, Applications. London: MIT Press, 2015. p. 339–358.

WOLF, G. The data-driven life. The New York Times, v. 28, p. 2010, 26 abr. 2010.

ZUBOFF, S. Big other: Surveillance capitalism and the prospects of an information civilization. Journal of Information Technology, v. 30, n. 1, p. 75–89, 2015.

Downloads

Publicado

2020-07-31

Edição

v. 16 n. 1 (2020)

Seção

Artigos

Licença

Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:

  1. Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
  2. A licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional permite a cópia e a redistribuição do material em qualquer suporte ou formato, assim como adaptações, para quaisquer fins, inclusive comerciais.
  3. Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.