O conflito entre a moral e a política e a fraqueza da vontade em Kant

Autores

  • Aguinaldo Pavão Universidade Estadual de Londrina-PR

DOI:

https://doi.org/10.5007/1677-2954.2022.e90205

Palavras-chave:

Fraqueza da vontade, Agir racional, Liberdade, Máxima, Mal moral

Resumo

Kant defende que os passos dados pela política devem antes render homenagem à moral. Em À paz perpétua, ele sustenta que uma possível alegação amparada nas fraquezas da natureza humana não pode ser aceita para negligenciar o caráter sagrado do direito dos homens. A partir dessa visão, o artigo examina, com base na primeira parte de A religião nos limites da simples razão, o tratamento dado pela filosofia moral de Kant ao que geralmente se compreende por fraqueza da vontade. Em geral, a ideia de uma fraqueza da vontade se apresenta assim: eu possuo a crença ou o julgamento de que a ação correta a ser feita é x, porém, em vez de x, faço y. Essa ideia também pode ser apresentada nos termos da famosa declaração bíblica: “Não faço o bem que quero, mas o mal que não quero”. A expressão fraqueza da vontade comumente designa um conceito cuja discussão remonta a Sócrates, Platão e Aristóteles. A discussão girava em torno do sentido de akrasia, comumente traduzida por incontinência, fraqueza moral ou falta de autocontrole. Defenderei a tese de que a fraqueza da vontade entendida como um abrandamento da tese da incorporação não recebe acolhimento na filosofia prática de Kant, devendo ser entendida, antes, como um vício moral. Desse modo, minha conclusão será de que a defesa em À paz perpétua de que não há como se sustentar, objetivamente, qualquer conflito entre a moral e a política, devendo esta sempre subordinar-se àquela, alinha-se à tese de que a fragilidade da natureza humana deve ser entendida como um grau do mal.

Biografia do Autor

Aguinaldo Pavão, Universidade Estadual de Londrina-PR

Professor do Departamento de Filosofia da Universidade Estadual de Londrina. Área: ética e filosofia política.

Referências

ALLISON, H. Kant’s Theory of Freedom. New York: Cambridge University Press, 1990.

ALLISON, H. Reflections on the banality of (radical) evil: a kantian analysis. In: Idealism and freedom: Essays on Kant’s theoretical and practical philosophy. New York: Cambridge University Press, 1996.

BÍBLIA. Bíblia sagrada. Trad. Ivo Storniolo, Euclides Martins Balancin e outros. São Paulo: Paulus, 1988. 1980. Edição Pastoral.

FELDHAUS, C. Liberdade da Willkür e fraqueza da vontade em Kant. Kant e-Prints. Campinas, Série 2, v. 8, n. 2, jul.– dez., 2013. p.77-84.

JOHNSON, R. N. Weakness incorporated. History of Philosophy Quarterly 15, No. 3, July 1998, 1988. p. 349-367.

KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Trad. Paulo Quintela. São Paulo, Abril Cultural, 1980.

KANT, I. Crítica da razão prática. Trad. Valério Rohden. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

KANT, I. A Religião nos limites da simples razão. Trad. Artur Morão. Lisboa: Ed. 70, 1992.

KANT, I. À paz perpétua. Trad. Marco Zingano. Porto Alegre: L&PM, 1989.

KANT, I. Metafisica dos costumes. Trad. Clélia Aparecida Martins, Bruno Nadai, Diego Kosbiau e Monique Hulshof. Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista: São Francisco, 2013.

KANT, I. Zum ewigen Frieden. Ein philosophicher Entwurf. Werkausgabe XI. Ed. W. Weischedel. Frankfurt: Suhrkamp, 1991a.

KANT, I. Die Religion innerhalb der Grenzen der blossen Vernunft. Werkausgabe VIII. Ed. W. Weischedel. Frankfurt: Suhrkamp, 1991b.

KANT, I. Die Metaphysik der Sitten. Werkausgabe VIII. Ed. W. Weischedel. Frankfurt, Suhrkamp, 1991c.

LEAR, J. Aristóteles: o desejo de entender. Trad. Lygia Araújo Watanabe. São Paulo: Discurso, 2006.

SCHOPENHAUER, A. Die Welt als Wille und Vorstellung. Erster Band. Werke in zehn Bänden. Band II. Zürich: Diogenes Verlag, 1977.

SCHOPENHAUER, A. O mundo como vontade e como representação. Primeiro tomo. Trad. Jair Barboza. São Paulo: Unesp, 2005.

SCHOPENHAUER, A. O mundo como vontade e como representação. Segundo tomo. Trad. Jair Barboza. São Paulo: Unesp, 2015.

SÉNECA, L. A. Cartas a Lucílio. Trad. J. A. Segurado e Campos. Lisboa; Fundação Calouste Gulbenkian, 2014.

Downloads

Publicado

2022-11-04

Edição

Seção

Dossiê A recepção de À Paz Perpétua / The reception of Toward Perpetual Peace