Os estágios de insubordinação em construções condicionais com a conjunção se no português: evidências históricas

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-8420.2021.e75334

Resumo

O fenômeno da insubordinação é definido como o uso independente de orações originalmente subordinadas (EVANS, 2007). Trata-se de casos como “se soubesse como me faz sofrer!” (Corpus do Português). Para explicar a origem dessas construções, Evans (2007) propõe uma trajetória baseada na elipse da oração principal, constituída de quatro estágios, sendo o último o de convencionalização, em que a construção tem forma e função especializadas e uso totalmente independente. Trabalhos posteriores atestam construções insubordinadas em diferentes línguas, como português, espanhol, francês, inglês, alemão, holandês, sueco e dinamarquês (D’HERTEFELT; VERSTRAETE, 2014; GRAS, 2011; KALTENBÖCK, 2016; MITHUN, 2008; STASSI-SÉ, 2012; VAN LINDEN E VAN DE VELDE, 2014; HIRATA-VALE, 2015, 2017, 2020; SANSIÑENA, 2015; SCHWENTER, 2016; TRAUGOTT, 2017) e apontam outros fatores a respeito do grau de independência dessas construções, como relações estabelecidas pragmática e discursivamente. O presente trabalho tem por objetivo descrever e analisar o desenvolvimento de construções condicionais insubordinadas com a conjunção se no português, a partir de dados que alcançam do século XVI ao século XX, coletados nos corpora Corpus do Português (Gênero Histórico) e Corpus Histórico do Português Tycho Brahe. Os quatro diferentes estágios de insubordinação foram verificados no desenvolvimento dessas construções no português e, a partir de casos específicos de convencionalização, levanta-se a hipótese de que essas construções tendem a se especializar e operar no domínio pragmático, por exemplo, como um mecanismo de polidez.

Biografia do Autor

Maria Carolina Coradini, Universidade Federal de São Carlos

Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGL) do Departamento de Letras da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

Flavia Bezerra de Menezes Hirata-Vale, Universidade Federal de São Carlos

Professora associada do Departamento de Letras da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), no Programa de Pós Graduação em Linguística (PPGL) e nos cursos de Licenciatura em Letras e Bacharelado em Linguística.

Referências

DECAT, M. B. N. Leite com manga morre: da hipotaxe adverbial no português em uso. 1993. 287 f. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada ao Ensino de Língua). Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 1993.

DAVIES, M., FERREIRA, M. Corpus do Português: 45 million words, 1300s-1900s, 2006. Disponível em: http://www.corpusdoportugues.org.

DEBAISIEUX, J., MARTIN, P., DEULOFEU, H. Apparent insubordination as discourse patterns in French. In: BEIJERING, K., KALTENBÖCK, G., SANSIÑENA, M. S. (Orgs.): Insubordination, Theoretical and Empirical Issues. Berlim: De Gruyter Mouton, 2019, p. 349-383.

D’HERTEFELT, S., VERSTRAETE, J. Independent complement constructions in Swedish and Danish: Insubordination or dependency shift?. Journal of Pragmatics, 60, p. 89-102, 2014.

EVANS, N. Insubordination and its uses. In: NIKOLAEVA, Irina. (Org.). Finitiness: theoretical and empirical foundations. Oxford University Press, 2007. p. 366-431.

GALVES, C., ANDRADE, A. L., FARIA, P. Corpus Histórico do Português Tycho Brahe, 2017. Disponível em: http://www.tycho.iel.unicamp.br/corpus/.

GOLDBERG, A. Constructions: A Construction Grammar Approach to Argument Structure (Cognitive Theory of Language and Culture). Chicago: University of Chicago Press, 1995.

GRAS, P. Gramática de construcciones en interacción. Propuesta de un modelo y aplicación al análisis de estructuras independientes con marcas de subordinación en español. 2011. 580 f. Tese. (Doutorado em Linguística) – Universidade de Barcelona, Barcelona, 2011.

HALLIDAY, M. A. K. An introduction to functional grammar. London: Edward Arnold, 1985.

HIRATA-VALE, F. B. M. O processo de insubordinação nas construções condicionais do português do Brasil. Relatório Científico de Estágio Pós-Doutoral. Katholiek Universiteit Leuven, Leuven, Bélgica, 2015.

HIRATA-VALE, F. B. M. Construções condicionais insubordinadas no português: usos metatextuais. Estudos Linguísticos, 46 (1), p. 83-97, 2017.

HIRATA-VALE, F. B. M. Construções completivas insubordinadas subjetivas-modais no português brasileiro. Estudos Linguísticos, v. 49, n. 1, p. 297-311, 2020.

HIRATA-VALE, F. B. M.; OLIVEIRA, T. P.; SILVA, C. F.. Construções insubordinadas no português do Brasil: completivas e condicionais em análise. Odisseia , v. 2, pp 25-41, 2017.

HOPPER, P. J., TRAUGOTT, E. C. Grammaticalization. Cambridge: Cambridge University Press, 1993.

KALTENBÖCK, G. On the grammatical status of insubordinate if-clauses. In: KALTENBÖCK, G., KEIZER, E., LOHMANN, A. (Orgs.): Outside the Clause: Form and function of extra-clausal constituents. Amsterdam: John Benjamins, 2016, p. 341-377.

KALTENBÖCK, G. Delimiting the class: A typology of English insubordination. In: BEIJERING, K., KALTENBÖCK, G., SANSIÑENA, M. S. (Orgs.): Insubordination, Theoretical and Empirical Issues. Berlim: De Gruyter Mouton, 2019, p. 169-198.

LEHMANN, C. Towards a typology of clause linkage. In: HAIMAN, J., THOMPSON, S. (Orgs.) Clause combining in grammar and discourse. Amsterdam: John Benjamins, p. 181- 225. 1988.

LINDSTRÖM, J., LAURY, R., LINDHOLM, C. Insubordination and the contextually sensitive emergence of if-requests in Swedish and Finnish institutional talk-in-interaction. In: BEIJERING, K., KALTENBÖCK, G., SANSIÑENA, M. S. (Orgs.): Insubordination, Theoretical and Empirical Issues. Berlim: De Gruyter Mouton, 2019, p. 55-79.

MATTHIESSEN, C., THOMPSON, S. The structure of discourse and subordination. In: HAIMAN, John, THOMPSON, Sandra (Orgs.) Clause combining in grammar and discourse. Amsterdam: John Benjamins, 1988, p. 275-329.

MITHUN, M. The extension of dependency of beyond sentence. In: Language, 84 (1). p. 69- 119. 2008.

MITHUN, M. Sources and mechanisms. In: BEIJERING, K., KALTENBÖCK, G., SANSIÑENA, M. S. (Orgs.): Insubordination, Theoretical and Empirical Issues. Berlim: De Gruyter Mouton, 2019, p. 29-54.

MONTOLÍO, E. ¡Si nunca he dicho que estuviera enamorada de él! Sobre construcciones independientes introducidas por si con valor replicativo. Revista Oralia: Análisis del discurso oral, (2), p. 37-70, 1999.

OLIVEIRA, T. P. Se não me engano está se gramaticalizando? Revista Alfa, v. 52 (2), p. 179-193, 2008.

SANSIÑENA, M. S. The multiple functional load of que. An interactional approach to insubordinate complement clauses in Spanish. 2015. 307 f. Tese (Doutorado em Linguística - Katholieke Universiteit Leuven, Leuven, Bélgica, 2015.

SANSIÑENA, M. S. Patterns of (in)dependence. In: BEIJERING, K., KALTENBÖCK, G., SANSIÑENA, M. S. (Orgs.): Insubordination, Theoretical and Empirical Issues. Berlim: De Gruyter Mouton, 2019, p. 199-239.

SCHWENTER, S. Independent si-Clauses in Spanish: Functions and Consequences for Insubordination. In: EVANS, N, WATANABE, H. (Orgs.): Dynamics of Insubordination. Amsterdam: Benjamins, 2016.

TRAUGOTT, E. C. Insubordination in the light of Uniformitarian Principle. In: English Language and Linguistics, 21.2, p. 289–310, 2017.

VAN LINDEN, A., VAN DE VELDE, F. (Semi-)autonomous subordination in Dutch: Structures and semantic-pragmatic values. In: Journal of Pragmatics, nº8, v.22, p. 226-250, 2014.

Publicado

2022-04-14