Quem cala, consente? Um estudo com trabalhadores terceirizados em uma Universidade Pública

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1983-4535.2024.e98639

Palavras-chave:

Consentimento Organizacional, Terceirização, Vínculos Organizacionais

Resumo

Este trabalho objetiva explorar o consentimento organizacional em trabalhadores terceirizados numa instituição federal de ensino superior. Para tanto, buscou-se compreender se o vínculo é, de fato, reflexo do comportamento humano dentro da organização ou confunde-se como estratégia de sobrevivência desses atores ante o cenário econômico de incertezas e precariedade. Por terem um duplo vínculo empregatício – com a empresa contratante e com a empresa contratada, questões ligadas aos vínculos organizacionais merecem maior atenção, destacando-se o consentimento organizacional, interesse deste artigo. De abordagem qualitativa, a pesquisa foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas. Os dados foram analisados por meio de Análise de Conteúdo associada à Análise Lexicométrica com o auxílio do software IRaMuTeQ, deixando evidente que a aceitação da regra (ou norma) se dá apenas enquanto norteadora da atividade. A submissão inerente ao consentimento não se mostra entre os participantes da pesquisa e, para a amostra utilizada, não se acredita ser possível falar em consentimento, ao menos nos termos do construto aceitos até aqui. A partir dos dados levantados pode-se depreender que quem cala não está consentindo, mas apenas se mantendo empregado diante da insegurança inerente à função produtiva que ocupa. De maneira geral, os trabalhadores entrevistados entendem que a obediência às regras e, por conseguinte, a quem as ordena, é uma salvaguarda ao seu emprego.

Biografia do Autor

Adolfo de Alencar Melo Júnior, Universidade Federal de Pernambuco

Mestre pela Universidade Federal de Pernambuco, programa de pós-graduação em Administração (PROPAD/UFPE).

Diogo Henrique Helal

Doutor pela Universidade Federal de Minas Gerais. Pesquisador Titular - Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ). Professor Permanente - Programa de Pós Graduação em Administração (PROPAD), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Síria Freire de Paula

Mestra em Psicologia pela Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFPE.

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2025-01-08

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Artigos