Redes agroalimentares alternativas e consumo crítico: o caso das feiras orgânicas de Porto Alegre

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-7984.2020v19n44p172

Resumo

As quatro últimas décadas coincidem com a aparição do que se convencionou chamar “redes agroalimentares alternativas”. Os inúmeros escândalos, a incerteza generalizada e a busca por alimentos mais saudáveis figuram em destaque, dentro de um movimento mais amplo denominado “turn of quality”, onde a ideia de qualidade ultrapassa os atributos estritos e tangíveis do produto. As feiras orgânicas de Porto Alegre se inserem dentro das transformações que incidem sobre o mundo da alimentação em geral. O foco do estudo é elucidar as circunstâncias que contribuíram para o seu surgimento, assim como as mutações que esse sistema local de abastecimento experimenta desde o seu surgimento. A pesquisa busca mostrar que as feiras orgânicas consistem num espaço social singular onde operam muito mais do que operações de compra e venda de alimentos. Não obstante, há desafios em relação ao futuro, especialmente os desdobramentos decorrentes do incremento da demanda e risco de convencionalização.

Biografia do Autor

Graciela Cristina Dillemburg Martil, Programa de Pós-Graduação em Sociologia - UFPel

Depto Ciências Sociais Agrárias - UFPel

Flávio Sacco dos Anjos, Universidade Federal de Pelotas

Depto Ciências Sociais Agrárias

Programa de Pós-graduação em Sistemas de Produção Agrícola Familiar - UFPel

Programa de Pós-Graduação em Sociologia - UFPel

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2020-04-30

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Artigos