Eu lhe alembro a você: sobre o lugar de vossa mercê e você na história do português
DOI:
https://doi.org/10.5007/1984-8420.2019v20n2p85Resumo
A mudança nas normas de polidez afeta e reconfigura o sistema de tratamentos de uma dada língua. Localizar fontes primárias escassas, como os manuscritos quinhentistas e seiscentistas, permite que se estude, para além das formas de tratamento, a formação de um novo acordo de polidez, assentado em uma nova sociedade que começa a se formar em meados do século XVI na América Portuguesa. São índices desse novo sistema as formas vossa mercê e você. Os arranjos feitos no início do processo de colonização afetaram as formas e funções de cortesia do que viria a se tornar o português brasileiro (PB), daí a ênfase que damos aos séculos XVI e XVII. Investigamos neste texto (a) fontes documentais manuscritas quinhentistas e seiscentistas que trazem ocorrências abundantes de vossa mercê e que nunca foram analisadas em pesquisas sobre formas de tratamento; (b) o uso das formas vossa mercê e você a partir de uma obra literária e de fontes metalinguísticas; e tecemos observações à luz da investigação proposta. Uma das contribuições deste artigo é a atestação do terminus a quo da palavra você, que data de 1638. Outras decorrências da análise levada a cabo são a defesa de uma necessária interdisciplinaridade dos estudos de Filologia, Paleografia e Linguística Histórica, além da constituição de um diálogo efetivo entre os projetos coletivos estaduais que pesquisam a história do PB, considerando-se sua sócio-história comum.
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