Entre o remédio e o corpo inquieto: de qual infantil falamos?

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-7984.2021.e75312

Resumo

Tendo como temática a medicalização na educação, embasado na psicanálise freudiana, o presente trabalho visa a promover uma reflexão sobre as estratégias medicalizantes de educadores quanto a um aluno dito inquieto, ocorridas ao longo de um estudo de caso. Parte da hipótese que tanto o ideário de infantil do adulto educador quanto o de corpo podem estar articulados a um discurso que compreende a inquietude sobretudo por um viés que reduz a compreensão de comportamentos ao uso/não uso do medicamento. Apresenta, como possível resultado, os efeitos na relação adulto-criança que as concepções medicalizantes ensejam: individualização, redução da compreensão ampliada e relacional da questão, patologização do comportamento e desresponsabilização da escola.

Biografia do Autor

Cristiana Carneiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Psicanalista. Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1992), especialização em Psicanálise pela Universidade Santa Úrsula (1997), mestrado em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1997) e doutorado em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2002). Foi professora do curso de Especialização em Psicanálise da Associação Universitária Santa Úrsula e do Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro até 2009. Atualmente é Professora Adjunta da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro e coordenadora do NIPIAC (Núcleo Interdisciplinar de Estudo e Pesquisa para a Infância e Adolescência Contemporâneas).

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Publicado

2021-07-16