Manutenção linguística e a variável ‘grau de ruralidade’ em foco
um instrumento metodológico para análise de fenômenos linguísticos rurais
Palabras clave:
Alternância vocálica, Manutenção linguística, Variação morfofonológica, RuralidadeResumen
Esta investigação tem como foco a manutenção linguística a partir da descrição quantitativa e qualitativa do fenômeno variável da alternância vocálica precedente ao sufixo de PN /mos/, nos verbos regulares de 1ª e 2ª conjugação, em formas canônicas, como falamos e aprendemos, e não canônicas, como falemo e aprendimo, bem como sua relação com a ruralidade e o conservadorismo linguístico. Trata-se de uma pesquisa no âmbito da Teoria da Variação e da Mudança (cf, Labov, 2008 [1972], 1982, 1994; Weinreich, Labov, Herzog, 2006 [1968]; Guy, 1981, 2000), Dialetologia (Vasconcelos, 1901; Boléo, 1943; Melo, 1946) e Linguística Histórica (Castilho, 1968, 1992, 2016). Tomamos por base a defesa de Naro e Scherre (2003) de que áreas rurais constituem-se em “ilhas de conservadorismo linguístico” ao manterem usos de um português menos recente (dos séculos XIX e XX, considerado pelos dialetólogos como “português moderno”). Nossa amostra é composta por 168 entrevistas sociolinguísticas do banco-base VARLINFE (Variação Linguística de Fala Eslava) – vinculado ao NEES (Núcleo de Estudos Eslavos), da UNICENTRO (câmpus Irati), de característica majoritariamente rural. A análise quantitativa considerou algumas variáveis linguísticas e extralinguísticas, sendo selecionada, pelo programa de análise multivariada GOLDVARB-X, a variável linguística complexa ‘grau de ruralidade’, construída especificamente para este estudo com base em estudos dialetológicos que mapearam fenômenos rurais e conservadores da língua. Assim, foram eleitas algumas particularidades linguísticas consideradas rurais e, a cada informante entrevistado, fez-se uma escala de uso, considerando três graus de ruralidade: baixo, médio e alto. Os resultados mostraram que o uso das variantes não-canônicas (/e/ em “falemo” e /i/ em “aprendimo”) estava significativamente inter-relacionado ao alto grau de ruralidade dos informantes, um indício de que seu uso seja mais proeminente em contextos de conservadorismo linguístico e, consequentemente, de manutenção linguística de formas conservadoras. Acreditamos que o uso da variável independente interna ‘grau de ruralidade’ possa auxiliar pesquisadores a trabalharem com fenômenos rurais variáveis e também com o tópico ainda pouco explorado (cf. Ribeiro e Lacerda, 2013) da manutenção linguística.
Citas
AMARAL, A. O dialeto caipira. 3.ed. São Paulo: Hucitec, 1976 [1920].
BORTONI-RICARDO, S. M. Nós cheguemu na escola e agora? Sociolinguística e educação. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.
BORTONI-RICARDO, S. M. Do campo para a cidade: estudo sociolinguístico de migração e redes sociais. São Paulo: Parábola Editorial, 2011.
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. A concordância verbal em português: um estudo de sua significação social. In: VOTRE, Sebastião; RONCARATI, Cláudia (org.). Anthony Julius Maro e a Linguística no Brasil: um abordagem acadêmica. Rio de Janeiro: 7Letras, 2008, p. 362-380.
BORTONI-RICARDO, S. M; VELLASCO, A. M. de M. S.; FREITAS, V. A. de L. O falar candango: análise sociolinguística dos processos de difusão e focalização dialetais: estudo sociolinguístico de migração e redes sociais. Brasília: Editora UnB, 2010.
CARDEIRA, Esperança. O essencial sobre a história do português. Lisboa: Caminho, 2006
CASTILHO, Ataliba T. de. Introdução ao estudo do aspecto verbal na língua portuguesa. Marília - SP, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Tese de Doutorado, 1968.
CASTILHO, A. T. de. O Português do Brasil. In: ILARI, Rodolfo. Linguística Românica. São Paulo, Ática, p. 237-285, 1992.
CASTILHO, Ataliba T. de. Nova gramática do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2016.
COSTA, I. B. O verbo na fala de camponeses: um estudo de variação. Tese de Doutorado. Campinas: Universidade de Campinas, 1990.
ELIA, Sílvio. Ensaios de Filologia Linguística. Rio de Janeiro: Grifo, 1975.
FOEGER, Camila Candeias; YACOVENCO, Lilian Coutinho; SCHERRE, Maria Marta Pereira. A primeira pessoa do plural em Santa Leopoldina/ES: correlação entre alternância e concordância Letrônica. Porto Alegre, v. 10, n. 1, p. 5-17, janeiro-junho, 2017.
FROSI, V.; MIORANZA, C. Dialetos italianos. Caxias do Sul: EDUCS, 1983.
LABOV, W. Padrões sociolinguísticos. Tradução de Marcos Bagno, Marta Pereira Scherre, Caroline Rodrigues Cardoso. São Paulo: Parábola Editorial, 2008 [1972].
LABOV, W. Language in the Inner City: The Black English Vernacular. Philadelphia: University of Pennsylvania Press. 255-92, 1972.
LABOV, W. Building on Empirical Foundations. In: LEHMANN, W.P.; MALKIEL, Y. Perspectives on historical Linguistics (eds.). Amsterdam/Philadelphia: Johns Benjamin Publishing Company, 1982.
LABOV, W. Principles of linguistic change: Internal factors. Cambridge: B. Blackwell, 1994.
LABOV, W. Principles of linguistic change – Social factors. Cambridge: B. Blackwell, 2001.
LABOV, W. The social stratification of English in New York City. 2. ed. New York: Cambridge University Press, 2006a.
MILROY, L. (1992). Linguistic variation and change. On the historical sociolinguistics of
English. GB: Brasil Blackwell.
NARO, A. J.; GÖRSKI, E.; FERNANDES, E. Change without change. Language Variation and Change, v. 11, n. 2, p. 197-211, 1999.
NARO, Anthony Julius; SCHERRE, Maria Marta Pereira. Origens do português brasileiro. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
NARO, A. J.; SCHERRE, M. M. P. Variação e mudança linguística: fluxos e contrafluxos na comunidade de fala. Cadernos de Estudos Lingüísticos, Campinas, SP, v. 20, p. 9-16, 2012. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cel/article/view/8636853. Acesso em: 10 out. 2020.
PEREIRA, Ivelã. Cuidamo(s) e cuidemo(s): a variação morfêmica na p4 em verbos regulares de 1ª conjugação. Working Papers em Linguística, v. 2, n. 14, p. 49-71, Florianópolis, ago/dez. 2014.
PEREIRA, Ivelã. A voz de polono-brasileiros: um contexto histórico sul-paranaense. Working Papers em Linguística. Florianópolis, 18(1): 23-45, jan./jul., 2017.
PEREIRA, Ivelã. O caso de –a-mo(s) versus –e-mo(s) e –e-mo(s) versus –i-mo(s): variação morfêmica ou especialização temporal? Caderno Seminal Digital Especial, nº 1, v. 1, jan-dez, 2018.
PEREIRA, Ivelã. “O pirogue, nós aprendimo da mãe” e “agora nós mudemo o borscht”: variação morfofonológica em comunidades rurais eslavo-brasileiras no sudeste do Paraná. Tese (doutorado). Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão, Programa de Pós-Graduação em Linguística, Florianópolis, 2021.
PEREIRA, Ivelã; LEHMKUHL-COELHO, Izete; LOREGIAN-PENKAL, Loremi. Variação na concordância Verbal de nós no presente e pretérito perfeito em Verbos regulares de 1ª e 2ª conjugação: produtiva no sudeste paranaense? Signótica. Goiânia, v. 28, n. 2, p. 481-508, jul./dez. 2016.
PEREIRA, Ivelã; MARGOTTI, Felício Wessling. Sobre onde nós fiquemo: mapeamento diatópico de um traço rural brasileiro. Web-Revista SOCIODIALETO – NUPESDD / LALIMU, v. 8, nº 24, mar, 2018.
VANDRESEN, Paulino. Fonologia do vestfaliano de Rio Fortuna. Dissertação de Mestrado. (Programa de Pós-Graduação em Lingüística). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: UFRJ, 1968.
VANDRESEN, Paulino. Línguas em contato: um panorama da pesquisa no Brasil. In: SAVEDRA BARRETO, M.M.G.; SALGADO, A.C.P. (Orgs.) Sociolinguística no Brasil: uma contribuição dos estudos sobre línguas em/de contato. Homenagem ao prof. Jürgen Heye. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 6-16.
VASCONCELOS, J. L. de. Esquisse d’une dialectologie portugaise. Lisboa: Centro de Estudos Filológicos, 1970 [1901].
WEINER, J.; LABOV, W. Constraints on the agentless passive. Journal of Linguistics 19, 1983.
WEINREICH, Uriel. Languages in contact: findings and problems. New York: De Gruiter, 1953.
WEINREICH, U; LABOV, W; HERZOG, M. Empirical foundations for a theory of language change. In: W. LEHMANN; Y. MALKIEL (eds.). Directions for Historical Linguistics. Austin: University of Texas Press, 1968.
WEINREICH, U.; LABOV, W.; HERZOG, M. Fundamentos empíricos para uma teoria da mudança linguística. Tradução de Marcos Bagno. São Paulo: Parábola, 2006 [1968].
ZILLES, A. M. S.; MAYA, L.; SILVA, K. A concordância verbal com a primeira pessoa do plural em Panambi e Porto Alegre, RS. Organon, Porto Alegre, v.14, n.28/29, p.195-219, 2000.
ZILLES, A. M.; BATISTA, H. H. A concordância verbal na primeira pessoa do plural na fala culta de Porto Alegre. In: VANDRESEN, Paulino (org.). Variação, mudança e contato linguístico no português da região sul. Pelotas: EDUCAT, p. 100-124, 2006.
RIBEIRO, P. R. O. (2013). O perfil sociolinguístico do município de Oliveira Fortes-MG: a concordância nominal e verbal. Dissertação de Mestrado. Juiz de Fora: Universidade Federal de Juiz de Fora.
RIBEIRO, Patrícia Rafaela Otoni; LACERDA, Patrícia Fabiane Amaral da Cunha. Variação, Mudança e não mudança linguística: ressignificando o conservadorismo linguístico no português do Brasil. Revista LinguíStica / Revista do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Volume 9, número 2, dezembro de 2013. ISSN 1808-835X 1. http://www. letras.ufrj.br/poslinguistica/revistalinguistica
Descargas
Publicado
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2025 Ivelã Pereira, Loremi Loregian-Penkal

Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución-NoComercial 4.0.
Os direitos autorais de trabalhos publicados são dos autores, que cedem à Revista Working Papers em Linguística o direito de publicação, ficando sua reimpressão, total ou parcial, sujeita à autorização expressa da Comissão Editorial da revista. Deve ser consignada a fonte de publicação original. Os nomes e endereços de e-mail neste site serão usados exclusivamente para os propósitos da revista, não estando disponíveis para outros fins.
The names and email addresses entered in this journal site will be used exclusively for the stated purposes of this journal and will not be made available for any other purpose or to any other party.
Esta obra está licenciada sob licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial- 4.0 Internacional.