O uso variável de [-ste] na página Tal qual dublagens e a construção de identidade social

Autores

  • Kamilla Oliveira do Amaral Universidade Federal de Santa Catarina

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-8420.2021e76807

Resumo

O presente estudo tem como objetivo analisar a realização variável de [-STE] na página do Instagram Tal Qual Dublagens – constituída principalmente por curtos vídeos de dublagens produzidos pelo comediante Gustavo Libório –, verificando a existência de significados socioidentitários indexicalizados pelo referido morfema. Para esta pesquisa, observamos a dinâmica interacional da Tal Qual Dublagens, que interpretamos como uma comunidade de práticas (ECKERT, 2006), e analisamos 302 ocorrências de [-STE], mapeadas durante a etnografia virtual (HINE, 2000) realizada na página. A partir da análise verificamos que [-STE] conta com cinco formas alternativas que estão relacionadas a alterações morfofonéticas. São elas: -ste, -stes, -stis, -rte e -rtes. Cada uma das cinco formas indexicaliza concomitantemente diferentes instâncias de significação: uma referente ao significado semântico-pragmático do morfema (expressão de segunda pessoa do singular) e a outra ao significado social, que carrega valores identitários e ideológicos dos sujeitos da referida comunidade. Este significado se distribui em diferentes camadas: uma relacionada a macrocategorias e outra a relações de grupo (seja de grupo regional, de grupo gay, ou de grupo social, como a CP Tal Qual Dublagens).

Biografia do Autor

Kamilla Oliveira do Amaral, Universidade Federal de Santa Catarina

Mestre em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina

Referências

AMARAL, K. O. do. Enfraquecimento das fricativas na fala manaura retratado na página Tal Qual Dublagens. 2016. Trabalho de Conclusão de Curso (Curso de Letras). Universidade do Estado do Amazonas, 2016.

AMARAL, K. O. do. Emergência de usos linguísticos inovadores em comunidades de práticas: o caso de [-STE] na página Tal Qual Dublagens. Working Papers em Linguística. Gramática do uso, v.21, n. 1, p. 168-196, 2020a.

AMARAL, K. O. do. Emergência de usos, variação e identidade: o caso de [-STE] na página Tal Qual Dublagens. 2020. 257 f. Dissertação [Mestrado em Linguística] – Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2020b.

BABILÔNIA, L.; MARTINS, S. A influência dos fatores sociais dos pronomes tu/você na fala manauara. Revista Guavira Letras. Três Lagoas, v. 13, p. 46-60, 2015.

BARBUIO, E. Percepção da orientação sexual de homens gays e heterossexuais por meio de características acústicas da fala. 2016. 137 f. Tese (Doutorado em Linguística). Programa de Pós-Graduação em Linguística (CCHLA/UFPB), João Pessoa, 2016.

BARROSO, R. Pajubá: o código linguístico da comunidade LGBT. 2017. 153 f. Dissertação (Mestrado em Letras e Artes). Universidade do Estado do Amazonas. Manaus, 2017.

BLOMMAERT, J. Discourse: A Critical Introduction. Cambridge: Cambridge University Press (Key Topics in Sociolinguistics), 2005.

BRUBAKER, R.; COOPER, F. Beyond “identity”. Theory and Society 29. p. 1-47, 2000.

COUPLAND, N. The Sociolinguistics of Style. In: MESTHRIE, R. (Ed.). The Cambridge Handbook of Sociolinguistics. Cambridge: CUP, p. 138-156, 2011.

ECKERT, P.; MCCONNELL-GINET, S. Constructing meaning, constructing selves: Snapshots of language, gender and class from Belten High. In Kira Hall & Mary Bucholtz (Ed.), Gender Articulated: Language and the socially constructed self. London: Routledge, 1995. p. 459-507.

ECKERT, P. Linguistic variation as social practice. Oxford: Blackwell, 2000.

ECKERT, P. Variation, convention, and social meaning. Paper presented at the Annual Meeting of the Linguistic Society of America. Oakland, 2005.

ECKERT, P. Communities of Practice. In: BROWN, K.; ANDERSON, H. (Ed.) Encyclopedia of Language and Linguistics, V. 2, Oxford, Elsevier, p.683-685, 2006.

ECKERT, P. Variation and the indexical field. Journal of Sociolinguistics, v. 12, n. 4, p. 453-476, 2008.

ECKERT, P. Three waves of variation study: the emergence of meaning in the study of sociolinguistic variation. Annual Review of Anthropology, n. 41, p. 87-100, 2012.

ECKERT, P. Third wave variationism. 2016. Disponível em: http://www.oxfordhandbooks.com/view/10.1093/oxfordhb/9780199935345.001.0001/oxfordhb9780199935345-e-27.

ECKERT, P. Meaning and linguistic variation: The third wave in sociolinguistics. Cambridge: Cambridge University Press, 2018.

HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva e Guarareira Lopes Louro. 10 ed. Rio de Janeiro: DP & A, 2006.

HINE, C. Virtual Ethnography. London: SAGE Publications, 2000.

IRVINE, J. Style as distinctiveness: The culture and ideology of linguistic differentiation. In: ECKERT, P.; RICKFORD, J. (Ed.). Stylistic variation in language. Cambridge, UK: Cambridge University Press, p. 21-43, 2001.

IRVINE, J; GAL, S. Language ideology and linguistic differentiation. In: KROSKRITY, P. V. (Ed.). Regime of language: Ideologies, polities, and identities. Santa Fe: School of American Research Press, p. 35-84, 2000.

JAFFE, A. Stance: Sociolinguistic perspectives. Oxford Studies in Sociolinguistics. Oxford: Oxford University Press, - Volume 46 Issue 2, p. vii+261, 2009.

JUNG, C. G. Memórias, Sonhos e Reflexões. Reunidas e editadas por Aniela Jaffé. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975.

KIESLING, S. F. Constructing Identity. In: CHAMBERS, J. K.;TRUDGILL, P; SCHILLING, N. (Ed.). The Handbook of Language Variation and Change. 2. ed. Oxford, U.K.: Blackwell, p. 448-467, 2013.

LABOV, W. The social stratification of English in New York City. Washington, DC: Center for Applied Linguistics, 1966.

LABOV, W. Padrões sociolinguísticos. São Paulo: Parábola Editorial, 2008 [1972].

MARTINS, S; MARTINS, V. Particularidades do uso dos pronomes de segunda pessoa no falar do manauara: um estudo no panorama da variação pronominal do português do Brasil. InterDISCIPLINARY Journal of Portuguese Diaspora Studies, V. 3.1, p. 177-195, 2014.

SCHERRE, M; DIAS, E. P; ANDRADE, C; MARTINS, G. F. Variação dos pronomes Tu e você. In: MARTINS, M. A; ABRAÇADO, J. (Org.) Mapeamento sociolinguístico do português brasileiro. São Paulo: Contexto, p. 133-172, 2015.

SCHILLING, N. Investigating stylistic variation. In: CHAMBERS, J. K., TRUDGILL, P.; SCHILLING, N. (Ed.). The handbook of language variation and change. 2. ed. Malden: Blackwell, 2013, p. 327-349.

SILVA FILHO, M. R; PALHETA, S. P. Ser ou não ser? Os gays em questão: uma leitura antropológica das gírias utilizadas pelos homossexuais em Belém-PA. In: CD Virtual da 26ª RBA, Porto Seguro-BA, 2008.

SILVERSTEIN, M. Indexical order and dialectics of sociolinguistic life. Language & communication, University of Chicago, n.23, p.193-229, 2003.

SILVERSTEIN, M. Pragmatic Indexing. In: MEY, J. L. Concise Encyclopedia of Pragmatics. London: Elsevier, p. 756-759, 2009.

STETS, J. E.; BURKE, P. J. Identity Theory and Social Identity Theory. Social Psychology Quarterly, 63, p. 224-237, 2000.

TARALLO, F. A pesquisa sociolingüística. 2. ed. São Paulo: Ática, 1986.

VASCONCELLOS, S. A interferência dialetal na representação gráfica de fricativas na escrita de manauaras. 2017. 24 f. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade do Estado do Amazonas, Manaus, 2017.

WELLMANN, B. ‘Physical Place and Cyber-Place: The rise of Networked Individualism’. Paper presented to Community Informatics: Connecting communities through the web. University of Teeside, 2000.

Publicado

2021-09-13