Entre o remédio e o corpo inquieto: de qual infantil falamos?
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7984.2021.e75312Resumo
Tendo como temática a medicalização na educação, embasado na psicanálise freudiana, o presente trabalho visa a promover uma reflexão sobre as estratégias medicalizantes de educadores quanto a um aluno dito inquieto, ocorridas ao longo de um estudo de caso. Parte da hipótese que tanto o ideário de infantil do adulto educador quanto o de corpo podem estar articulados a um discurso que compreende a inquietude sobretudo por um viés que reduz a compreensão de comportamentos ao uso/não uso do medicamento. Apresenta, como possível resultado, os efeitos na relação adulto-criança que as concepções medicalizantes ensejam: individualização, redução da compreensão ampliada e relacional da questão, patologização do comportamento e desresponsabilização da escola.
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