Comunicação Pública da Ciência e feminismo: estratégias do Projeto Vivas no Instagram

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-6924.2024.101414

Palavras-chave:

comunicação pública da ciência, feminismo, mídia e aborto

Resumo

O artigo discute as estratégias comunicacionais da organização não-governamental (ONG) Projeto Vivas, que auxilia o acesso ao aborto legal, na rede social Instagram. Com base em debates sobre o aborto como estigma social e epistemologias feministas, argumentamos que a perspectiva de gênero e o entendimento da Comunicação Pública da Ciência (CPC) como cultura são cruciais para promover debates qualificados sobre a cobertura do aborto como questão de saúde pública na mídia. Após uma análise de conteúdo das postagens realizadas entre setembro de 2021 e setembro de 2023 pelo projeto, concluímos que a combinação entre conhecimento científico e acolhimento às pessoas que gestam dialoga com a proposição de uma CPC feminista. A partir desse viés, no qual a mídia tem papel preponderante nas produções de sentido sobre e a partir da ciência, fomenta-se a produção de novos conhecimentos localizados pelas experiências de corpos atravessados por gênero, além do combate ao silenciamento desses mesmos corpos.

Biografia do Autor

Maíra Lemos, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Bacharel em Ciências Sociais e mestre em Sociologia com ênfase em Antropologia pela UFRJ, possui especialização em Divulgação e Popularização da Ciência pela Fiocruz. É pesquisadora do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana (NECVU/UFRJ). Realiza pesquisas nas áreas de divulgação científica, sociologia da moral, estudos de gênero e sistema de justiça criminal.

Marcelo Garcia

Jornalista e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz. Docente da Especialização em Divulgação e Popularização da Ciência, do Museu da Vida, filiado à Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz),

Simone Evangelista, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e da Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Doutora em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Bolsista do Programa Prociência/UERJ. 

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Publicado

2024-12-30