A PrEP, o HIV e as táticas de desobediência

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-8412.2021.e79952

Resumo

O presente artigo parte das discussões sobre o conceito de desobediência, de Frederic Gros, tensionando seus limites no que tange ao tecnobiodiscursivo e as implicações do conceito de vida, tecnovida, raça e gênero. A partir daí, objetiva realizar uma análise da “tecnobiodesobediência” no dispositivo crônico da aids do Brasil, tomando como corpus de análise os enunciados sobre a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e as práticas de PrEP sob demanda. Nota-se que há uma agonística entre uma série de corporalidades e subjetividades marcadas pelo par controle-liberdade do regime farmacopolítico, por um lado, e as táticas de produção de si e de invenção dos prazeres (on demand), por outro.

Biografia do Autor

Atilio Butturi Junior, UFSC - Santa Catarina - Brasil

Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPQ (PQ2), doutor em Linguística (UFSC). Docente da UFSC. Realizou estágio pós-doutoral no IEL-UNICAMP (2014-2015) e na Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (2017-2018). Professor do Programa de Pós-Graduação em Linguísitica da UFSC e do Mestrado Interdisciplinar em Ciências Humanas da UFFS. Editor-chefe da Fórum Linguístico e da Gavagai. Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Linguística da UFSC.

Nathalia Müller Camozzato, UFSC

Doutoranda em Linguística - UFSC.

Referências

AGAMBEN, G. Une biopolitique mineure – entretien avec Giorgio Agamben. Vacarme, n.10, 2010. Disponível em: http://www.vacarme.org/article255.html. Acesso em: 6 fev. 2014.

AGÊNCIA AIDS. Aids 2020: PrEP sob demanda é altamente eficaz, mas causa confusão entre usuários, aponta pesquisa, 8 jul. 2020. Disponível em: https://agenciaaids.com.br/noticia/aids-2020-prep-sob-demanda-e-altamente-eficaz-mas-causa-confusao-entre-usuarios-aponta-pesquisa/. Acesso em: 20 nov. 2020.

ANDERSON, P. Brazil Apart: 1964-2019. London: Verso, 2019.

BUTTURI JUNIOR. A. A passividade e o fantasma: o discurso monossexual no Brasil. 2012. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2012. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/96117. Acesso em: 30 mar. 2021.

BUTTURI JUNIOR, A. As formas de subjetividade e o dispositivo da aids no Brasil contemporâneo: disciplinas, biopolítica e phármakon. In: QUINO, V. C.; CRESTANI, L. M.; DIAS, L. F.; DIEDRICHM M. S. Língua, literatura, cultura e identidade: entrelaçando conceitos. Passo Fundo: Editora da Universidade de Passo Fundo, 2016. p.59-78. Disponível em: http://editora.upf.br/index.php/e-books-topo/68-literatura/159-lingua-literatura-cultura-e-identidade. Acesso em: 24 abr. 2021.

BUTTURI JUNIOR, A. O hiv, o ciborgue, o tecnobiodiscursivo. Trabalhos em Linguística Aplicada, v. 58, n.2, 2019a. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0103-18132019000200637&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 5 ago. 2020.

BUTTURI JUNIOR, A. Junkie Foucault. In: BUTTURI JUNIOR, A. et al. (org.). Foucault e as práticas de liberdade I: o vivo e os seus limites. Campinas: Pontes, 2019b. p. 273-296.

BUTTURI JUNIOR, A.; LARA, C. A. As narrativas de si e a produção da memória na campanha O cartaz HIV Positivo. Linguagem em (dis)curso (online), Tubarão, v. 18, p. 393-411, 2018a. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1518-76322018000200393&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 9 maio 2019.

BUTTURI JUNIOR, A.; LARA, C. de A. Biopolítica, direitos humanos e resistências: uma análise comparativa das políticas públicas de Saúde para a população LGBT em Florianópolis-SC. Trabalhos em Linguística Aplicada, Campinas, SP, v. 57, n. 2, p. 645–674, 2018b. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/tla/article/view/8651640. Acesso em: 25 abr. 2021.

BUTTURI JUNIOR, A. A polivalência tática como teoria da resistência em Michel Foucault. In: BRAGA, A.; SÁ, I. de. Por uma microfísica das resistências: Michel Foucault e as lutas antiautoritárias da contemporaneidade. Campinas: Pontes, 2020. p.21-46.

BARATA, G. F. A primeira década da AIDS no Brasil: o Fantástico apresenta a doença ao público (1983 a 1992). Dissertação (Mestrado em História) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. HIV. 2021. Disponível em: http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/o-que-e-hiv. Acesso em: 10 jan. 2021.

BRASIL. Sou+ Estou Indetectável. 2018. Disponível em: http://www.aids.gov.br/indetectavel/. Acesso em: 20 mar. 2019.

BARAD, K. Performatividade pós-humanista: para entender como a matéria chega à matéria. Vazantes, v.1, n.1, p.6-34, 2017.

BENNET, J. Vibrant matter: a political ecology of things. London: Duke University, 2009.

BRAIDOTTI, R. Poshuman affirmative politics. In: WILMER, S.E.; ZUKAUSKAITÉ, A. Resisting biopolitics: philosophical, political and performative strategies. New York: Routledge, 2016. p.30-56.

BUTLER, J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013.

BUTLER, J. Quadros de Guerra: quando a vida é passível de luto? Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.

BUTLER, J. Corpos que importam: os limites discursivos do “sexo”. Trad. Veronica Daminelli e Daniel Yago Françoli. São Paulo: n-1, Crocodilo, 2019.

CAMARGO JUNIOR, K. R. de. As ciências da AIDS e a AIDS das ciências. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, ABIA, IMS, UERJ, 1994.

CANCIAN, N. Governo aposta em medo e repulsa de efeitos de DST em campanha para estimular camisinha. Folha de São Paulo (on line), São Paulo, 31 out. 2019. Disponível em:

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/10/governo-aposta-em-medo-e-repulsa-de-efeitos-de-dst-em-campanha-para-estimular-camisinha.shtml Acesso em: 30 jan. 2020.

COLETTA, R. D. Pessoa com HIV 'é uma despesa para todos no Brasil', diz Bolsonaro. Folha de São Paulo (on line), São Paulo, 5 fev. 2020. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/02/pessoa-com-hiv-e-uma-despesa-para-todos-no-brasil-diz-bolsonaro.shtml#:~:text=Ao%20defender%20nesta%20quarta%2Dfeira,despesa%20para%20todos%20no%20Brasil%22. Acesso em: 6 fev. 2020.

COWAN, B. A. ‘Nosso terreno’: crise moral, política evangélica e formação da “nova direita” brasileira. Varia Historia, Belo Horizonte, v. 30, n. 52, p.101-125. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-87752014000100006&script=sci_abstract&tlng=pt Acesso em: 30 set. 2019.

DEAN, T. Mediated intimacies: Raw sex, Truvada, and the biopolitics of chemoprophylaxis. Sexualities, v. 18, n.1-2, p.224-246, 2005.

DELEUZE, G. Conversações. Trad. Peter Pál Pelbart, Rio de Janeiro: Ed.34, 1992.

FACEBOK disables some… Washington Post (on line), Washington, 30 dez. 2019. Disponível em: https://www.washingtonpost.com/technology/2019/12/30/facebook-disables-some-misleading-ads-hiv-prevention-drugs-responding-growing-outcry/. Acesso em: 20 maio 2020.

FASSIN, D. Quand les corps se souviennent: expériences et politiques du sida en Afrique du Sud. Paris: La Découverte, 2006.

FAUSTO NETO, A. Comunicação e mídia impressa: estudos sobre a Aids. São

Paulo: Hacker, 1999.

FELICIANI, M. Z.; SCHIRMER, L. C.; DALMOLIN, A. R. A atuação de Silas Malafaia contra o PLC 122: análise de suas páginas no Twitter e no Facebook.. PragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura, ano 7, n. 13, 2017.

FERRARI, F. C. Biomedicalização da resposta ao HIV/Aids e o caso da emergência da PrEP: um ensaio acerca de temporalidades entrecruzadas. Equatorial, Natal, v.4, n.7, p.313-160, jul./dez.2017.

FÓRUM PREP. Facebook: Fórum PrEP. 2021. Disponível em: https://www.facebook.com/groups/forumprep. Acesso em: 20 fev. 2021.

FOUCAULT, M. Em defesa da sociedade - curso no Collège de France, 1975-1976. Trad. Maria Ermantina Galvão. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010.

FOUCAULT, M. A coragem da verdade: o governo de si e dos outros II - Curso no Collège de France (1983-1984). Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2011.

FOUCAULT, M. Poder-corpo. In: FOUCAULT, M. Microfísica do poder. 14. ed. Tradução. Roberto Machado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2009 [1975]. p. 145-152.

FOUCAULT, M. Os Anormais – curso no Collège de France, 1974-1975. São Paulo: Martins Fontes, 2018.

GALVÃO, J. AIDS no Brasil: a agenda de construção de uma epidemia. Rio de Janeiro: ABIA; São Paulo: Ed. 34, 2000.

GONZÁLEZ, O. HIV Pre Exposure Profilaxis (PrEP), “The Tuvada Whore”, and the new gay sexual revolution. In: VARGHESE, R. (ed.). RAW: PrEP, Pedagogy, and the Politics of Barebacking. University of Regina Press, 2019.

GROS, F. Desobedecer. Trad. Célia Euvaldo. São Paulo: Ubu, 2018.

HALPERIN, D. M. The Biopolitics of HIV Prevention Discourse. In: VERNON, W.; MORAR, N. (ed.). Biopower: Foucault and beyond. Chicago, London:The University of Chicago Press, 2016.199-227.

HALPERIN, D. M.; TRAUB, V. Beyond gay pride. HALPERIN, D. M.; TRAUB, V. (ed.). Gay Shame. Chicago: Univ. of Chicago Press, 2006.

LATOUR, B. Jamais fomos modernos. Trad. Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1994.

LAZZARATO, M. Fascismo ou revolução? O neoliberalismo em chave estratégica. São Paulo: n-1, 2019.

LUGONES, M. Colonialidad y genero. Tabula Rasa, Bogotá, Colômbia. n.9, p. 73-101, jul/dez. 2008. Disponível em: https://www.revistatabularasa.org/numero-9/05lugones.pdf Acesso em: 2 mar. 2020.

MIGNOLO, W.D. Desobediência epistêmica: a opção descolonial e o significado de identidade em política. Cadernos de Letras da UFF – Dossiê: Literatura, língua e identidade, n.34, p.287-324, 2008.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para manejo da infecção por HIV em adultos. [31 jul. 2015].

MONTAGNIER, L. Vírus e homens: AIDS – seus mecanismos e tratamentos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1995.

MOMBAÇA, J. Rumo a uma redistribuição desobediente de gênero e anticolonial da

violência. Publicação comissionada pela Fundação Bienal de São Paulo em ocasião da 32ª Bienal de São Paulo – Incerteza Viva, 2016.

ORTEGA, F.; ZORZANELLI, R. Corpo em evidência: a ciência e a redefinição do humano. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

PATTON, C. Inventing aids. Londres: Routledge, 1991.

PELÚCIO, L.; MISKOLCI, R. A prevenção do desvio: o dispositivo da aids e a repatologização das sexualidades dissidentes. Sexualidad, Salud y Sociedad - Revista Latinoamericana, p. 125-157, 2009.

PERLONGHER, N. O que é AIDS. 2.ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.

PRECIADO, P. B. Condoms chimiques. Liberatión, Paris, 11 juin 201. Disponível em: https://www.liberation.fr/chroniques/2015/06/11/condoms-chimiques_1327747/. Acesso em: 10 dez. 2020.

PRECIADO, P. B. Texto yonque. Madrid: Espasa, 2008.

RIFIOTIS, T. Etnografia no ciberespaço como “repovoamento” e explicação. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v.31, n.90, p.85-90. Fev. 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-69092016000100085&script=sci_arttext Acesso em: 20 mar. 2021.

SOARES, A. S. F. A homossexualidade e a AIDS no imaginário de revistas semanais (1985-1990). Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2006.

SCHUBERT, K. The Democratic Biopolitics of PrEP. In: GERHARDS, H.; BRAUN, K. (ed.). Biopolitiken – Regierungen des Lebens heute. Politologische Aufklärung – konstruktivistische Perspektiven. Springer VS, Wiesbaden, 2019.

TERTO JR., V.; RAXACH, J. C. Preconceitos e estigmas no caminho para uma prevenção combinada. Boletim ABIA, n.63, p.4-7, out. 2018.

THOMAZ, D. O novo azulzinho. Revista Época, Rio de Janeiro, 3 abr. 2018.

TREICHLER, P. A. AIDS, Homophobia, and biomedical discourse: an epidemic of signification. The MIT Press, v.47, 1987.

VERNAZZA, P. et al. Les personnes séropositives ne souffrant d’aucune autre MST et suivant un traitment antirétroviral efficace ne transmettent pas le VIH par voie sexuelle. Bulletin des Médecins Suisses, v.89, n. 5, p.165-169, 2008.

Downloads

Publicado

2021-09-10

Edição

Seção

Dossiê | Obedecer e Insurgir