Culpadas ou vítimas? Mulheres e a força das normas sociais na conceptualização de violência

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-8412.2024.e95921

Palavras-chave:

Violência de gênero, Metáforas multiníveis, Frames, Ordem simbólica

Resumo

Apesar dos inúmeros avanços no enfrentamento da violência de gênero contra a mulher, os números indicam que esse fenômeno social mantém crescimento alarmante.  Visando contribuir para o seu entendimento, este artigo investiga a conceptualização de violência por um grupo de mulheres brasileiras que narram no Facebook episódios de violência por elas experienciados. Com o auxílio do AntConc, seleciona postagens em que violência e punição coocorrem e analisa seis delas qualitativamente com base nos modelos teóricos da Linguística Cognitiva, em particular, da Teoria da Metáfora Conceptual (Lakoff; Johnson, 1980) e da Visão Multiníveis e Contextualizada da Metáfora (Kövecses, 2020).  Surpreendentemente, as narradoras justificam esses eventos com seu próprio comportamento, em um processo de auto culpabilização, ancorado na metáfora violência é punição, em que punição é consequência. Como explicar esse fenômeno?  Com base na análise, essa conceptualização emerge das forças sociais que manipulam a mulher sempre que há transgressão da ordem simbólica estabelecida (Bourdieu, 2012). 

Biografia do Autor

Tânia Saliés, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Professora titular do Departamento de Estudos de Linguagem da Universidade do Estado e do Programa de Pós-graduação em Letras, na especialidade de Linguística. Obtever seu PhD e mestrado em Linguística pela Oklahoma State University tendo atuado em universidades americanas e na Pontifícia Unviersidade Católica do Rio de Janeiro.  Tem experiência vasta experiência no ensino-aprendizagem de línguas adicionais  e análise de discurso em contextos variados, sob a ótica sociocognitiva e crítica. Publicou artigos, capítulos de livros e livros em Linguuística Aplicada e Linguística Cognitiva, o mais recente tendo sido entitulado Linguística Cognitiva Aplicada.

Ana Vitória de Queiroz Valente da Silva, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Mestre em Linguística pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, onde também se bachalerou em Inglês e Literaturas de Língua Inglesa.   Desenvolve pesquisa na área de Linguística Cognitiva com ênfase em violência de gênero e suas representações em ambientes digitais.  Atua como coordenadora pedagógica em escola bilingue no Rio de Janeiro. Tem experiência no ensino-aprendizagem do inglês como língua adicional.  Foi bolsista CAPES e bolsista FAPERJ.  Publicou artigos em revistas, livros e anais de congresso que versavam sobre a violência de gênero.  ID Lattes: http://lattes.cnpq.br/4882607432941280 

Referências

ALVARO, P. T. Self e ponto de vista na linguagem da violência de gênero: uma análise semântico-cognitiva de relatos femininos em 1ª pessoa. Cadernos do CNLF, v. 11, n. 3, p. 2315- 2334, 2017. Disponível em: http://www.filologia.org.br/xxi_cnlf/cnlf/Cad_CNLF_XXI_Textos_completos.pdf. Acesso em: 3 junho 2020.

ANTHONY, L. AntConc (Versão 3.2.4) [Computer Software]. Tokyo, Japan: Waseda University, 2012. Disponível em http://www.laurenceanthony.net/. Acesso em: 05 março 2018.

BANDEIRA, L M. Violência de gênero: a construção de um campo teórico e de investigação. Sociedade e Estado, v. 29, n. 2, p. 449-469, maio/ago. 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-69922014000200008 . Acesso em: 8 jan. 2024.

BARREIRA, I. A. F. A dominação masculina. Práticas e Representações Regionais, v. 30, n. 1, p. 178-181, out. 1999, Disponível em: http://www.periodicos.ufc.br/revcienso/article/view/42523. Acesso em: 1 jun. 2020.

BARSALOU, L. Grounded cognition. Annual Review of Psychology, n. 59, p. 617-645, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1146/annurev.psych.59.103006.093639. Acesso em 08 jan.2024.

BARSTED, L. L. O feminismo e o enfrentamento da violência contra mulheres no Brasil. In: SANDENBERG, C. M. B.; TAVARES, M. S (org.). Violência de gênero contra mulheres: suas diferentes faces de enfrentamento e monitoramento. Salvador: Editora da Universidade Federal da Bahia, 2016. p.17-40.

BOURDIEU, P. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Editora Bertrand, 2012.

CALDEIRA, B. et al. Violência é caça: a violência contra mulher na visão multiníveis da metáfora conceptual. E-book I CONEIL. Campina Grande: Realize Editora, 2020. v.2, p. 11-22. Disponível em: https://www.editorarealize.com.br/artigo/visualizar/71958. Acesso em: 14 ago.2023.

BRUM, E. Os vendilhões. El País. Coluna Opinião. November 20, 2017. Available at: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/11/20/opinion/1511192636_952720.html Access on: Jan. 24, 2024.

CÂMARA DOS DEPUTADOS .Violência contra a mulher. Lei Fácil Livro 1. Brasília, 2020. Disponível em: https://bd.camara.leg.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/40030/viol%C3%AAncia_contra_mulher_Almeida.pdf?s Acesso em: 04 ago 2023.

CAMERON, L. Patterns of metaphor use in reconciliation talk. Discourse & Society, v. 18, n. 2, p. 197-222, 2007. Disponível em: https://doi.org/10.1177/0957926507073376 Acesso em: 03 abr. 2023.

CARNEIRO, M. F. Emergência de metáforas sistemáticas na fala de mulheres vítimas diretas de violência doméstica: uma análise cognitivo-discursiva. 2014. 425 f. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2014. Disponível em: http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/8920. Acesso em: 25 junho 2020.

DA COSTA, F. A. et al. Estruturas e processos cognitivos nos eventos de fala de violência contra a mulher. Revista Coralina, v. 4, n.1, p. 94-08, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.31668/coralina.v4i1.13340 Acesso em: 08 jan. 2024.

DOURADO, B. Ranking: as redes sociais mais usadas no Brasil e no mundo em 2023, com insights, ferramentas e materiais. Rd station–Resultados digitais. Disponível em: https://resultadosdigitais.com.br/marketing/redes-sociais-mais-usadas-no-brasil/. 24 de abril de 2024. Acesso em: 1 ago. 2024.

FAIRCLOUGH, N. Discurso e mudança social. Brasília: Editora da UnB, 2001.

FELTES, H, P. M. Semântica cognitiva: ilhas, pontes e teias. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2007.

FILLMORE, C. J. Frame semantics. The linguistic society of Korea: linguistics in the morning calm. Korea: Hanshin Publishing Company, 1982. p.111-137. Disponível em: https://brenocon.com/Fillmore%201982_2up.pdf Acesso em: 08 jan. 2024.

IPEA. Atlas da violência 2019. Fórum de Segurança. Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, 2019. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/download/19/atlas-da-violencia-2019. Acesso em: 20 julho 2023.

JOHNSON, M. The meaning of the body: aesthetics of human understanding. Chicago: The University of Chicago Press, 1987.

KÖVECSES, Z. Extended metaphor theory. Cambridge: Cambridge University Press, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1017/9781108859127 Acesso em: 8 jan. 2024.

KÖVECSES, Z. Levels of metaphor. Cognitive Linguistics, v. 28, n. 2, p. 321-347, mar. 2017. Disponível em https://www.degruyter.com/view/journals/cogl/28/2/article-p321.xml. Acesso em: 5 mar. 2020.

KÖVECSES, Z. Where metaphors come from: reconsidering context in metaphor. New York: Oxford University Press, 2015.

LAKOFF, G. Women, fire and dangerous things: what categories reveal about the mind. Chicago: The University of Chicago Press, 1987.

LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Metaphors we live by. Chicago: The University of Chicago Press, 1980.

LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Philosophy in the flesh: the embodied mind and its challenge to Western thought. New York: Basic Books, 1999.

LANGACKER, R. Essentials of cognitive grammar. Oxford: Oxford University Press, 2013.

LANGACKER, R. W. Cognitive Grammar: A Basic Introduction. Oxford: Oxford University Press, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780195331967.001.0001. Acesso em: 8 jan. 2024.

LANGACKER, R. W. Foundations of cognitive grammar. Stanford: Stanford University Press, 1987.

LINDE, C. Life stories, the creation of coherence. New York: Oxford University Press, 1993.

MACHADO, V. S. Entre números, cálculos e humanidade: o princípio constitucional da individualização da pena e o mito da punição humanizada. 2009. 156f. Dissertação (Mestrado em Direito), Departamento de Direito, Universidade de Brasília, Brasília, 2009.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Prevenção e tratamento dos agravos resultantes da violência sexual contra mulheres e adolescentes. 3ª. ed. Norma Técnica. Secretaria de Atenção à Saúde. 2012.

MUÉLES, M.; ROMANO, M. Changing socio-cognitive frames through anti-gender-violence metaphors in Spain: a multimodal metaphor analysis. Matraga v. 30, n. 59, p.254-283, 2023. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/matraga/issue/view/2882 Acesso em: 10 jan. 2024.

MUSSOLF, A. Political Metaphor Analysis: Discourse and Scenarios. London: Bloomsbury, 2016.

MUSSOLFF, A. Metaphor and political discourse: analogical reasoning in debates about Europe. New York: Palgrave Macmillan, 2004.

OEA, Organização dos Estados Americanos. Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher - “Convenção de Belém do Pará”, 1994. Disponível em http://www.oas.org/pt/cidh/mandato/basicos/belemdopara.pdf Acesso em 18 out. 2020.

PETERSSEN, S.; SOARES DA SILVA, A. Polarising metaphors in the Venezuelan presidential crisis. Journal of Language and Politics, 2023 [on-line]. Disponível em: https://doi.org/10.1075/jlp.22169.pet. Acesso em: 15 jan. 2024.

PRAGGLEJAZ GROUP - MIP: A method for identifying metaphorically used words in discourse. Metaphor and Symbol, v. 22, n. 1, p. 1-39, out. 2007. Disponível em: https://www.lancaster.ac.uk/staff/eiaes/Pragglejaz_Group_2007.pdf . Acesso em: 25 abr. 2020.

PRESOTTO et al. Dominar o corpo da mulher é violentá-lo: a progressão metafórica no texto “Os 18 vendilhões”, de Eliane Brum. Scripta. v. 22, n. 45, p. 191-204, maio/ ago. 2018. Disponível em: http://periodicos.pucminas.br/index.php/scripta/article/view/17155/13832. Acesso em: 20 jun. 2020.

QUEIROZ, A.V. Modelos cognitivos no processo de categorização de VIOLÊNCIA: estruturas e processos evidenciados no discurso da mulher. 2021. 101f. Dissertação (Mestrado em Linguística) - Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro, 2021. Disponível em: https://www.bdtd.uerj.br:8443/handle/1/20259 Acesso em: 10 jan. 2024.

QUEIROZ, A.V. A violência contra a mulher em interações do Facebook. In: SALIÉS, T.G. (org.), Linguística Cognitiva Aplicada: contextos profissionais e pedagógicos. Rio de Janeiro: LetraCapital, 2020. p. 26-39.

RADDEN, G.; DIRVEN, R. Cognitive English grammar. John Benjamins Publishing, 2007.

REZENDE, M. M.; SACRAMENTO, L. T. Violências: lembrando alguns conceitos. Aletheia. v. 24, n. 1, p.95- 04, 2006, Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/pdf/aletheia/n24/n24a09.pdf . Acesso em 20 jun. 2020.

VILLAR, M.S.; HOUAISS, A. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2009.

WODAK, R. Aspects of Critical Discourse Analysis. Zeitschrift für Angewandte Linguistik (ZfAL). v. 36, n. 1, p. 5-31, 2002.

Publicado

2024-09-06