Memórias do salazarismo em o "Vale da Paixão", de Lídia Jorge
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7917.2014v19n2p77Resumen
Este artigo apresenta uma leitura do romance O Vale da Paixão, de Lídia Jorge, a partir da perspectiva das memórias pós-ditadura. Por este viés, examina-se a relação entre a família que protagoniza a trama, os Dias, e o salazarismo, regime de exceção vivido em Portugal. Para tanto, são destacados elementos que traem as simetrias entre os sistemas analisados (familiar e estatal-ditatorial) e mostram como o salazarismo é constituinte da narrativa. Assim, verifica-se em que medida a família portuguesa retratada no romance serve como meio simbólico de representação da situação social de Portugal durante a ditadura, vez que no grupo familiar podem ser percebidos todos os aspectos do regime, tal como: a obediência das massas, a subversão das minorias, a dominação, a restrição das liberdades fundamentais. As memórias da ditadura são reveladas como elemento integrante das memórias da família: há duas memórias mobilizadas de forma intrincada e rememoradas indistintamente. Pretende-se demonstrar, com isso, que a família Dias obedece a uma estrutura específica e tradicional que apresenta íntima relação com estrutura política do Estado português no período em que se passa a diegese. A análise exposta encontra aporte teórico em obras de Tzetan Todorov, de Beatriz Sarlo e de Michel Pollak.
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