Onde há fumaça, há fogo: delírio, imovência e hiperinclusão em conspirações na web
DOI:
https://doi.org/10.5007/1984-8412.2023.e84085Palavras-chave:
Teoria da conspiração, Discurso, DelírioResumo
Neste artigo, escrito sob a perspectiva teórica da análise de discurso pecheutiana (Orlandi, 2013, 2017), buscamos analisar teorias da conspiração a partir de seu funcionamento online entre sujeitos. Mobilizamos o conceito de estilo paranoico de fazer política proposto por Hofstadter (1964) para embasar a discussão sobre teorias conspiratórias. Na sequência, estabelecemos uma relação entre a paranoia conspiracionista e o funcionamento do delírio como pensado por Freud (2020) e Remo Bodei (2003). Delírio, conspirações e web são então ligados pelo conceito de hiperinclusão proposto por Bodei (2003), interpretado discursivamente neste trabalho enquanto marca de uma imovência de sentidos. Trata-se de um nível extremo de saturação, que, por sua vez, intensifica no sujeito a ilusão de individualidade, de autonomia e de literalidade. Concluímos, após análise de corpus sobre incêndios em 2019, que a web pode fomentar teorias conspiratórias ao incentivar a hiperinclusão no sujeito, prejudicando o debate público de ideias.
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