O enigma da autoria, o controle da produção discursiva e a manifestação da verdade: uma análise da obra quatrocentista Virgeu de consolaççon

Autores

  • Bruna Plath Furtado Universidade Estadual de Maringá

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-8412.2022.e90954

Resumo

Este trabalho apresenta uma análise acerca da função autor e dos papéis desempenhados pelos sujeitos na manifestação da verdade, tomando como materialidade a obra medieval portuguesa Virgeu de consolaçon (fins do século XIV e início do século XV). Para tanto, o estudo tem como subsídio teórico-metodológico a análise de discurso, principalmente os preceitos estabelecido pela filosofia de Michel Foucault e mobiliza, ao longo das reflexões, sobretudo os conceitos de aleturgia (FOUCAULT, 2014a) e autor (FOUCAULT, 2000, 2014b; CHARTIER, 2012). O desenvolvimento das análises se configura a partir da questão não respondida em relação à atribuição de uma autoria à obra (que motivou investigações filológicas ao longo do século XX) para demonstrar os efeitos, justamente, do apagamento da autoria no Virgeu de consolação na medida em que este gesto possibilita compreender o papel do sujeito como autor do manuscrito e ao mesmo tempo seu papel na revelação da verdade proporcionada pela obra em questão. Como resultado, tem-se: I. o reconhecimento do Virgeu de consolaçon como aleturgia, ou seja, como manifestação ritual da verdade; II. a identificação do papel desempenhado pelas autoridades que enunciam no interior da obra e III. a identificação do papel desempenhado pelo monge leitor da obra.

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Publicado

2022-11-23

Edição

Seção

Dossiê