Valores modais do morfema -ra na lírica profana galego-portuguesa

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-8420.2021e75729

Resumo

Neste artigo, utilizando dados da lírica profana galego-portuguesa, analisamos os usos modais do morfema -ra no eixo passado, considerando-se seus significados de passado conjuntivo, passado condicional, passado volitivo e passado anterior ao momento de fala, bem como investigamos os efeitos do tipo de cantiga, do item lexical e da polaridade na configuração desses usos modais. Nossos dados provêm das cantigas profanas disponíveis no Tesouro Medieval Informatizado da Língua Galega e no projeto Edição, Atualização e Preservação do Património Literário Medieval Português. Os resultados apontam maior frequência modal de -ra em cantigas de amor, especialmente nas funções condicional, volitiva e conjuntiva, por vincularem-se a segredos amorosos, diferentemente das de escárnio e maldizer, que exibem um estilo mais direto. Em relação à análise lexical, nossos resultados indicam que, na função volitiva, ganham destaque os verbos modais; nas demais funções, predominam verbos de estado, cognitivos e sensitivos, em oposição aos verbos de ação e processo, mais utilizados quando o -ra codifica funções temporais. Ademais, há mais usos de -ra modal em contextos de polaridade positiva, implicando equilíbrio entre as tarefas de cognição e codificação: a expressão da irrealidade ou distanciamento da realidade via -ra é função menos frequente que a temporal, portanto, mais marcada, função codificada em contextos mais frequentes (os afirmativos), portanto, menos marcados. Decorre dessa análise a observação de que, nos usos modais do -ra, podemos aludir à irrealidade, independentemente de ser o enunciado afirmativo ou negativo.

Biografia do Autor

Márluce Coan, Universidade Federal do Ceará

Doutora em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC; Professora do Departamento de Letras Vernáculas e do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal do Ceará – UFC; Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq, nível 2; Coordenadora dos grupos de pesquisa SOCIOLIN-CE (Grupo de Pesquisas Sociolinguísticas do Ceará) e SOCIOLIN-LE (Grupo de Pesquisas Sociofuncionalistas em Línguas Estrangeiras). 

Referências

BECKER, M. From temporal to modal: divergent fates of the Latin synthetic pluperfect in Spanish and Portuguese. In: DETGES U.; WALTEREIT R. The Paradox of Grammatical Change: perspectives from romance. Amsterdam: John Benjamins, 2008. p. 147-180.

BREA, M. Lírica profana galego-portuguesa. 2 Vols. Santiago de Compostela: CILL Ramón Pifieiro, 1996.

BROCARDO, M. T. Portuguese pluperfect: elements for a diachronic approach. Linguistic Studies. Lisboa, v. 5, p.117-130, 2010.

BROCARDO, M. T. “O ‘passado do passado’ - alguns dados para a história do pretérito mais-que-perfeito em português”. Verba Hispanica, XX/1, p. 33-48, 2012.

BYBEE, J. Frequency of use and the organization of language. Oxford: Oxford University Press, 2007.

BYBEE, J.; FLEISCHMAN, S. Modality in grammar and discourse. Amsterdam, Philadelphia: John Benjamins Publishing Co, 1995.

BYBEE, J.; PERKINS, R.; PAGLIUCA, W. The Evolution of Grammar: Tense, Aspect, and Modality in the languages of the world. Chicago-USA: The University of Chicago Press, 1994.

CASTRO, I. Sete Ensaios sobre a obra de J. M. Piel. Lisboa: Faculdade de Letras de Lisboa, 1988.

AUTOR, 2003.

AUTOR et al., 2019.

AUTOR, 2020.

DUBOIS, S.; VOTRE, S. J. Análise modular e princípios subjacentes do funcionalismo linguístico. In: VOTRE, S. J. A construção da gramática. Niterói: Editora da UFF, 2012.

FIORIN, J. L. As Astúcias da Enunciação: as categorias de pessoa, espaço e tempo. São Paulo: Ática, 1996.

FLEISCHMAN, S. The future in thought and language. New York: Cambridge University Press, 1982.

FLEISCHMAN, S. Temporal Distance: A basic linguistic metaphor. IN: VERHAAR, J. W. M. Studies in Language. Amsterdam: John Benjamins Publishing Co, 1989. p. 01-50.

FOX, B. A. Principles shaping grammatical practices: an exploration. Discourse Studies, vol. 9, p. 299-318, 2007.

GILI GAYA, S. Curso superior de sintaxis española. Biblograf, Barcelona, 1973.

GIVÓN, T. A functional-typological introduction. Vol. I. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Co., 1984.

GIVÓN, T. Syntax - A functional - typological introduction. Vol. II. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Co., 1990.

GIVÓN, T. Functionalism and grammar: a prospectus. University of Oregon, 1991.

GIVÓN, T. English Grammar: a functional-based introduction. Vol. I e II.Amsterdam/ Philadelphia: John Benjamins Publishing Co., 1993.

GIVÓN, T. Functionalism and Grammar. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Co., 1995.

GIVÓN, T. Syntax: an introduction. Vol. I-II. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 2001.

HALLIDAY, M. A. K. An Introduction to Functional Grammar. Baltimore: Edward Arnold, 1985.

HEINE, B.; HÜNNEMEYER, F. From Cognition to Grammar: Evidence from African Languages. In: TRAUGOTT, E.; HEINE, B. Approaches to grammaticalization. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Co., 1991.

HOPPER, P. J. On Some Principles of Grammaticization. In: TRAUGOTT, E.; HEINE, B. Approaches to grammaticalization. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Co., 1991.

KLEIN-ANDREU, F. Losing ground: A discourse-pragmatic solution to the history of –ra in Spanish. In: FLEISCHMAN, S.; WAUGH, L. Discourse Pragmatics. London: Roukedge, 1991. p.164-178.

LABOV, W. Sociolinguistic patterns. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1972.

LABOV, W. Principles of linguistic change: cognitive and cultural factors. Oxford: Wiley-Blackwell, 2010.

LASS, R. On explaining language change. New York: Cambridge, 1980.

LAGARES, X. C. Uma aproximação à "língua" das cantigas galego-portuguesas. Revista Galega de Filoloxía, v. 7, p. 95-116, 2006.

LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Metaphors we live by. Chicago: Chicago University Press, 1980.

LICHTENBERK, F. On the Gradualness of Grammaticalization. In: TRAUGOTT, E.; HEINE, B. Approaches to grammaticalization. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Co., 1991.

LOPES, G. V.; FERREIRA, M. P. et al. Cantigas Medievais Galego Portuguesas [base de dados online]. Lisboa: Instituto de Estudos Medievais, FCSH/NOVA, 2011. Disponível em: http://cantigas.fcsh.unl.pt.

LORENZO, R. Gallego y Portugués. Algumas semejanzas y diferencias. In: NAVARRO, J. M. et al. Filología y Didática Hispánica. Hamburg, Romanistik in Geschichte und Gegenwart, Band 1, Helmut Buske Verlag, 1975.

MAIA, C. A. História do galego-português. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1986.

MARTÍNEZ, D. G.. A onomástica persoal na lírica medieval galego-portuguesa. In: AGRELO, A. I. B. Na nosa lyngoage galega: a emerxencia do galego como lingua escrita na Idade Media. Santiago de Compostela: Consello da Cultura Galega e Instituto da Lingua Galega, 2007.

MARTÍNEZ, M. L.; MOSCOSO MATO, E. Morfoloxía do Cancioneiro da Ajuda. In: AGRELO, A. I. B. Na nosa lyngoage galega: a emerxencia do galego como lingua escrita na Idade Media. Santiago de Compostela: Consello da Cultura Galega e Instituto da Lingua Galega, 2007.

MARTINS, K. C.; PAIVA, M. C. V-ra no português: uma análise diacrônica. Estudos Linguísticos, v. 42 (1), p. 540-552, 2013.

MONTEAGUDO, X. H. Historia social da lingua galega. Vigo: Galaxia, 1999.

MONTEAGUDO, X. H. A Galiza e o espaço linguístico-cultural de expressão portuguesa. In: LOBO, T. et al. ROSAE: linguística histórica, história das línguas e outras histórias [online]. Salvador: EDUFBA, 2012. p. 51-64.

MOURA, H. Relações paradigmáticas e sintagmáticas na interpretação de metáforas. Linguagem em (Dis)curso, v. 7, n. 3, p. 417-452, 2007.

PÉREZ, E. Ba. La expresión de la irrealidad en español. Moenia, v. 23, p. 95-146, 2017.

REICHENBACH, H. Elements of Symbolic Logic. New York: Macmillan Company, 1947.

ROJO, G. La temporalidade verbal en español. Verba. Anuario Gallego de Filología. Universidade de Santiago de Compostela, p. 68-149, 1974.

SWEETSER, E. E. From etymology to pragmatics: metaphorical and cultural aspects of semantic structure. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.

SÖHRMAN, I. El pluscuamperfecto en las lenguas Românicas. In: GUNNEL, E.; LARS, F. Festival Romanistica. Contribuciones lingüísticas – Contributions linguistiques – Contributi linguistici – Contribuições linguísticas. Stockholm: Stockholm University Press, 2015.

TEYSSIER, P. História da língua portuguesa. São Paulo, Martins Fontes (Tradução de Celso Cunha), 1997.

TRAVAGLIA, L. C. Um estudo textual-discursivo do verbo no português do Brasil. 1991. (Dissertação de Mestrado) - UNICAMP, Campinas, 1991.

XAVIER, M.F. Variação e mudança lexical no Português Medieval - o caso dos verbos. Domínios da Linguagem, vol. 2, p. 225-242, 2009.

XOVE, X. A temporalidade verbal nas “cantigas d’escarnho e de mal dizer. 1977. (Monografia) - Facultade de Filoloxia. Universidade de Santiago, 1977.

Publicado

2021-09-13