Armadilha da identidade e crítica ao empreendedorismo social: a exploração da opressão
DOI:
https://doi.org/10.1590/1982-0259.2022.e84255Resumen
Objetiva-se refletir sobre como o desdobramento das “questões identitárias” encontrou terreno fértil para difusão social ao ser combinado com a ideologia do empreendedorismo, como se a solução para as opressões passasse pela disseminação de um pretenso “espírito empreendedor” como meio de inclusão das minorias sociais que historicamente têm tido dificuldades para vender e reproduzir sua força de trabalho. Tais práticas culminaram o chamado empreendedorismo social que engloba variantes como empreendedorismo negro, na favela, feminino, entre outros e que vem sendo aludido por setores progressistas como uma ação inclusiva e de combate ao preconceito. Dentre as reflexões, demonstra-se que se trata da expressão da conjugação eficaz do capital ao se valer da opressão constituída historicamente para ampliar a exploração e alerta-se, que desconsiderar as condições materiais de existência, ocultando a ampliação da exploração dessas populações, pode se tornar uma armadilha que amplia a opressão, eis a armadilha da identidade.
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