As formas “nós” e “a gente” nas cartas pessoais da amostra família Arthur Reis

Autores/as

  • Flávia Santos Martins UFAM
  • Edson Galvão Maia
  • José Fabrício Affonso Ferreira Júnior
  • Romário Neves Coelho

Palabras clave:

Variação e mudança, Cartas pessoais, P4, Arthur Reis, PHPB/AM

Resumen

Este artigo tem como objetivo descrever as formas nós e a gente na função de sujeito em  cartas pessoais da família do amazonense Arthur Reis, escritas entre 1940 e 1980. Como embasamento teórico-metodológico, utilizamos a Sociolinguística Histórica (Conde Silvestre, 2007) a qual se ancora na Teoria da Variação e Mudança (WLH, 2006 [1968], Labov, 1994). Para a realização deste estudo, selecionamos 127 cartas que foram transcritas e editadas pela equipe do projeto intitulado PHPB/AM. Dessas cartas, em 83 havia dados da expressão de pronomes P4, expressos e nulos, totalizando 283 ocorrências, sendo 260 (91,9%) da forma nós e 23 (8,1%) da forma a gente. A fim de compreendermos quais variáveis condicionam o uso da forma inovadora a gente, controlamos as seguintes, linguísticas e extralinguísticas: década em que as cartas foram escritas, preenchimento do sujeito, saliência fônica, tipo de referência, tempo verbal e conjugação verbal. Dessas, o programa estatístico utilizado, o Goldvarb X (Sankoff, Tagliamonte e Smith, 2005), selecionou as seguintes, em ordem de seleção: preenchimento do sujeito, tipo de referência, década e tempo verbal. Considerando as limitações da amostra, no que se refere à distribuição equitativa dos dados por década/missivista, não é possível discutir a implementação de a gente na escrita amazonense.

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Publicado

2025-08-27