Da relação com o saber medicalizante às práticas escolares em Florianópolis
Resumo
O presente trabalho versa sobre a presença do saber medicalizante nas escolas públicas municipais de Florianópolis (SC). Ao problematizar a medicalização da educação formal, nos perguntamos sobre as consequências para o (in)sucesso escolar da(o) aluna(o) e a sua função ideológica que tende a ocultar a escola como reprodutora das desigualdades sociais. Demarcada no campo da sociologia da educação, esta pesquisa assume uma perspectiva quanti-quali, partindo do estudo da produção acadêmica relacionada ao fenômeno e das políticas educacionais e de saúde sobre práticas (não) medicalizantes para, em seguida, proceder ao “[...] estudo concreto dos contextos singulares de acção [...]” (SARMENTO, 2011, p. 4), com utilização de procedimentos de base empírica. Neste ensaio pretende-se refletir sobre a problematização do conceito de medicalização como instrumental para a pesquisa, a partir da concepção teórico-metodológica sartreana no campo da sociologia da educação. Por fim, analisamos aspectos da pesquisa sociológica sobre o tema da medicalização, constatando crescente interesse no campo escolar, bem como uma demarcação da abordagem sócio-histórica e relacionada a antipsiquiatria.
Referências
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and statistical manual of mental disorders: DSM-5. 5. ed. Arlington, VA: American Psychiatric Association, 2013.
BRZOZOWSKI, F. S.; CAPONI, S. N. C. Medicalização dos desvios de comportamento na infância: aspectos positivos e negativos. Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, v. 33, n. 1, p. 208-221, 2013.
BELTRAME, M. M.; BOARINI, M. L. Saúde Mental e Infância: reflexões sobre demanda escolar de um CAPSI. Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, v. 33, n. 2, p. 336-349, 2013.
BERG, V. J. H. O paciente psiquiátrico: esboço de psicopatologia fenomenológica. 4. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1981.
BERTOLINO, P. Tardieu: humanismo e medicina. [S. l.: s. n.], 2009. Disponível em: http://nuca.org.br/Textos/Nova%20pasta/Macabro_Engodo_III%20_Tardieu%20_humanismo_e_mediicina.pdf. Acesso em: 8 jan. 2019.
BERTOLINO, P. Sartre: Psicologia & Filosofia. [S. l.: s. n.], 2015. Disponível em: http://nuca.org.br/Textos/Sartre_Psicologia_e_Filosofia.pdf. Acesso em: 08 jan. 2019.
BOURDIEU, P.; PASSERON, J. C. La reproduction: éléments pour une théorie du système d’enseignement. Paris: Minuit, 1970.
BOURDIEU, P. La distinction: critique sociale du jugement. Paris: Minuit, 1979.
BOURDIEU, P. Le sens pratique. Paris: Minuit, 1980.
CANGUILHEM, G. O normal e o patológico. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009.
CHARLOT, B., BAUTIER, É.; ROCHEX, J. Y. École et savoir dans le banlieue: et ailleurs. Paris: Armand Colin, 1992.
CHARLOT. B. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre: Artmed, 2000.
CHARLOT, B. A noção de relação com o saber: bases de apoio teórico e fundamentos antropológicos. In: CHARLOT, B. Os jovens e o saber: perspectivas mundiais. Porto Alegre: Artmed, 2001. p. 15-32.
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Subsídios para a campanha: não à medicalização da vida: medicalização da educação. [Brasília, DF]: Conselho Federal de Psicologia, [2012?]. Disponível em: https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/07/Caderno_AF.pdf. Acesso em: 3 jul. 2019.
CRESWELL, J. W.; PLANO-CLARK, V. L. Pesquisa de métodos mistos. 2. ed. Porto Alegre: Penso, 2013.
FÓRUM SOBRE MEDICALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO E DA SOCIEDADE. Nota Técnica. O Consumo de Psicofármacos no Brasil dados do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados ANVISA (2007-2014), junho de 2015. Disponível em: http://medicalizacao.org.br/wp-content/uploads/2015/06/NotaTecnicaForumnet_v2.pdf. Acesso em: 27 set. 2019.
FUCK, L. B. Raízes da psiquiatrização da escola: aspectos da mitomania. 2010. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2010.
FUCK, L. B. Abuso sexual, homossexualidade, HIV e suicídio. In: CONGRESSO PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2., 2006, São Paulo. Anais [...]. São Paulo: UNINOVE, 2006. Disponível em: http://nuca.org.br/Textos/Congresso/Abusosexual.pdf. Acesso em: 3 jul. 2019.
GOFFMAN, E. Manicômios, prisões e conventos. São Paulo: Perspectiva, 1961.
LAHIRE, B. Patrimónios individuais de disposições: para uma sociologia à escala individual. Revista Sociologia, Problemas e Práticas, n.. 49, p. 11-42, set./dez. 2005. Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/pdf/spp/n49/n49a02.pdf. Acesso em: 12 mar. 2019.
LAING, R. D. O Eu e os outros. Petrópolis, RJ: Vozes, 1972.
LAING, R. D. O Eu dividido: estudo existencial da sanidade e da loucura. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1978.
LAING, R. D.; COOPER, D. Razão e Violência. Petrópolis, RJ: Vozes, 1976.
LAING, R. D.; ESTERSON, A. Sanidade, loucura e família. 2. ed. Belo Horizonte: Interlivros, 1980.
LEONARDO, N.S. T.; SUZUKI, M.A. Medicalização dos problemas de comportamento na escola: perspectivas de professores. Fractal, Rev. Psicol. [online], v. 28, n. 1, p. 46-54, 2016. ISSN 1984-0292. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1984-02922016000100046&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 27 set. 2019.
PATTO, M. H. S. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia. 2. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999.
RIBEIRO, M. I. S. A medicalização da educação na contramão das diretrizes curriculares nacionais da educação básica. Revista Entreideias, Salvador, v. 3, n. 1, p. 13-29, jan./jun. 2014.
ROCHEX, J. Y. Le sens de l'expérience scolaire: entre activité et subjectivité. Paris: PUF, 1995.
ROCHEX, J. Y. A noção de relação com o saber: convergências e debates teóricos. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 32, n. 3, p. 637-650, set./dez. 2006.
SANTA CATARINA. Governo do Estado. Secretaria de Estado da Educação. Proposta curricular de Santa Catarina: formação integral da educação básica. 2014. Disponível em: http://www.uniedu.sed.sc.gov.br/index.php/graduacao/proesde/cursos-de-extensao/midiateca/proposta-curricular-de-santa-catarina/359-2014-proposta-curricular-de-santa-catarina-formacao-integral-na-educacao-basica/file. Acesso em: 3 jul. 2019.
SANTOS, L. H. S.; FREITAS, C. R. TDAH, aprimoramento e medicalização no âmbito da saúde mental global: uma entrevista com Ilina Singh (Parte 2). Interface (Botucatu), Botucatu, v. 22, n. 65, p. 631-641, abr./jun. 2018.
SARMENTO, M. J. O Estudo de caso etnográfico em educação. In: Zago, N. et al. (org.) Itinerários de pesquisa: perspectivas qualitativas em sociologia da educação. 2. ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2011, p. 137 -179.
SARTRE, J. P. La nausée. Paris: Gallimard, 1938.
SARTRE, J. P. La Transcendence de l’Ego: esquisse d’une description phénoménologique, Paris: Recherches Philosofiques, n. 6, 1936-37, p. 85-123.
SARTRE, J. P. Critique de la raison dialectique. Tome I: Théorie des ensembles pratiques. Paris Gallimard, 1960.
SARTRE, J. P. Les Mots. Paris: Gallimard, 1964.
SARTRE, J. P. L’Idiot de la Famille: Gustave Flaubert de 1821 a 1857. Paris: Gallimard, 1971-72.
SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo: a imaginação: questão de método. Tradução: Rita Correia Guedes; Luiz Roberto Salinas Forte; Bento Prado Junior. São Paulo: Nova Cultural, 1987.
SARTRE, J. P. La Transcendence de l’Ego: esquisse d’une déscription phénoménologique, Paris: Vrin, 1988.
SARTRE, J. P. A questão de método. In: SARTRE, J. P. Crítica da razão dialética: precedido por questões de método. Rio de janeiro: DP&A, 2002.
SARTRE, J. P. O idiota da família. v. 1, Tradução: Julia da Rosa Simões. Porto Alegre: L&PM, 2013.
SZASZ, T. S. A fabricação da loucura. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1978a.
SZASZ, T. S. Esquizofrenia: o símbolo sagrado da psiquiatria. Rio de Janeiro: Zahar, 1978b.
SZASZ, T. S. O mito da doença mental: fundamento de uma teoria da conduta pessoal. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.
ZORZANELLI, R. T.; ORTEGA, F.; JÚNIOR, B. B. Um panorama sobre as variações em torno do conceito de medicalização entre 1950-2010. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 19, n. 6, p. 1859-1868, jun. 2014.
ZUCOLOTO, P. C. S. V. O médico higienista na escola: as origens históricas da medicalização do fracasso escolar, Revista Brasileira Crescimento Desenvolvimento Humano, São Paulo, v. 17, n. 1, p. 136-145, abr. 2007.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Os Direitos Autorais para artigos publicados neste periódico são do autor, com direitos de primeira publicação para a Revista. Em virtude de aparecerem nesta Revista de acesso público, os artigos são de uso gratuito, com atribuições próprias, em aplicações educacionais, de exercício profissional e para gestão pública. A Revista adotou a Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional. Esta licença permite copiar, distribuir e reproduzir em qualquer meio, bem como adaptar, transformar e criar a partir deste material, desde que para fins não comerciais e que seja fornecido o devido crédito aos autores e a fonte, inserido um link para a Licença Creative Commons e indicado se mudanças foram feitas. Nesses casos, nenhuma permissão é necessária por parte dos autores ou dos editores. Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou um capítulo de livro).