Reportagem e reconhecimento: a alteridade como projeto

Autores

  • Reges Schwaab Universidade Federal de Santa Maria

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-6924.2021.e75889

Resumo

O presente texto debate a reportagem jornalística e sua construção narrativa como devedora do gesto de reconhecimento, mantendo em permanente evidência o Outro como dimensão primeira da comunicação. O Outro como questão é um convite ao fim da distância, mesmo que seja também um limite à aproximação. Para Paul Ricoeur, a reciprocidade do reconhecimento é a exigência ética mais profunda. Em Emmanuel Lévinas, o princípio ético absoluto é o cuidado com o outro, uma responsabilidade incondicional e infinita como estrutura fundamental da subjetividade. Em uma articulação entre os estudos da reportagem e a filosofia, propôs-se tomar a reportagem, em sua qualidade de metodologia do jornalismo, fundamentada por um encontro que é ruptura do mesmo em direção ao Outro e cuja escrita pode tensionar a representação que apaga o clamor do Rosto, potência para pensar o jornalismo diante da vida precária e da exclusão. 




Biografia do Autor

Reges Schwaab, Universidade Federal de Santa Maria

Professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e do Departamento de Ciências da Comunicação - Campus Frederico Westphalen - Universidade Federal de Santa Maria. Realizou pós-doutorado na Universidad de Antioquia, em Medellín - Colômbia. Doutor em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com estágio de doutoramento na Universidade Nova de Lisboa - Portugal. Mestre pelo mesmo programa. Graduado em Jornalismo pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

Referências

ARANHA, Ana; MOTA, Jéssica. A batalha pela fronteira Munduruku. São Paulo, Agência Pública, 2016. Disponível em: http://apublica.org/2014/12/batalha-pela-fronteira-munduruku. Acesso em: 4 maio 2020.

ARENDT, Hannah. A condição humana. 16 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2016.

BAPTISTA, Carla. Os outros do jornalismo. Media & Jornalismo, n. 3, p. 103-11, 2003.

BHABHA, Homi. Democracia des-realizada. Revista Tempo Brasileiro, n. 148, p. 67-80, jan./mar. 2002.

BHABHA, Homi. Nuevas minorías, nuevos derechos: notas sobre cosmopolitismos vernáculos. Buenos Aires: Siglo XXI, 2013.

BHABHA, Homi. O local da cultura. Belo Horizonte: UFMG, 1998.

BRUM, Eliane. Os vampiros da realidade só matam pobres. In: VARGAS-LLOSA, M. et al. (org.). DIGNIDADE! - nove escritores vivenciam situações-limite e relatam o comovente trabalho da organização Médicos Sem Fronteiras. São Paulo: Leya, 2012.

BUTLER, Judith. Vida precária. Contemporânea, 1, p. 13-33, jan./jun. 2011.

CARVALHO, Carlos. A comunicação como metáfora para compreensão do social. Líbero, v. 17, n. 34, p. 131-144, 2014.

CASTELLO, José. A literatura na poltrona. Rio de Janeiro: Record, 2007.

COELHO, Alexandra Lucas. Corta-e-cola até à derrota final. Atlântico Sul, 2014. Disponível em: http://blogues.publico.pt/atlantico-sul/2014/07/27/corta-e-cola-ate-a-derrota-final. Acesso em: 4 maio 2020.

COELHO, Alexandra Lucas. Uma ponte entre a escrita e o mundo (entrevista). In: MAROCCO, B. O jornalista e a prática – entrevistas. São Leopoldo: Unisinos, 2012.

COELHO, Alexandra Lucas. Viva México. Rio de Janeiro: Tinta-da-china Brasil, 2013.

DERRIDA, Jacques. Adeus a Emmanuel Levinas. São Paulo: Perspectiva, 2008.

DUSSEL, Enrique. Ética de la liberación. Madrid: Trotta, 1998.

FRANÇA, Vera. Impessoalidade da experiência e agenciamento dos sujeitos. In: LEAL, B. S; GUIMARÃES, C.; MENDONÇA, C. (orgs.). Entre o sensível e o comunicacional. Belo Horizonte: Autêntica, 2010.

FREITAS, Camila; BENETTI, Marcia. Alteridade, outridade e jornalismo: do fenômeno à narração do modo de existência. Brazilian Journalism Research, v. 13, n. 2, p. 10-29, 2017.

FOUCAULT, Michel. Estética: literatura e pintura, música e cinema. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009. (Ditos e Escritos, III).

GUIMARÃES, Cesar; LIMA, C. Ser-em-comum: Notas para uma aproximação entre a Ética de Lévinas e a Episteme comunicacional. Eco-Pós, v. 16, n. 1, p. 76-89, jan./abr. 2013.

LÉVINAS, Emmanuel. Entre nós: ensaios sobre alteridade. Petrópolis: Vozes, 2004.

LÉVINAS, Emmanuel. Ética e Infinito. Lisboa: Edições 70, 1998.

LÉVINAS, Emmanuel. Totalidade e infinito. Lisboa: Edições 70, 1980.

MANSANO, Sônia R. V. Sujeito, subjetividade e modos de subjetivação na contemporaneidade. Revista de Psicologia da UNESP, v. 8, n. 2, p. 110-117, 2009.

MARCELO, Gonçalo. O que seria um reconhecimento sem a exigência de reciprocidade? Levinas, Ricoeur e a utopia de um reconhecimento centrado no outro. In: MARCOS, Maria Lucília; COUTINHO, Maria João; BARCELOS, Paulo. Emmanuel Levinas: entre reconhecimento e hospitalidade. Lisboa: Edições 70, 2011> p. 273-288.

MARCOS, Maria. L. Comunicação, experiência e a questão do reconhecimento: a alteridade radical no pensamento de Lévinas. Entrevista. Intercom. Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, v. 33, n. 2, p. 241-251, 2010.

MARCOS, Maria L. Identidade narrativa e ética do reconhecimento. Etudes Ricoeurienes/Ricoeur Studies, v. 2, n. 2, p. 63-74, 2011.

MARCOS, Maria L. Princípio da relação e paradigma comunicacional. Lisboa: Colibri, 2007.

MARCOS, Maria L. Reconhecer, reconhecer-se, ser reconhecido. In: MARCOS, Maria L; MONTEIRO, A. R. Reconhecimento – do desejo ao direito. Lisboa: Colibri, 2008. p. 23-56.

MARIANO, Agnes. Eliane Brum e a arte da escuta. Em Questão, v. 17, n. 1, p. 299-313, 2011.

MARTINO, Luís Mauro Sá; MARQUES, Angela Cristina Salgueiro. A comunicação como ética da alteridade: pensando o conceito com Lévinas. Intercom, v. 42, p. 21-40, 2019.

MEDINA, Cremilda. Atravessagem – reflexos e reflexões na memória de repórter. São Paulo: Summus, 2014.

MEDINA, Cremilda. O signo da relação. Comunicação e pedagogia dos afetos. São Paulo: Paulus, 2006.

MELO, Hygina B. O rosto do outro: a morada como acolhimento em Lévinas. Síntese, v. 26, n. 84, p. 119-126, 1999.

MONTEIRO, A. R. Expressões de reconhecimento. In: MARCOS, M. L.; MONTEIRO, A. R. Reconhecimento – do desejo ao direito. Lisboa: Colibri, 2008. p. 54-104.

MOTTA, Luiz Gonzaga. Narrativas jornalísticas e conhecimento de mundo: representação, apresentação ou experimentação da realidade. In: PEREIRA, F.; MOURA, D.; ADGHIRNI, Z. (orgs.). Jornalismo e sociedade: teorias e metodologias. Florianópolis: Insular, 2012. p. 219-241.

PEREIRA JUNIOR, Luiz Costa. Apuração da notícia: métodos da investigação na imprensa. 3 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2010.

PONIATOWSKA, Elena. Luz y luna, las lunitas. México: Ediciones Era, 2007.

OSORIO VARGAS, Raul Hernando. El reportaje como metodologia del periodismo. Una polifonia de saberes. Medellín: Editorial Universidad de Antioquia, 2017.

PAZ, Octavio. El labirinto de la soledad. Bogotá: Fondo de Cultura Económica, 1993.

PAZ, Octavio. Nosotros: los otros. Claves de Razón Práctica, v. 55, p. 2-13, set. 1995.

PERES, Ana Cláudia M. A. O que resta dos fatos: testemunho e guinada afetiva no jornalismo. 2017. 182 p. Tese (Doutorado Comunicação Social) - Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, 2017.

RABINOVICH, Silvana. Alteridade. In: SZURMUK, M.; IRWIN, R. M. Dicionário de estudios culturales latino-americanos. México: Siglo XXI Editores: Instituto Mora, 2009. p. 43-46.

RESENDE, Fernando. O jornalismo e suas narrativas: as brechas do discurso e as possibilidades do encontro. Galáxia, v. 18, n. 2, p. 31-43, 2009.

RESENDE, Fernando. Fronteiras epistemológicas da pesquisa em Jornalismo. Conferência. In: CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM JORNALISMO, XX; Notas pessoais; 2014.

RESENDE, Fernando. Quando eu (não) é outro: uma conversa sobre cortes e travessias. Universidade Federal de Santa Maria. Aula inaugural do Programa de Pós-graduação em Comunicação; Notas pessoais; 2015.

RICOEUR, Paul. Tempo e narrativa. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010a. v.1.

RICOEUR, Paul. Tempo e narrativa. São Paulo: Martins Fontes, 2010b. v.3.

ROLNIK, Suely. Cartografia sentimental: transformações contemporâneas do desejo. Porto Alegre: Sulina: Editora da UFRGS, 2011.

SABIDO, Olga. El extraño. In: LEÓN, E. (org.). Los rostos del Otro: reconocimiento, invención y borramiento de la alteridade. México: Anthropos Editorial: Universidad Nacional Autónoma de México, 2009. p. 25-57.

SANTOS, Boaventura S. Renovar a Teoria Crítica e reinventar a emancipação social. São Paulo: Boitempo, 2007.

SANTOS, Boaventura. S. Para uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências. Revista Crítica de Ciências Sociais, n. 63 (out.), 2002.

SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Editora Universidade de São Paulo, 2002.

SANTOS, Milton. Da totalidade ao lugar. São Paulo: Edusp, 2006.

SERELLE, Marcio. Jornalismo e guinada subjetiva. Revista Estudos em Jornalismo e Mídia, v. 6, n. 2, p. 33-44, 2009.

SERELLE, Marcio. Profissão repórter revisitado: as dimensões do afeto. In: SOARES, Rosana L.; RODRIGUES, Maira (orgs.). Profissão repórter revisitado. São Paulo: Alameda, 2012. p. 177-187.

TAVARES, Gonçalo M. Breves notas sobre as ligações. Lisboa: Relógios d’água, 2009.

Downloads

Publicado

2022-01-03