Desigualdade e viés de gênero na contratação de professoras de Física em instituições privadas de ensino: uma análise do Censo Escolar da Educação Básica no período de 2014 a 2021

Autores

  • Bruna Dayana Lemos Pinto Ramos Doutoranda no Programa de Pós Graduação em Ensino e História da Matemática e da Física, Universidade Federal do Rio de Janeiro https://orcid.org/0000-0003-3113-9614
  • Adriana Pereira Ibaldo Instituto de Física, Universidade de Brasília
  • Jorge Simões de Sá Martins Instituto de Física, Universidade Federal Fluminense https://orcid.org/0000-0001-7915-6697

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-7941.2023.e91015

Palavras-chave:

Mulheres na Física, Professoras de Física, Ensino de Física, Desigualdade de Gênero na Física

Resumo

A presença feminina na Física tem sido objeto de estudo nos últimos anos, motivado pela disparidade de gênero na área. Contudo, a presença de mulheres lecionando Física em escolas de educação básica, tanto públicas quanto privadas, ainda é um tema pouco discutido. O presente trabalho visa apresentar um estudo comparativo a respeito da presença de mulheres como professoras de Física em escolas públicas e privadas, além de avaliar e quantificar a formação das mesmas. A pesquisa caracteriza-se por um levantamento descritivo de abordagem quantitativa e analisa os microdados do Censo Escolar da Educação Básica do período de 2014 a 2021, utilizando a linguagem de programação Python, a fim de observar se haveria alguma tendência de mudança neste intervalo temporal. Os dados obtidos apontam que ao longo do período não houve mudança significativa na presença feminina no papel de professora de Física, bem como foi observado que a distribuição desta presença varia entre as regiões e estados brasileiros. Também foi verificado que o quantitativo de profissionais com uma formação adequada, tanto de homens quanto de mulheres, não chega a 50% do total de professores desta disciplina, fato que já havia sido apontado em trabalhos de outros autores. Um aspecto importante que destacamos é que o percentual de mulheres professoras de Física é menor em escolas privadas do que em escolas públicas e que a carga horária das mulheres é, na média, inferior à dos homens nas duas dependências administrativas. O trabalho sugere que possa existir um viés de gênero na contratação de professoras, especialmente em escolas privadas, como se mulheres não fossem vistas como competentes para lecionar esta disciplina.

Biografia do Autor

Bruna Dayana Lemos Pinto Ramos, Doutoranda no Programa de Pós Graduação em Ensino e História da Matemática e da Física, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Doutoranda no Programa de Pós Graduação em Ensino e História da Matemática e da Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Adriana Pereira Ibaldo, Instituto de Física, Universidade de Brasília

Possui doutorado em Ciência dos Materiais, com ênfase em desenvolvimento e aplicações de novos materiais, pelo Instituto de Física de São Carlos/Universidade de São Paulo (USP, 2010), mestrado em Físico-Química (2005) e graduação em Química (Bacharelado, 2003) pela Universidade de Brasília (UnB). Atualmente é professora do Instituto de Física da Universidade de Brasília (IF/UnB). É orientadora de mestrado (MNPEF) no IF-UnB, e é Editora de Redação do Boletim da Física (ISSN 2318 - 8901). É a idealizadora e executora do projeto "Atraindo meninas e jovens mulheres do DF para a carreira em Física", que recebeu financiamento do CNPq (Chamada 18/2013) e da FAPDF (03/2015 Demanda espontânea). Em 2013 fundou, junto ao IF-UnB, o Grupo de Fundamentos, Divulgação Científica e Estudos de Gênero, sendo sua Líder/Coordenadora desde sua fundação.

Jorge Simões de Sá Martins, Instituto de Física, Universidade Federal Fluminense

Bacharel em Física pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1970), tendo cursado o ciclo básico no Instituto Militar de Engenharia (1968), e Doutor em Física pela Universidade Federal Fluminense (1998). Foi pesquisador visitante no Colorado Center for Chaos and Complexity, da Universidade do Colorado, e instrutor (lecturer) no Departamento de Física da mesma universidade de 1999 a 2002. Desde junho de 2002, é professor do Departamento de Física da Universidade Federal Fluminense. Foi pesquisador colaborador do Grupo de Pesquisa em Ensino de Física da Universidade do Colorado (PER-CU) de agosto de 2014 a julho de 2015, no programa de estágio sênior da CAPES. A partir do estágio na Universidade do Colorado, o foco principal de sua atuação passou a ser a área de ensino de Física e a formação de professores de nível médio.

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Publicado

2023-04-14

Como Citar

Ramos, B. D. L. P., Ibaldo, A. P., & Martins, J. S. de S. . (2023). Desigualdade e viés de gênero na contratação de professoras de Física em instituições privadas de ensino: uma análise do Censo Escolar da Educação Básica no período de 2014 a 2021. Caderno Brasileiro De Ensino De Física, 40(1), 134–153. https://doi.org/10.5007/2175-7941.2023.e91015

Edição

Seção

Formação de Professores de Ciências/Física