Mau humor ou humor mau? Dois problemas na ética do humor

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1677-2954.2020v19n3p811

Resumo

O “fenômeno humorístico” deve ser entendido enquanto o exercício do “olhar humorístico”. Este busca uma distância estética que permite a formulação de incongruências num determinado jogo social onde as normas sociais e linguísticas comuns são violadas com o objetivo de produzir o “gosto humorístico”. Ou seja, o “fenômeno humorístico” realiza-se num determinado jogo humorístico que, como tal, requer um terceiro, um interlocutor. A análise ética do presente artigo foca-se nos dois agentes do jogo humorístico através de dois casos: o mau humor, que pode ser manifestado pelo interlocutor; e o humor mau, que pode ser manifestado pelo locutor. Propõe-se que um problema ético ignorado na filosofia do humor diz respeito ao interlocutor moralista que, por não conseguir manter a distância estética necessária ao fenômeno humorístico, tenta categorizá-lo em termos éticos e julgar a atitude moral do locutor. Por outro lado, podemos encontrar um problema simétrico: o locutor que, por não entender as características necessárias ao jogo humorístico, não consegue criar o ambiente necessário para que este ocorra. Estes problemas devem ser entendidos, contudo, na sua complexidade e sem deixar de ter em conta os comummente ignorados aspetos positivos do humor.

Biografia do Autor

João Pinheiro da Silva, Universidade do Porto, Porto

Faculdade de Letras da Universidade do Porto. E-mail: silvajoao1999@gmail.com. Orcid-iD: https://orcid.org/0000-0002-4556-6572

Referências

ARAÚJO PEREIRA Ricardo. A Doença, o Sofrimento e a Morte Entram num Bar: Uma espécie de manual de escrita humorística. Lisboa: Tinta da China, 2016.

BENATAR, David. “Taking Humour (Ethics) Seriously, But Not Too Seriously.” Journal of Practical Ethics 2, nº 1 (2014): 24–43.

BERGMAN, M. “How many feminists does it take to make a joke? Sexist humor and what’s wrong with it.” Hypatia (1) 1 (1986): 63–82.

CAPELOTTI, João Paulo. “Defending laughter: an account of Brazilian court cases involving humor, 1997–2014.” Humor - International Journal of Humor Research 29, nº 1 (2016).

CARROLL, Noël. Humour: A Very Short Introduction. Oxford: Oxford University Press, 2014.

DE SOUSA, R. “When is it wrong to laugh? In: de Sousa R.” Em The rationality of emotion, de R. de Sousa , 275-300. Cambridge: MIT Press, 1987.

GIMBEL, Steven. Isn’t that Clever: A Philosophical Account of Humor and Comedy. New York: Routledge, 2017.

GORDON, Mordechai. “What Makes Humor Aesthetic?” International Journal of Humanities and Social Science 2, nº 1 (2012): 62–70.

GRICE, H. P. “Logic and conversation.” Em Foundations of cognitive psychology: Core readings, de D. J. Levitin, 719–732. MIT Press, 2002.

JOHNSON, Paul. Humorists: From Hogarth to Noel Coward. HarperCollins, 2010.

KOTZEN, Matthew. “The Normativity of Humor.” Philosophical Issues 25 (2015): 396-414.

KRAMER, Chris A. “Subversive Humor as Art and the Art of Subversive Humor.” Yearbook of Philosophy of Humor, 2020.

MORREALL, John. Comic Relief: A Comprehensive Philosophy of Humor. New Jersey: Wiley-Blackwell, 2009.

MORREALL, John. Taking Laughter Seriously. New York: State University of New York Press, 1983.

MORREALL, John. Philosophy of Humor. 2016. https://plato.stanford.edu/archives/win2016/entries/humor/.

SHUSTER, Martin. “Humor as an Optics: Bergson and the Ethics of Humor.” Hypatia, 2012: 618-632.

SMUTS, Aaron. “The Ethics of Humor: Can Your Sense of Humor be Wrong?” Ethical Theory and Moral Practice 13 (2010): Ethical Theory and Moral Practice.

VERVAEKE, John. Convergence To Relevance Realization. 2019. https://www.youtube.com/watch?v=Yp6F80Nx0lc.

WEEMS, Scott . Ha!: The Science of When We Laugh and Why. Nova Iorque: Basic Books, 2014.

WILLINGER, U., e et al. “Cognitive and emotional demands of black humour processing: the role of intelligence, aggressiveness and mood.” Cognitive Processing, 2017.

Downloads

Publicado

2020-12-16