Variação e mudança dos usos dos verbos leves dar, fazer, ter e tomar: uma abordagem funcional-construcionista
DOI:
https://doi.org/10.5007/1984-8420.2024.e100293Palavras-chave:
Linguística Funcional Centrada no Uso, Gramática de Construções, Verbos leves, ColocadosResumo
Este artigo tem como objeto de análise a construção formada com os verbos leves dar, fazer, ter e tomar + SN. O objetivo principal é investigar os processos de variação e mudança por que passam esses verbos e seus colocados em duas sincronias – séculos XVIII e XX – com base em instâncias reais de gramática em uso. O modelo teórico adotado é a Linguística Funcional Centrada no Uso, com contribuições da Gramática de Construções (Furtado da Cunha; Bispo, 2013; Oliveira; Rosário, 2016). Este estudo assume a hipótese de que orações com esses verbos são usadas para satisfazer demandas comunicativas e cognitivas bem recortadas, discursivamente motivadas. A metodologia de análise é qualiquantitativa (Cunha Lacerda, 2016). Os dados do século XX têm como fonte diferentes corpora que compreendem situações de fala e escrita; e a pesquisa diacrônica utiliza, como universo de investigação, o corpus do projeto Tycho Brahe. Os resultados obtidos comprovam que, na sincronia mais recente, as combinações [VerboLEVE + SN] são recorrentes no uso discursivo da língua, formando uma unidade de pareamento forma-função – uma construção – relativamente rígida em termos posicionais e lexicais. Os dados coletados possibilitaram a constatação de que essas combinações apresentam variação dentro de cada sincronia e entre as sincronias observadas. Sob o viés diacrônico, passaram por mudança em termos de colocados e da ordenação dos SN que coocorrem com os verbos leves.
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