Prosódia dialetal e estruturas sintáticas: resultados preliminares sobre a materialização do desgarramento nos falares de João Pessoa e de Porto Alegre
DOI:
https://doi.org/10.5007/1984-8420.2023.e93134Palavras-chave:
Orações desgarradas, Prosódia Dialetal, Entoação, SintaxeResumo
Este artigo investiga a realização prosódica de orações adverbiais anexadas à oração matriz e de orações desgarradas nos falares de João Pessoa e de Porto Alegre, com base nos pressupostos da Fonologia Prosódica (Nespor; Vogel, 2007) e no modelo Autossegmental e Métrico da Fonologia Entoacional (Pierrehumbert, 1980; Ladd, 2008). O corpus de análise é constituído por 720 orações – 360 de cada localidade – e foram observados o contorno melódico, a duração e a gama de variação da F0 no fim do sintagma entoacional (IP). O estudo do fenômeno na fala de indivíduos pessoenses e portoalegrenses visa, além de descrever se o desgarramento será materializado de forma semelhante ao descrito por Silvestre (2021) para a capital fluminense, observar se traços fonéticos regionais, descritos anteriormente em estudos prosódicos sobre orações assertivas neutras (Cunha, 2000; Lira, 2009; Silva, 2011; Silvestre 2012; Castelo, 2016), também se manifestam nas orações desgarradas de João Pessoa e de Porto Alegre ou se são neutralizados pela construção sintática específica. Os resultados revelam que o alongamento das sílabas finais é característica importante para a materialização do fenômeno de desgarramento em todos os dialetos estudados e que há, mesmo nesta estrutura sintática específica, índices relativos à prosódia regional. Em João Pessoa, é consistentemente observado o tom H+L* no início dos IPs e subida melódica na última sílaba pós-tônica dos enunciados. Em Porto Alegre, é frequente a fronteira bitonal HL% no fim do IP, com descida melódica após a sílaba tônica, característica que parece diferenciar o falar na capital gaúcha.
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