Dossiês 2024: "Tecendo futuros. Utopias e distopias contra/coloniais" | "Arte retórica, literatura & outras artes"
outra travessia 2024 | chamada de artigos
1) Dossiê: Tecendo futuros. Utopias e distopias contra/coloniais
Editoras: Danae Gallo González, Susanne Grimaldi, Mylena Lima de Queiroz, Romana Radlwimmer.
Prazo para submissão de artigos (diretrizes de submissão): 28 de fevereiro de 2024.
2) Dossiê: Arte retórica, literatura & outras artes
Editores: André Fiorussi, Deolinda de Jesus Freire.
Prazo para submissão de artigos (diretrizes de submissão): 15 de abril de 2024.
3) Outros temas
Artigos de temática variada que se enquadrem no escopo da revista.
Prazo para submissão de artigos (diretrizes de submissão): 22 de abril de 2024.
descrição dos dossiês
1) Dossiê: Tecendo futuros. Utopias e distopias contra/coloniais
Editoras:
Danae Gallo González (Justus-Liebig-Universität Gießen), Danae.Gallo-Gonzalez@romanistik.uni-giessen.de
Susanne Grimaldi (Technische Universität Dresden), susanne.grimaldi@tu-dresden.de
Mylena Lima de Queiroz (Universidade Federal da Paraíba), myi@hotmail.com.br
Romana Radlwimmer (Goethe-Universität Frankfurt), radlwimmer@em.uni-frankfurt.de
Diz o pensador contracolonial Antônio Bispo dos Santos (2023) que o colonialista tem como primeira atitude renomear. No romance distópico Porco de Raça (2021), de Bruno Ribeiro, um professor nordestino negro é chamado de “Porco Sucio”, precisando utilizar uma máscara de porco para lutar em um ringue clandestino, para o deleite de um público de forte influência política - parte da elite econômica global. Este mercado humano busca apagar o passado do protagonista, objetificar o seu presente e anular a possibilidade de tecer o seu futuro. A distopia de Ribeiro aponta para o projeto imperial que, desde a Idade Moderna, tentou recriar um estado paradisíaco e desenhar futuros eurocristãos, construindo o “novo mundo” como “folha em branco” (TODOROV, 1987; LIENHARD, 1992). Parafraseando Foucault, tais utopias foram uma terrível “distopia realizada” (FOUCAULT, 2003) para os povos da América Latina e Caribe com legados até hoje. Nesse sentido, a estruturação colonial do mundo posiciona os sujeitos periféricos no limite inferior da hierarquia étnico-racial, desvalorizando a sua produção de conhecimento (BALLESTRIN, 2013; RUBBO, 2018).
No entanto, os povos que os colonizadores queriam subjugar sempre encontraram formas de resistir, subverter, questionar, opor-se ao “sistema-mundo colonial-moderno” (MIGNOLO, 2007). São estas articulações e estratégias que, para este dossiê, abordamos com a ideia de “tecer futuros”. Resistindo à imaginação destes povos como verdadeiros colonizados, Antônio Bispo adverte: “Eu sou quilombola, não fui colonizado […] se você foi colonizado [...], você vai precisar lutar para se descolonizar […]. Então, no meu caso, eu tenho que contracolonizar – contrariar o colonialismo” (BISPO apud ABUD, 2023). Assim, os estudos contracoloniais surgem como um complemento às propostas decoloniais que se baseavam no diagnóstico de lógicas eurocêntricas e no resgate de conhecimentos subalternizados. Os estudos contracoloniais centram-se na prática e nas vivências indígenas ou quilombolas de cosmopercepção de um “modo agradável de viver” e suas expressões nas artes, que entram em disputa com a compreensão de cultura enquanto eurocentrada.
No século XXI, a crise do eurocentrismo coincide com a projeção de um “futuro como catástrofe” (HORN, 2014) – “apocalítico” – que se preocupa pela vida desperdiçada e pelos recursos desgastados em empresas neocoloniais ou neoliberais, explícitas ou sub-reptícias, ativando a dor dos seus tecidos cicatrizados (MARTINS, 2021; KRENAK, 2019). O ato de tecer não é necessariamente inocente, podendo estar inserido em práticas de violência colonial e/ou heteropatriarcal, cosidas de maneira literal ou metafórica nos corpos, explicitando desigualdades, como nos sistemas de pigmentocracia ou colorismo (WALKER, 1982). Mas o tecer e o tecido – e o campo semântico em seu entorno: fiação, tecelagem, entrançamento, rendas, nós, tricotagem, bordados e costura – também fazem referência a contextos sociais, cosmológicos e orgânicos não-eurocentrados. Sem romantizar “outras” técnicas culturais, o tecido refere-se simbolicamente ao destino e ao tempo, à habilidade do trabalho manual, às relações afetivas e às estruturas literárias (BUTZER e JACOB, 2021). O ato de tecer contraria e distorce a colonialidade – como os quipus, um sistema de comunicação andino através de nós, ou o trançar erva-doce da botânica Robin Wall Kimmerer (2013). Tecer baseia-se na presença e na solidariedade, interrompindo a distância intelectual entre sujeito e objeto: “The classic disciplines always ask us to be disembodied artists, disembodied authors and theorists” (KILOMBA, 2017). Neste dossiê, convidamos explicitamente contribuições moldadas com nossos corpos e nossa memória, afirmando-nos como agentes performativos, e propondo a escrita acadêmica e artística em primeira pessoa. Assim, pretendemos discutir as aplicações metafóricas ou concretas da “tecelagem” dos futuros contra/coloniais, e os traços utópicos e distópicos que essas visões do futuro assumem em obras literárias e em outros formatos.
Convidamos a submeterem seus artigos (25.000- 50.000 caracteres) à outra travessia (diretrizes de submissão).
Prazo para submissão: 28 de fevereiro de 2024.
Bibliografia
ABUD, Marcelo. O que é contracolonial e qual a diferença em relação ao pensamento decolonial? Em: Instituto Claro. Educação. 21 de março, 2023. Disponível em: https://www.institutoclaro.org.br/educacao/nossas-novidades/podcasts/o-que-e-contra-colonial-e-qual-a-diferenca-em-relacao-ao-pensamento-decolonial/
BALLESTRIN, Luciana. “América Latina e o giro decolonial”. Revista Brasileira de Ciência Política, nº11. Brasília, maio - agosto de 2013, pp. 89-117.
BUTZER, Günter e JACOB, Joachim. “Gewebe“, em Metzler-Lexikon literarischer Symbole, vol. 3, ed. Günter Butzer und Joachim Jacob. Metzler, 2021: 149-151.
FOUCAULT, Michel. “Andere Räume”. Tradução de Walter Seitter. Em Moravánszky, Ákos (ed.): Architekturtheorie im 20. Jahrhundert. Eine kritische Anthologie. Springer, 2003, pp. 549-556.
HORN, Eva. Zukunft als Katastrophe. Warum wir unsere Zukunft schwarz malen. Fischer, 2014.
KILOMBA, Grada. “The Most Beautiful Language”, em Exhibition Catalogue. Lisboa: EG-EAC, 2017.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. Companhia das Letras, 2019.
LIENHARD, Martin (ed.). Testimonios, cartas y manifiestos indígenas. (Desde la conquista hasta comienzos del s. XX). Biblioteca Ayacucho, 1992.
MARTINS, Leda Maria. Performances do tempo espiralar: poéticas do corpo-tela. Rio de Janeiro: Cobogó, 2021.
MIGNOLO, Walter. La idea de América Latina: La herida colonial y la opción decolonial, Gedisa, Barcelona.
SANTOS, Antônio Bispo dos. A terra quer, a terra dá. São Paulo: Ubu Editora, 2023.
RIBEIRO, Bruno. Porco de Raça. Rio de Janeiro: DarkSide Books. 2021.
RUBBO, Deni A. Aníbal Quijano e a racionalidade alternativa na América Latina: diálogos com Mariátegui. Estudos Avançados, v. 32, n. 94, p. 391-409, dez. 2018.
TODOROV, Tzevtan: La conquista de América. El problema del otro. Trad. Flora Botton Burlá. México D.F./Madrid: siglo XXI editores 1987 [1982].
VIGNOLO, Paulo e BECERRA, Virgilio (eds). Tierra Firme. El Darién en el imaginario de los conquistadores. Universidad Nacional de Colombia, 2011.
WALKER, A. “If the present looks like the past, what does the future look like?” 1982. In: WALKER, A. In search of our mothers’ gardens: womanist prose. San Diego, California: Harcourt Brace Jovanovich, 1983, p. 290-291.
2) Dossiê: Arte retórica, literatura & outras artes
Editores:
André Fiorussi (Universidade Federal de Santa Catarina), fiorussi@gmail.com
Deolinda de Jesus Freire (Univ. Federal do Triângulo Mineiro) deolindajfreire@gmail.com
Este dossiê da revista outra travessia se dedica a congregar trabalhos a respeito da arte retórica e sua relação com a literatura e as outras artes, propondo uma reflexão sobre o estatuto da retórica e seu alcance na investigação atual de artefatos discursivos verbais e não verbais produzidos em diversos tempos e espaços. Definida frequentemente como arte do bem-dizer e do convencimento ao amparo da oratória, a arte retórica imbricou-se historicamente com a poética e codificou durante séculos as práticas letradas, fornecendo também as bases para a tratadística relativa à pintura, à arquitetura, à música e a outras artes. Nas últimas décadas, um crescente interesse pelos saberes retóricos tem contribuído com pesquisas de impacto nos campos da teoria e da história da literatura, das artes e dos discursos, entre as quais se podem destacar a reivindicação da sofística e o exame das temporalidades que se sobrepõem em processos simbólicos de longa duração. Por sua atenção à materialidade das práticas e à complexidade das situações comunicativas, desde a performance in loco dos discursos até a sua mais diferida recepção e imprevisível ressignificação, a abordagem retórica configura na atualidade uma opção metodológica estimulante tanto para a leitura consistente da ruína como para a promoção de novas discursividades e caminhos de investigação, atravessando, entre outras disciplinas, a filologia, a filosofia, a história e a antropologia.
Convidamos pesquisadoras e pesquisadores a submeterem artigos (25.000- 50.000 caracteres) à revista outra travessia (diretrizes de submissão).
Prazo para submissão: 15 de abril de 2024.