Chamada para o dossiê temático Jornalismo Artificial? Desafios e tendências do Jornalismo frente à Inteligência Artificial
O próximo dossiê da Revista EJM será sobre Jornalismo e Inteligência Artificial, e tem como editores convidados, os professores Rodrigo Botelho-Francisco - Information & Media Lab, da Universidade Federal do Paraná - UFPR e Jesús Miguel Flores-Vivar - Internet Media Lab, da Universidad Complutense de Madrid - UCM.
Veja o CFP:
A Revista EJM lança chamada para o Dossiê: Jornalismo Artificial? Desafios e tendências do Jornalismo frente à Inteligência Artificial”, que será coordenado pelos professores Rodrigo Botelho-Francisco (UFPR) e Jesús Miguel Flores-Vivar (UCM). A edição, a ser publicada em dezembro de 2023, comporá o segundo número da Revista EJM em 2023. Os Artigos podem ser enviados até 20 de junho de 2023.
Algoritmos de Inteligência Artificial (IA) que atualmente ganham contornos de um mercado informático cada vez mais pujante já fazem parte do imaginário e dos entornos científicos há muito tempo. Murray (2003) chamou de "Descendentes de Eliza" um conjunto de experimentos neste campo para demonstrar como, no campo das narrativas, as máquinas vinham simulando conversações humanas. Do Teste de Turing em 1950, passando pelos rudimentares robôs que respondem perguntas até chegar ao popular ChatGPT e seus congêneres, como ChatSonic, Jasper Chat, CharacterAI, a capacidade dos computadores em relação a comportamentos inteligentes vem sendo explorada em seu mais alto potencial nos mais diversos setores da vida.
Em uma perspectiva interdisciplinar, a IA foi se desenvolvendo ao longo dos anos como um campo científico particular, envolvendo interesse de diferentes campos que vão desde a própria Informática até a Sociologia, Filosofia e, porque não, o Jornalismo.
Na Computação o problema foi introduzido pioneiramente por Turing (1950) ao buscar responder se as máquinas podem pensar. Atualmente o conceito pode ser observado na definição de Sichman (2021, p. 39), como "uma coleção de modelos, técnicas e tecnologias (busca, raciocínio e representação de conhecimento, mecanismos de decisão, percepção, planejamento, processamento de linguagem natural, tratamento de incertezas, aprendizado de máquina) que, isoladamente ou agrupadas, resolvem problemas de tal natureza".
Nas Ciências Sociais várias são as abordagens, com destaque para aquelas que problematizam os desafios advindos dessa relação humano-máquina, onde fica relegado para esta segunda a mediação de temas e práticas sociais, como a da Justiça, por exemplo. Clássico é o caso do COMPAS, relatado recorrentemente pela literatura científica como um algoritmo utilizado nos EUA para avaliar probabilidade de reincidência de prisioneiros na prática de crime e que foi acusado pela organização de Jornalismo Investigativo ProPublica por apresentar uma tendência discriminatória contra pessoas negras (PROPUBLICA, 2016). Além deste exemplo, há outras denúncias tão alarmantes quando envolvendo discurso de ódio e misoginia, dentre outros ataques a minorias, demonstrando o desafio que é superar o viés algoritmo. Se as máquinas aprendem com o comportamento humano, como ensiná-las a, também, não ser preconceituosas?
Neste ponto a Filosofia traz um debate que vai ser central e busca responder o que queremos dizer sobre a tecnologia quando afirmamos que ela é artificial, num contraponto evidente com o natural. Debate central, inclusive, de um ponto de vista epistemológico e ético, dado o caráter arbitrário presente no próprio conceito de artificialidade. Caberia dizer que a inteligência não é natural? Como a tomada de decisão usando IA, neste caso, pode se valer do legado da ideia de inteligência como um constructo relacionado ao conhecimento em todo o seu caráter de subjetividade?
No Jornalismo, por sua vez, para além dos problemas próprios de uma ciência que também é social, surgem desafios e oportunidades como ciência aplicada. Neste caso, os exemplos desta relação com a IA vão desde produção de notícias automatizadas até iniciativas que usam IA para combater a desinformação. Com o recente estouro do ChatGPT assistido no início do ano 2023, por exemplo, o Jornalismo se vê, uma vez mais, a enfrentar o desafio. Escrever, analisar e narrar os fatos do mundo parecem estar se tornando tarefas facilitadas pela máquina, com ferramentas cada vez mais acuradas.
Dos Santos (2020, p. 591), já afirmava que trata-se de uma "alternativa para elevac?a?o da percepc?a?o de valor sobre o produto informativo, reduzida pela fragmentac?a?o das audie?ncias, explosa?o de emissores, concorre?ncia indireta das grandes empresas de tecnologia e transformac?o?es culturais do ecossistema de meios digitais".
Além desta discussão sobre os impactos da IA nos diferentes setores, há também debates sobre a sua inserção em diferentes realidades socioeconômicas.
Mas, quais as reais contribuições da IA para o Jornalismo em suas diferentes realidades geopolíticas? Como esta tecnologia atua na própria reconfiguração do Jornalismo enquanto prática profissional? Como o campo vai incorporando a IA na sua constituição e configurando um contexto contemporâneo de datificacão dos mais diversos setores da vida? Como tratar as questões éticas advindas da utilização de IA no Jornalismo? Como os modos de narrar do jornalismo devem lidar com a IA? Como a IA contribui e, ao mesmo tempo, é utilizada para combater a desinformação? Como os robôs podem ser utilizados para checagem de informação? A Inteligência Artificial vem ajudar o exercício da profissão, ou é uma ameaça à expressão individual e criativa dos profissionais?
Estas são apenas algumas perguntas que se apresentam numa linha de pesquisa em aberto para o Jornalismo, e à qual esta edição de EJM pretende se dedicar. Provocativamente ainda perguntamos: Trata-se de um Algo-Jornalismo? Trata-se de um Jornalismo Artificial? O que, de fato, se apresenta nesta relação entre Inteligência Artificial e o Jornalismo Natural?
Com isso, a próxima edição da EJM pretende ser um palco para reflexão acerca de como o Jornalismo poderá conviver com mais esse desafio. Esperamos, com a provocação, reunir pesquisadoras e pesquisadores da comunidade brasileira e internacional em torno de um debate interdisciplinar e aberto que seja capaz, não de apresentar respostas em definitivo, mas somar esforços numa contribuição do Jornalismo também como participante da constituição desta que socialmente vimos convencionando chamar, ao longo da história recente, de Inteligência Artificial.
Boas-vindas ao debate!
Rodrigo Botelho-Francisco
Jesús Miguel Flores-Vivar
Referências:
DOS SANTOS, M. C. Data-Driven Journalistic Operation: Reshaping the Idea of News Values with Algorithms, Artificial Intelligence and Increased Personalization. Brazilian journalism research, [S. l.], v. 16, n. 3, p. 458–475, 2020. DOI: 10.25200/BJR.v16n3.2021.1295.
MURRAY, J. Hamlet on the Holodeck: The Future of Narrative in Cyberspace. London: MIT Press, 2017.
PROPUBLICA. Machine Bias There’s software used across the country to predict future criminals. And it’s biased against blacks. New York: ProPublica, 2016. Disponível em:
<https://www.propublica.org/article/machine-bias-risk-assessments-incriminal-sentencing>. Acesso em: 19 mar. 2023.
SICHMAN, J. S.. Inteligência Artificial e sociedade: avanços e riscos. Estudos Avançados, v. 35, n. Estud. av., 2021 35(101), p. 37–50, jan. 2021. DOI: 10.1590/s0103-4014.2021.35101.004
TURING, A. M.. I - Computing Machinery and Intelligence, Mind, Volume LIX, Issue 236, October 1950, Pages 433–460. DOI: 10.1093/mind/LIX.236.433.
Datas importantes:
Envio de artigos: até 20 de junho de 2023
Respostas dos editores aos autores: até 20 de agosto de 2023.
Publicação da edição: segundo semestre de 2023.
Informações adicionais:
Formatação e encaminhamento dos textos:
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Submissões pelo sistema eletrônico:
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ATENÇÃO: Na página de rosto dos artigos ou nos comentários ao editor deverá constar a informação “Dossiê Jornalismo Artificial? Desafios e tendências do Jornalismo frente à Inteligência Artificial”.