Afro-migrantes em jornais do Sul Global: "Criminosos", "Samaritanos" e "Vítimas"

Autores

  • Gilberto Alves Araújo University of the Witwatersrand
  • Gizélia Maria da Silva Freitas Universidade Federal do Pará

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-8412.2023.e86563

Palavras-chave:

Migração, Discurso, Representação, Negritude, Sul Global

Resumo

Este artigo examina formas pelas quais migrantes negros/afrodescendentes são representados em um jornal do Brasil e outro da África do Sul, considerando majoritariamente efeitos de sentido sobre a construção de raça e etnia em notícias publicadas por ambos os jornais em 2015. O trabalho também recorre à Linguística de Corpus e à Análise Crítica do Discurso no intuito de tratar a linguagem verbal de ambos os periódicos. Conclusões preliminares sugerem que migrantes negros/afrodescendentes são representados a partir das perspectivas de criminalidade, seja como vítimas ou agentes de ilegalidade. Estes sujeitos também são frequentemente posicionados como meros beneficiários da solidariedade, particularmente no caso brasileiro, ou como infratores no caso do jornal sul-africano. Embora a representação apassivadora seja comum entre os dois periódicos, o jornal brasileiro emprega mais recursos editoriais de discurso reportado sobre os discursos dos migrantes, ao passo que o jornal sul-africano ou os silencia ou aplica menos estratégias editoriais.

Biografia do Autor

Gilberto Alves Araújo, University of the Witwatersrand

Gilberto Alves Araújo é pesquisador em doutoramento na Universidade de Witwatersrand. Ele é também Professor Assistente e Pesquisador da Universidade Federal do Pará, onde vem trabalhando em projetos relacionados à análise do discurso, estudos culturais latino-americanos/brasileiros, ensino de línguas e mídia. Sua investigação nessa instituição vem se relacionando com as representações discursivas sobre os migrantes negros na mídia brasileira e sul-africana. Entre suas últimas publicações sobre os temas citados, podem-se mencionar: “A hora da estrela pelas lentes da mídia: uma homenagem a Clarice Lispector” (2021); “Por uma literatura infantil e juvenil mais afrocêntrica” (2020) e “Discurso dos professores sobre o ensino de língua inglesa: faces da resistência e neocolonialismo” (2019), entre muitos outros.

Gizélia Maria da Silva Freitas, Universidade Federal do Pará

Gizélia Maria da Silva Freitas é Professora Assistente e Pesquisadora da Universidade Federal do Pará, onde vem trabalhando em questões relacionadas à Linguística Aplicada, como pode ser visto em muitas de suas publicações, como “A hipótese do filtro afetivo e a construção da motivação na aquisição de segunda língua: uma revisão crítica” (2019). Nesse sentido, a Profa. Da Silva Freitas acumulou uma experiência considerável com pesquisas sobre métodos e teorias de ensino de língua inglesa, bem como sobre abordagens comunicativas ao ensino de línguas. Além disso, ao lado do Prof. Alves Araújo, a Profa. Freitas tem sido membra de diversas organizações sociais e acadêmicas por meio das quais realiza ativismo intelectual-político negro e reflete sobre as causas do feminismo afro-brasileiro.

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Publicado

2023-10-20

Edição

Seção

Artigo