A última morte de Lourival: a cisgeneridade como metanarrativa sobre os corpos no jornalismo
DOI:
https://doi.org/10.5007/1984-6924.2021.72307Resumo
O objetivo do artigo é discutir as formas como a cisgeneridade opera nas racionalidades que orientam as práticas jornalísticas. Essa reflexão é realizada a partir da análise de um caso exemplar: descrevem-se as estratégias narrativas de objetivação e subjetivação encontradas na reportagem televisiva O segredo de Lourival, veiculada em 2019 pelo Fantástico (Rede Globo). Na reportagem, Lourival Bezerra de Sá é apresentado não como uma pessoa transgênera, mas como “uma mulher que se passou por homem durante décadas”. As estratégias apontam para a cisgeneridade como uma metanarrativa, plano de fundo que sustenta o entendimento dos corpos pelo jornalismo, dimensão de caráter fabular e moralista que oblitera a interpretação da complexidade da vida social atuando na manutenção da precariedade dos regimes simbólicos ao ponto de criminalizar as identidades gênero-divergentes.
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