Biotecnovoz e gênero-dissonância: a voz e o discurso no realismo agencial

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-8412.2022.e91142

Palavras-chave:

Voz, Discurso, Novos Materialismos, Gênero

Resumo

Dialogando os estudos do discurso de viés foucaultiano, os estudos queer/cuir, os estudos de gênero e os novos materialismos, o artigo propõe-se abordar a voz como um agenciamento (assemblage) entre discursos e materialidades, em todo caso, um emaranhado (entanglement) de elementos humanos e não-humanos. Entende-se que a materialidade e a agência (i.e produção de efeitos) da voz, que integra a rede do dispositivo da linguagem, é particularmente produtiva para a compreensão do fenômeno de intra-ação, conceito oriundo do realismo agencial, à luz dos estudos do discurso. O que o artigo faz é, apropriando-se das contribuições das teorias já citadas, elaborar os conceitos de biotecnovoz e gênero-dissonância, atinentes, a um só tempo, à agência intra-ativa da voz na materialização do gênero e a uma ética solicitada pelas dissidências sexuais e de gênero.

Biografia do Autor

Nathalia Müller Camozzato, UFSC - Florianópolis - Brasil

Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Linguística na Universidade Federal de Santa Catarina em Estudos do Campo Discursivo na área de Linguística Aplicada.

Referências

BARAD, K. Performatividade pós-humanista: para entender como a matéria chega à matéria. Trad. Thereza Rocha. Vazantes, v.1, n.1, 2017.

BARAD, K. Re-membering the Future, Re(con)figuring the Past: Temporality, Materiality, and Justice-to-Come. Feminist Theory Workshop Keynote. Duke University, 2014. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cS7szDFwXyg Acesso em: 2 maio. 2020.

BENNET, J. Vibrant Matter - A Political Ecology of Things. Londres: Duke University Press, 2010.

BONENFANT. Y. Queer Listening to Queer Vocal Timbres. Performance Research. v.15, n.3, p.74-80, 2010.

BRAIDOTTI, R. The Posthuman. Cambridge: Polity Press, 2013.

.

BUTLER, J. Corpos que importam – os limites discursivos do “sexo”. São Paulo: n-1 edições, 2019.

BUTLER, J. Problemas de gênero – feminismo e subversão da identidade. Trad. Renato Aguiar. São Paulo: Civilização Brasileira, 2003.

BUTLER, J. Como os corpos se tornam matéria: entrevista com Judith Butler. Por Baujeke Prins e Irene Costera Meijer. Revista Estudos Feministas. v.10, n.1. Florianópolis, jan. 2002.

BUTTURI JUNIOR, A. Bio-Cu-Ir: uma leitura sobre poderes, racialização e resistências no Brasil. 2020. In: MITIDIERI, A. (org.). Revisões do cânone. Uberlândia: O sexo e a palavra, 2020. p. 265-295.

BUTTURI JUNIOR, A. A polivalência tática dos discursos sobre a soropositividade e os dispositivos do Fast Foda, Cadernos Discursivos, Catalão-GO, v. 1 n 1, p. 21-39, 2020a. Disponível em: https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/595/o/2Artigo_2_2020.pdf Acesso em: 4 abr. 2022.

BUTTURI JUNIOR, A. O HIV, o ciborgue, o tecnobiodiscursivo. Trabalhos em Linguística Aplicada, v. 58, n. 2, p. 637-657, 2019. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/tla/article/view/8655554. Acesso em: 29 abr. 2022.

BUTTURI JUNIOR, A.; CAMOZZATO, N. M. Linguagem, Tecnologia e Realismo Agencial. Ciclo de Palestras UPLA – PPGEL. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. 2022. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=jvqWZkec7zE Acesso em: 30 ago. 2022.

BUTTURI JUNIOR, A. CAMOZZATO, N. M. Por uma análise neomaterialista dos discursos. No prelo.

CAMOZZATO, N. M. Vozes Gênero-Dissonantes: uma cartografia pós-humanista. 2022. 257 f. Tese (Doutorado em Linguística). Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2022.

CAMOZZATO, N. M. O “perdigoto” e o SarS-Cov-2: a voz em mundos pós-humanos. Acta Scientiarum (UEM), v. 44, n. 1, p. 58769, 2022a. Disponível em: https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciLangCult/article/view/58769/751375154217 Acesso em: 15 mai. 2022.

CAVARERO, Adriana; LANGIONE, Matt. The Vocal Body: Extract from a Philosophical Encyclopedia of the Body. Qui Parle: Critical Humanities and Social Sciences, v.21, n.1. 2012.

CIELO, C. A. et al. Lesões organofuncionais do tipo nódulos, Pólipos e Edema de Reinke. Revista CEFAC. v. 4, n.3, p. 735-748, jul.-ago. 2011. Disponível: https://www.scielo.br/j/rcefac/a/6ddNMKmYXkFZtXn7hmBMnhJ/?lang=pt&format=pdf Acesso em: 15 out. 2021.

CONNOR, Steven. The Strains of Voice. (Tradução feita por Holger Wölfe de um ensaio que apareceu pela primeira vez em: FELDERER, Brigitte. Phonorama, Eine Kultuergestchithe der Stimme als Medium. Berlin: Matthes and Seitz. 2004. p.158-172. Disponível em: https://stevenconnor.com/. Acesso: 6 fev. 2020.

DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia – vol. 4. Trad. Suely Rolnik. São Paulo: Editora 34, 1997.

FOUCAULT, M. Nascimento da biopolítica: curso dado no Collège de France (1978-1979). São Paulo: Martins Fontes, 2008.

FOUCAULT, M. Em defesa da sociedade – Curso no Collège de France (1975-1976). São Paulo: Martins Fontes, 2005.

FOUCAULT, M. Ditos & escritos IV: estratégia Poder-Saber. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária, 2003.

FOUCAULT, M. Não ao sexo rei. In: FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Organização e tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2001. p. 229-242.

FOUCAULT, M. história da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Ed. Graal, 1999.

FOUCAULT, M. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola Edições, 1996.

FOUCAULT, M. O sujeito e o poder. In: RABINOW; P.; DREYFUS, H. Michel Foucault: uma trajetória filosófica (para além do estruturalismo e da hermenêutica). Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995. p. 231- 249.

HALBERSTAM, J. A arte queer do fracasso. Recife: CEPE, 2020.

HARAWAY, D. J. Staying with the Problem: Making Kin in the Chthulucene Durham: Duke University Press, 2016.

HARAWAY, D. J. Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial. Cadernos Pagu, Campinas, n.5, p. 7-41, 2009. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cadpagu/article/view/1773 Acesso em: 15 nov. 2021.

HARAWAY, D. J. Manifesto Ciborgue: ciência, tecnologia e feminismo socialista no final do século XX. In: HARAWAY, D.; KUNZRU, H.; TADEU, T. (org.). Antropologia do Ciborgue: as vertigens do pós-humano. 2. ed. São Paulo: Autêntica, 2009a. p 33-118.

HARAWAY, D. J. O Humano numa paisagem Pós-Humanista. Revista Estudos Feministas, v.1, n.2, 1993. Disponível em: https://doi.org/10.1590/%25x Acesso em: 5 abr. 2022.

HARAWAY, D. J. Simians, Cyborgs, and Women: The Reinvention of Nature. New York: Routledge, 1991.

JACOBS, D. D. S. Possível cartografia para um corpo vocal queer em performance. 2015. Tese (Doutorado) – Programa de Pós Graduação em Teatro, Universidade do Estado de Santa Catarina , Florianópolis, 2015.

JARMAN-IVENS, F. Queer Voices – Techonologies, Vocalities, and the Musical Flaw. New York: Palgrave Macmillan, 2011.

KIRBY, V. Telling Flesh – The Body as the Scene of Writing. Figurationen, v.19, n.2. 2018. Disponível em: https://www.degruyter.com/view/journals/figurationen/19/2/article-p64.xml Acesso em: Jun. 2020.

LUGONES, M. Rumo a um feminismo descolonial. Revista Estudos Feministas. v.22, n.3., set./dez. 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/ref/v22n3/13.pdf Acesso em: Jun. 2020.

MOMBAÇA, J. Pode um cu mestiço falar? 2015. Disponível em: https://medium.com/@jotamombaca/pode-um-cu-mestico-falar-e915ed9c61ee Acesso em: 4 dez. 2021.

MOMBAÇA, J. Para desaprender o queer dos trópicos: Stonewall não foi aqui. 2016. Disponível em: http://www.ssexbbox.com/para-desaprender-o-queer-dos-tropicos-stonewall-nao-foi-aqui. Acesso em: 4 ago. 2016.

PELÚCIO, L. Traduções ou torções ou o que se quer dizer quando dizemos queer no Brasil. Periódicus, n.1, paginação irregular, maio-out. 2014.

PENNYCOOK, A. Posthumanist Applied Linguistics. London, New York: Routledge, 2018.

PERRA, H. de. Interpretações imundas de como a Teoria Queer coloniza nosso contexto sudaca, pobre de aspirações e terceiro-mundista, perturbando com novas construções de gênero aos humanos encantados com a heteronorma. Revista Periódicus, v.1, n. 2, 2014-2015. Disponível em: http://www.portalseer.ufba.br/index.php/revistaperiodicus/article/view/12896/9216. Acesso em 3 jul. 2016.

PEREIRA, P. P. G. Queer nos trópicos. Contemporânea – Revista de Sociologia da UFSCar, v. 2, n.2, p. 371-394, jul.-dez. 2012.

PRECIADO, P. B. Un Apartamento en Urano. Crónicas del Cruce. Barcelona: Editoral Anagrama, 2019.

PRECIADO, P. B. Testo Junkie: drogas e biopolítica na era farmacopornográfica. Trad. Maria Paula Gurgel Ribeiro e Veronica Daminelli Fernandes. São Paulo: n-1 edições, 2018.

PRECIADO, P. B. Manifesto contrassexual: práticas subversivas de identidade sexual. Tradução: Maria Paula Gurgel Ribeiro. São Paulo: n-1 edições, 2014.

RIVAS, F. “Diga ‘queer’ con la lengua afuera”: Sobre las confusiones del debate latinoamericano. In: Por un feminismo sin mujeres. Santiago de Chile, CUDS, 2011. p. 59-75.

SCHLICHTER, A. Do Voices Matter? Vocality, Materiality and Gender Performativity. Body & Society. v. 17, n. 31. 2011.

TRAUNMÜLLER, H.; ERIKSSON, A. The frequency range of the voice fundamental i the speech of male and female adults. Web site of the Department of Linguistics, Stockhlm University. 198? Disponível em: http://www.ling.su.se/staff/hartmut/f0_m&f.pdf Acesso em: 2 abr. 2022.

Downloads

Publicado

2022-11-23

Edição

Seção

Dossiê