As origens da gramática do português: uma abordagem historiográfico-crítica
Palabras clave:
Gramática, Português, Historiografia CríticaResumen
Este texto é uma reflexão crítica sobre as origens da gramática do português, em especial sobre a crença de que a gramática tradicional padroniza os usos, tendo como referência os textos literários. Como se buscará mostrar aqui, é uma crença que, em geral, não corresponde à realidade, na medida em que, nas obras gramaticais tradicionais, predominam (quando não são únicos) os dados criados pelo próprio autor. Não há, em nenhuma delas, um corpus literário do qual se parte para as suas asserções e regras. No trato crítico dessa questão, é importante ter claro que há, aí, subjacentes duas concepções distintas de gramática, saídas de vertentes diversas dos estudos das línguas. De um lado, está a gramática vinda da tradição greco-latina (e, por isso, qualificada de tradicional), que, em tese, funda seus preceitos nos textos literários. De outro, estão os modelos gramaticais elaborados por diferentes teorias no interior da linguística, cujo escopo empírico alcança todas as manifestações da língua, quaisquer que sejam. Depois de um breve histórico da constituição da gramática tradicional, analisa-se, especificamente, as origens da gramática do português, mostrando que ela se fez, efetivamente, pela transposição da doutrina consolidada na tradição gramatical latina e pela acomodação nela da língua vernácula. A fonte da normatividade não foi propriamente o uso como tal, mas o que já estava dito nas gramáticas latinas.
Citas
ALMEIDA, N. M. de. Gramática metódica da língua portuguesa. 45. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
ANDRIEU, W. Le concept de subordination et les grammaires de l’anglais. Thèse de Doctorat. Paris: Université de Paris X – Nanterre, École Doctorale Lettres, Langues et Spectacle, 2007.
APEL, K. O. L’idea di lingua nella tradizione dell’umanesimo da Dante a Vico. Bologna: Il Mulino, 1975.
APOLÔNIO DÍSCOLO. Sintaxis. Trad. e ed.: V. B. Botas. Madrid: Gredos, 1987.
ARGOTE, J. C. de. Regras da Lingua Portugueza, espelho da lingua Latina. Lisboa: Officina da Musica, 1725.
ARNAULD, A.; LANCELOT, C. Gramática de Port-Royal. [1660] Trad. B. F. Bassetto; H. G. Murachco. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
ASSUNÇÃO, C. A arte da Grammatica da lingua portugueza de António José dos Reis Lobato: estudo, edição crítica, manuscritos e textos subsidiários. Lisboa: Academia das Ciências de Lisboa, 2000.
AZEREDO, J. C. de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. 4. ed. São Paulo: Parábola, 2018.
BACELAR, B. de L. M. Grammatica Philosophica, e Orthografia Racional da Lingua Portugueza, para se pronunciarem, e escreverem com acerto os vocabulos d’este idioma. Lisboa: S. T. Ferreira, 1783.
BAGNO, M. Uma história da linguística. Tomo 1. São Paulo: Parábola, 2023.
BARBOSA, J. S. Grammatica Philosophica da Lingua Portugueza ou principios da grammatica geral applicados á nossa linguagem. Lisboa: Academia das Sciencias, 1822.
BARROS, J. Grammatica da lingua portuguesa. Lisboa: apud Lodovicum Rotorigiũ Typographum, 1540.
BECCARI, A. J. Tratado sobre os modos de significar ou Gramática especulativa, de Tomás de Erfurt. Curitiba: Editora da UFPR, 2017.
BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2000.
BECKER, K. F. Grammar of the German Language. London: John Murray, 1830.
BEZERRA, M. S. da S. Compendio de grammatica philosophica. Ceará: Typ. Social, 1861.
BOÉCIO DA DÁCIA. Modi significandi sive quaestiones super priscianum maiorem. In: McDERMOTT, A. C. S. (ed.) Goffrey of Fontaine’s abridgement of Boetius of Dacia’s modi significandi sive questiones super priscianum maiorem. Amsterdam: John Benjamin B. V., 1980.
BORGES NETO, J. Gramática tradicional e linguística contemporâneas: continuidade ou ruptura? Todas as Letras, São Paulo, v. 14, n. 1, p. 87-98, 2012.
BORGES NETO, J. Prefácio. In: BECCARI, A. J. Tratado sobre os modos de significar ou Gramática especulativa, de Tomás de Erfurt. Curitiba: Editora da UFPR, 2017, p. 13-18.
BORGES NETO, J. História da gramática. Curitiba: Editora da UFPR, 2022.
BUFFIER, C. Grammaire Françoise sur un plan nouveau pour en rendre les principes plus clairs & la pratique plus aisée. Paris: Nicolas Le Clerc, Michel Brunet, Leconte et Montalant, 1709.
CASTILHO, A. T. de. Nova gramática do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2010.
CASTILHO, A. T. de. (coord.) Gramática do português culto falado no Brasil. 7 volumes. São Paulo: Contexto, 2013-2016.
CASTILHO, A. T. de. (coord.) História do português brasileiro. 11 volumes. São Paulo: Contexto, 2018-2022.
CONDILLAC, E. de. Grammaire (Cours d’études pour l’instruction du Prince de Parme). In: Oeuvres completes de Condillac, revue, corrigées par l’auteur et imprimées sur ses manuscrits autographes. Tome huitième. Paris: Chez Dufart, 1803, p. 3-384.
DIDEROT, D.; D’ALEMBERT, J. le R. (Orgs.). Encyclopédie, ou dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers. 35 vol. Paris: Briasson, David, Le Breton, Durand, 1751-1772. Disponível em: https://enccre.academie-sciences.fr. Acesso em: 14 maio 2024. Vários verbetes foram traduzidos para o português e publicados pela Editora da UNESP em 6 volumes (2015-2017).
DIOMEDES. Artis Grammaticae. Libri III. In: Grammatici Latine – ex recensione Heinrich Keil. V. 1. Lipsiae (Leipzig): B. G. Teubner, 1857, p. 297-529.
DIONÍSIO TRÁCIO. Tékhne Grammatiké. In: CHAPANSKI, G. Uma tradução da Tékhne Grammatike, de Dionísio Trácio, para o português. Dissertação (Mestrado em Letras). Curitiba: Universidade Federal do Paraná – Programa de Pós-Graduação em Letras, 2003. Disponível em: https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/24818. Acesso em 14 maio 2024.
DONATO. Ars Minor e Ars Maior. Ed. crítica. In: HOLTZ, L. Donat et la tradition de l’enseignement grammatical. Paris: Centre National de la Recherche Scientifique, 1981, p. 585-674. Trad. para o português: DEZOTTI, L. C. Arte menor e Arte maior de Donatos: tradução, anotação e estudo introdutório. Dissertação (Mestrado em Letras). São Paulo: Universidade de São Paulo – Programa de Pós-Graduação em Letras Clássicas, 2011.
DUARTE, A. da C. Compendio de grammatica philosophica da lingua portugueza. Maranhão: Typ. Nacional, 1829.
ELIAS, N. Norbert Elias por ele mesmo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2001.
ESCALÍGERO (SCALIGER), J. C. De causis linguae latinae. [1540] Ed. et Trad.: Pierre Larder; Geneviève Clerico; Bernard Colombat. Genève: Droz, 2018.
FARACO, C. A. Quintiliano: Ars Oratoria e educação linguística. In: BECCARI, A. J.; BINATO, C. V. P.; FERREIRA, E. A. G. R. (orgs.). Retórica - perspectiva histórica e atualidade. Campinas: Mercado de Letras, 2018, p. 15-40.
FARACO, C. A.; VIEIRA, F. E. (eds.) Gramáticas brasileiras: com a palavra os leitores. São Paulo: Parábola, 2016.
FARACO, C. A.; VIEIRA, F. E. A linhagem empirista na gramática do século 18. Revista da ABRALIN, v. 20, n. 3, p. 464-492, 2021. DOI: 10.25189/rabralin.v20i3.1963. Acesso em: 20 abr. 2023.
FARACO, C. A.; ZILLES, A. M. Para conhecer norma linguística. São Paulo: Contexto, 2017.
FONSECA, P. J. da. Rudimentos da grammatica portugueza. Lisboa: Off. de Simão Thaddeo Ferreira, 1799.
FREIRE, L. Regras práticas para bem escrever. Rio de Janeiro: Editora A Noite, s.d.
GIRARD, G. Vrais Principes de la Langue Française, ou la parole réduite en méthode conformement aux lois de l’usage. Tome I. Paris: Chez Le Breton, 1747.
GONÇALVES, M. F. Iluminismo e pensamento linguístico em Portugal: o exemplo das gramáticas filosóficas. Actes VII Congrés de Lingüística General. CDRom. Barcelona: Universitat Barcelona - Departament de Lingüística General, 2006, p. 146.
GRIVET, A. Nova Grammatica Analytica da Lingua Portugueza. Rio de Janeiro: Typ. De G. Leuzinger & Filhos, 1881.
HENRIQUES, C. C. Nomenclatura gramatical brasileira: 50 anos depois. São Paulo: Parábola, 2009.
HOLTZ, L. Donat et la tradition de l’enseignement grammatical. Paris: Centre National de la Recherche Scientifique, 1981.
LAW, V. The History of Linguistics in Europe: from Plato to 1600. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.
LOBATO, A. J. dos R. Arte da grammatica da lingua portugueza. Lisboa: Regia Officina Typografica, 1770.
LOUREIRO, L. T. de. Grammatica razoavel da lingua portugueza. Rio de Janeiro: Typ. Imp. Nac., 1828.
MACIEL, Maximino. Lingua Portugueza – Grammatica Descriptiva. [1894] 9. ed. aum. e refund. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1925.
MELO, J. C. do C. e. Gramática Filosofica da Linguagem Portuguêza. Lisbôa: Impressão Régia, 1818.
MULINACCI, R. Moderna Gramática Portuguesa: habemus grammaticam? In: FARACO, C. A.; VIEIRA, F. E. (eds.) Gramáticas brasileiras: com a palavra os leitores. São Paulo: Parábola, 2016, p. 113-147.
NEBRIJA, E. A. de. Gramática castellana. [1492] Introducción y notas de Miguel Ángel Esparza y Ramón Sarmiento. Madrid: Fundación Antonio Nebrija/SGEL, 1992. Disponível em: https://bdh-rd.bne.es/viewer.vm?id=0000174208&page=1. Acesso em: 14 maio 2024.
NEBRIJA, E. A. de. Instructiones latinae-Recognitio. Introdución, edición crítica, tradución y notas de Eustaquio Sánchez Salor, Santiago Lopez Moreda, Maria Luisa Harto Moreda y Joaquin Villalba Álvarez. Vol. 1 y 2. Cáceres: PublicaUEx Editorial, 2022.
NEBRIJA, E. A. de. Introducciones latinas contrapuesto el romance al latin. [c.1488] Edição crítica de Miguel Angel Esparza e Vicente Calvo. Munster: Nodus Publikationen, 1996.
OLIVEIRA, F. de. A Gramática da linguagem portuguesa. Introdução, leitura actualizada e notas por Maria Leonor Carvalhão Buescu. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1975.
PEREIRA, M. A. Quintiliano gramático:o papel do mestre de Gramática na Institutio Oratoria. 2. ed. São Paulo: Humanitas, 2005.
PRETE, M. O perfil teórico-metodológico da Grammatica Portugueza de Júlio Ribeiro. Tese (Doutorado em Filologia e Língua Portuguesa). São Paulo: Universidade de São Paulo – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, 2020.
PRISCIANO. Institutionum Grammaticarum Libri I-XII – ex recensione Martin Hertz. In: Grammatici Latini – ex recensione Heinrich Keil. Vol. II. Lipsias (Leipzig): B. G. Teubner, 1855. PRISCIEN. Grammaire. Texto latino e trad. para o francês dos livros XI e XII: Groupe Ars Grammatica. Paris: J. Vrin, 2020.
PRISCIANO. Institutionum Grammaticarum Libri XIII-XVIII – ex recensione Martin Hertz. In: Grammatici Latini ex recensione Heinrich Keil. Vol. III. Lipsias (Leipzig): B. G. Teubner, 1858. PRISCIEN. Grammaire. Texto latino e trad. para o francês dos livros XIII a XVIII: Groupe Ars Grammatica. Paris: J. Vrin, 2010-2020.
QUINTILIANO, M. F. Instituição oratória. Tomos I-IV. Ed. em latim e português. Trad. e notas Bruno F. Bassetto. Campinas: Editora da UNICAMP, 2015-2016.
REAL ACADEMIA ESPAÑOLA. Gramática de la Lengua Castellana. Madrid, 1771.
REIS, F. S. Grammatica Portugueza. [1866] 2. ed. revista, corrigida e annotada. Maranhão: Typ. De R. d’Almeida & C. Editores, 1871.
RIBEIRO, J. Grammatica portugueza. São Paulo: Typ. de Jorge Seckler, 1881.
RIBEIRO, J. Grammatica portugueza. 2. ed. São Paulo: Typ. De Jorge Seckler, 1884.
SACERDOTE, M. P. Artium Grammaticarum. In: Scriptores Artis Metricae – ex recensione Heinrich Keil. Lipsiae (Leipzig): B. G. Teubner, 1874, p. 427-546.
SANCHEZ DE LAS BROZAS, F. Minerva, seu de causis linguae latinae. [1587] Commentarius Gasp. Scioppius & Jac. Perizoni. Amstelaedami: Fratrum de Tournes, 1761.
SANCHEZ DE LAS BROZAS, F. Minerva, seu de causis linguae latinae. Trad. para o espanhol: SÁNCHEZ SALOR, E.; CHAPARRO GÓMEZ, C. (eds.) Cáceres: Institución Cultural El Brocense, 1995.
TOMÁS DE ERFURT. Tractatus de modis significandi seu grammatica speculativa. (c. 1300) Tradução para o português: BECCARI, A. J. Tratado sobre os modos de significar ou Gramática especulativa, de Tomás de Erfurt. Curitiba: Editora da UFPR, 2017.
VALLA, L. Elegantiae linguae latinae. [1441] S. LÓPEZ MOREDA (ed.) Cáceres: Univerisdad de Extremadura, 1999.
VIEIRA, F. E. Gramáticas brasileiras contemporâneas do português: movimentos de ruptura e linhas de continuidade com o paradigma tradicional de gramatização. Tese (Doutorado em Linguística). Recife: Universidade Federal de Pernambuco – Programa de Pós-Graduação em Letras, 2015.
VIEIRA, F. E. Tradição gramatical: história, epistemologia e ensino. In: VIEIRA, F. E.; BAGNO, M. (Orgs.). História das línguas, histórias da Linguística: homenagem a Carlos Alberto Faraco. São Paulo: Parábola Editorial, 2020. p. 85-125.
VIEIRA, F. E.; FARACO, C. A. Gramática do português brasileiro escrito. São Paulo: Parábola, 2023.
VIEIRA, F. E.; FARACO, C. A. A construção de um padrão exonormativo para o português do Brasil. In: SOUSA, S. C. T. de; BRAGA, A. (Orgs.). A dimensão política da língua(gem): perspectivas da Linguística Aplicada e das Teorias do Discurso. Campinas, SP: Pontes, 2024 (no prelo).
Descargas
Publicado
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2025 Carlos Alberto Faraco

Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución-NoComercial 4.0.
Os direitos autorais de trabalhos publicados são dos autores, que cedem à Revista Working Papers em Linguística o direito de publicação, ficando sua reimpressão, total ou parcial, sujeita à autorização expressa da Comissão Editorial da revista. Deve ser consignada a fonte de publicação original. Os nomes e endereços de e-mail neste site serão usados exclusivamente para os propósitos da revista, não estando disponíveis para outros fins.
The names and email addresses entered in this journal site will be used exclusively for the stated purposes of this journal and will not be made available for any other purpose or to any other party.
Esta obra está licenciada sob licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial- 4.0 Internacional.