Uma análise teórica sobre a relação entre o sistema de justiça e os povos indígenas no Brasil

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-8034.2025.e103464

Palavras-chave:

Antropologia do Direito, Sistema de Justiça, Indígenas, Brasil

Resumo

Este artigo teve como objetivo analisar as interfaces entre o sistema de justiça brasileiro e os povos indígenas, destacando a necessidade de um direito diferenciado. Por meio de exemplos, como o do povo Xakriabá, em Minas Gerais, e de indígenas encarcerados, em Roraima, discute-se a invisibilidade indígena no sistema prisional, evidenciada por subnotificações e pela ausência de dados étnico-raciais oficiais. Relatórios do Conselho Indigenista Missionário e notícias da imprensa ilustram a disparidade no tratamento penal de indígenas. Em diálogo com autores da Antropologia do Direito, propõe-se uma reflexão teórica sobre a construção de formas alternativas de justiça que respeitem os direitos humanos e os direitos específicos dos povos originários previstos em normativas nacionais e internacionais. A análise aponta a urgência de abordagens antropológicas no campo jurídico, contribuindo para visibilizar os indígenas no sistema de justiça e fomentar soluções que rompam com a lógica punitivista dominante.

Biografia do Autor

Louise Caroline Gomes Branco, Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Cientista social, mestra em Antropologia pela Universidad de Costa Rica (2019) e doutoranda em Antropologia Social na UFRN, com estágio doutoral na Universidade Nova de Lisboa (Capes). Atua nas áreas de etnologia indígena, epistemologias, feminismo comunitário e recuperação territorial. Integra o grupo Nova Cartografia Social (núcleo RN) e o GT Corpos, Territórios e Feminismos (Clacso). Pesquisadora no doutorado Capoeira Angola e interseccionalidades de gênero, raça e classe.

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Publicado

2025-07-31

Como Citar

BRANCO, Louise Caroline Gomes. Uma análise teórica sobre a relação entre o sistema de justiça e os povos indígenas no Brasil. Ilha Revista de Antropologia, Florianópolis, v. 27, n. 2, p. 26–46, 2025. DOI: 10.5007/2175-8034.2025.e103464. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ilha/article/view/103464. Acesso em: 6 dez. 2025.

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Artigos